Investir em educação gera resultados além dos mensurados em testes, mostram estudos

Publicado por Sinepe/PR em

De que adianta aumentar o investimento em educação se os indicadores de aprendizagem não melhorarem? Esse é um questionamento legítimo, que gera debates no mundo inteiro. Uma nova leva de estudos internacionais, porém, reforça que é um erro olhar apenas para o que pode ser mensurado em testes. O mais recente deles foi divulgado na semana passada pelos pesquisadores Guthrie Gray-Lobe (Universidade de Chicago), Parag Pathak (MIT) e Christopher Walters (Berkeley), que avaliaram o impacto da ampliação de pré-escolas na cidade de Boston (EUA) na década de 90.

Ao compararem grupos beneficiados com outros que ficaram de fora das pré-escolas, os autores identificaram que não houve diferença significativa no desempenho medido em testes. No entanto, como a pesquisa acompanhou esses grupos ao longo da vida, foi possível perceber que ter tido acesso à pré-escola fez diferença significativa em termos de maior conclusão do ensino médio, acesso ao ensino superior, menores taxas de suspensão por indisciplina e de envolvimento em crimes. A pesquisa reforça o que outras feitas com intervenções de pequeno porte já mostravam, mas é relevante por identificar esses efeitos numa política pública em larga escala.

Outro trabalho recente foi divulgado em fevereiro deste ano pelos economistas Kirabo Jackson e Claire Mackevicius (ambos da Universidade NorthWestern). Os autores revisaram estudos que investigaram as consequências do aumento dos investimentos em educação no longo prazo. De 31 analisados, 29 identificaram impacto positivo. Novamente, os ganhos mais relevantes não foram em notas, mas em variáveis como o aumento nas taxas de conclusão do ensino médio e de acesso ao ensino superior, o que levou os autores a concluírem que “os impactos medidos apenas por testes subestimam resultados do investimento em escolas”.

Ao analisar dados históricos de aumento de investimentos em distritos escolares nos Estados Unidos, outro estudo de Jackson concluiu que, já na vida adulta, os americanos beneficiados por esse gasto maior durante toda a sua trajetória escolar tiveram melhores níveis de renda e menores taxas de desemprego, pobreza e envolvimento em crimes na comparação com grupos de características similares, mas que estudaram nas mesmas escolas antes do aumento dos investimentos. Esses resultados positivos foram ainda mais robustos nos grupos mais vulneráveis e que se beneficiaram desde a pré-escola. (veja abaixo uma apresentação desses estudos, em inglês, feita por Jackson)

Ainda que não tenham sido feitos com a mesma metodologia, também há estudos no Brasil que mostram que o aumento da escolarização é associado à melhoria em indicadores que vão além da escola, como renda, emprego, criminalidade e saúde.

A conclusão de que testes, isoladamente, são instrumentos limitados para avaliar o retorno do investimento não significa que devemos abandoná-los, pois eles captam também uma dimensão importante do que se espera das escolas. O recado mais claro desses estudos é que não devemos basear nossas decisões de investimento olhando apenas para aquilo que pode ser mensurado em provas.

A constatação de que o aumento do investimento em educação gera resultados que vão além dos mensurados por testes tampouco significa que colocar mais dinheiro no sistema vai sempre trazer benefícios. Como argumentam autores dos estudos citados, tão importante quanto debater quanto se gasta é entender como se gasta e identificar as políticas mais eficientes.

Por: O Globo