Com intencionalidade pedagógica, o momento das refeições na Educação Infantil pode estimular o desenvolvimento envolvendo diferentes campos de experiência

Anunciar que é hora de comer é o suficiente para agitar as crianças, não é mesmo? Ou basta os bebês verem a movimentação de organização do espaço e sentirem o cheirinho do alimento e pronto, é aquele alvoroço.

Esses momentos vão além do valor nutritivo – especialmente sabendo que para muitas crianças a refeição que fazem na escola pode ser a principal (ou única) que têm no dia. Também há aspectos sociais e cognitivos que envolvem a ação de se reunir em volta de uma mesa.

Por exemplo, se a criança não tem um bom ambiente relacional em casa no momento da refeição, é possível que surjam dificuldades. Também estão aquelas que apresentam seletividade alimentar (condição em que a pessoa come apenas determinados alimentos e há uma aversão por experimentar ou comer outros tipos de comida) – muito comum entre crianças com Transtorno do Espectro Autista. Basta irmos a um restaurante para vermos como as crianças estão se relacionando com a alimentação nos contextos sociais, inclusive perceber como a maioria tem como suporte de distração as telas de celulares e tablets, deixando de prestar atenção no ato de comer ou em socializar na mesa.

Cuidados para pensar os momentos de alimentação na escola

Dessa forma, ficou fácil de perceber que organizar momentos de alimentação envolve aspectos físicos, sociais e cognitivos. É papel da escola, desde a Educação Infantil, contribuir para essas experiências e aprendizagens, de forma a construir hábitos saudáveis.

Caso a escola forneça a alimentação, ela tem de ser desenvolvida por uma equipe nutricional que cuide do valor educativo do cardápio do que é oferecido. Se as famílias enviam lanche, é importante ter combinados com os responsáveis a respeito do que colocar na lancheira.

Quando pensamos no momento em si da alimentação, é importante planejar a atividade, estando atento ao tempo e ao espaço.

Por exemplo, em uma escola em que várias turmas ocupam o mesmo espaço, geralmente é feito um cronograma. Nesse modelo, é comum enriquecer a ação e limitar a independência da criança para realizar escolhas, experimentar com múltiplos sentidos o alimento envolvendo seu cheiro, textura e sabor, por uma necessidade de cumprir os acordos feitos pelos adultos. Ao tornar as refeições um momento meramente mecânico, perde-se a oportunidade de desenvolver aprendizagens importantes para o desenvolvimento dos pequenos.

Como potencializar as aprendizagens durante a rotina da Educação Infantil
Separei cinco sugestões que podem te auxiliar a aproveitar o momento de alimentação para oportunizar experiências ricas para as crianças.

Planeje o espaço, tempo e materiais

Assim como em qualquer outro momento da rotina, a organização precisa partir da escuta das crianças e do atendimento de suas necessidades. Você pode organizar rodas de conversa para que as crianças se expressem e compartilhem seus gostos.

Criar essa atmosfera de compromisso coletivo que ajudará as crianças a aprenderem sobre si e sobre os outros durante essa prática tão importante que envolve o ato de se alimentar.

Criar uma expectativa pelo que vão comer

Trabalhar com antecipações tem resultados excelentes com todas as crianças. Por isso é importante que antes da refeição em si haja um período da espera e do desejo por ela. Portanto, é muito importante que o professor tenha acesso ao cardápio da semana e compartilhe essas informações em sala, de acordo com a faixa etária.

Por exemplo, para os bebês é possível trazer alguns legumes e verduras para a sala como proposta de experiência sensorial. Para as crianças pequenas, além do contato, pode-se trabalhar com imagens e listas de palavras do cardápio. As condições para estimular o contato e criar uma boa aceitabilidade começa bem antes da hora de comer.

Envolver as crianças na atividade

Participar da preparação do momento da alimentação promove o desenvolvimento do cuidado, pertencimento, segurança e prazer ao alimentar-se.

Essa participação pode se dar com tarefas de organização do espaço do momento da refeição com a separação dos pratos e talheres e colocando toalhas nas mesas, sendo possível envolver aprendizagens matemáticas por meio da contagem.

Elas também podem ser responsáveis por decorar a mesa como, por exemplo, confeccionando pequenos arranjos para a mesa como potes reutilizados com flores, folhas e hortaliças colhidas na horta ou trazidas por algumas famílias da própria casa.

Além da própria organização do espaço, é interessante criar situações para que as crianças tenham participação ativa no cotidiano da alimentação como na separação de grãos, descascar frutas e verduras e apoiar com a higienização adequada. Essa também é uma oportunidade de desenvolver habilidades manuais mais específicas como cortar, picar, amassar, enrolar e organizar a apresentação do prato.

Criar e cuidar de uma horta escolar

O foco aqui não é garantir a produção, mas permitir que os pequenos tenham contato com a terra, com os cuidados necessários para cada planta se desenvolver, aprender a respeitar e viver bem o tempo de cada etapa e, por fim, a colheita e partilha do alimento.

As aprendizagens aqui proporcionadas envolvem múltiplos campos de experiências e objetivos como os que envolvem texturas, cores, formas, quantidades, transformações e noções temporais.

Promover a interação entre as crianças

Faça uma análise de como as crianças interagem nesses momentos, para identificar aspectos que merecem atenção.

É possível que não estejam em sintonia com esse momento ou não foram adequadamente informados em todos os seus sentidos e sensações. Essa observação pode evidenciar a necessidade de investir nas sugestões anteriores com mais efetividade (ou pensar em outras estratégias.)

A maneira como se comunicam durante as refeições deve revelar segurança e tranquilidade. O resultado é reflexo do contexto de toda a rotina.

Portanto professor, leve para o seu planejamento essas questões para favorecer aprendizagens significativas para além daquele prazer de estar provando um alimento gostoso.

Por: Nova Escola