Por que tablets, laptops e celulares não vão salvar a educação pós-pandemia

Publicado por Sinepe/PR em

As tecnologias da informação e da comunicação (TICs) se mostraram imprescindíveis para tornar possível o processo de ensino-aprendizagem durante a pandemia. Mas ainda que tenham servido como ferramenta em meio à situação epidêmica, por si só, elas têm alcance limitado como política pública. É o que apontam alguns especialistas. Ações isoladas — como a compra de tablets, laptops ou a adoção de uma plataforma, a exemplo do que têm proposto figuras públicas —, sem intenção pedagógica, não provocam resultados transformadores na educação.

É preciso que, com o retorno das atividades presenciais, tais ferramentas sejam reconhecidas como acessórias no processo central da educação, apontam educadores. Mais do que os meios, o importante é o que se ensina. “Tablets, laptops, quadro, giz são meios de se fazer chegar conteúdos e atividades para os alunos e também para a formação didática de docentes e/ou pais. Nada mais que isso”, afirma Ilona Beckeházy, ex-secretária de Educação Básica do MEC, mestre e doutora em política educacional. O uso ideal das TICs na educação baseado em conhecimento científico, de modo que favoreçam a aprendizagem, passa, sobretudo, pela intencionalidade pedagógica.

“As evidências mostram que todos os programas de universalização de computadores e tablets não tiverem impacto nos sistemas educacionais. As razões para isso estão abundantemente documentadas na literatura”, afirma João Batista Oliveira e Araujo, presidente do Instituto Alfa e Beto. O especialista aponta duas questões principais: “a primeira é que, para professores de qualidade, a tecnologia acrescenta pouco. E dificilmente ela supera a qualidade do bom professor. No outro oposto, o sucesso depende da qualidade dos programas usados (software) e do modo de utilização – o que raramente está incluído nos grandes programas de distribuição de hardware (hoje em dia o equivalente disso é o 5G)”, diz.

Não só é preciso colocar a tecnologia em seu devido lugar como ter atenção aos efeitos deletérios que ela pode ter. O relatório da OCDE “Students, Computers and Learnin: making the connection”, de 2015, traz evidências importantes como 1) alunos de países que investem pesado em TICs na educação não apresentam melhora considerável de habilidade nos campos da leitura, matemática ou ciência, 2) a tecnologia é de pouca ajuda para reduzir o hiato de desigualdade educacional entre alunos favorecidos e desfavorecidos e 3) a realidade das escolas está consideravelmente aquém da transformação prometida pela tecnologia.

A pesquisa não apenas questiona o valor das TICs como indutor de desempenho acadêmico dos alunos, mas chega a responsabilizar as ferramentas pelo baixo desempenho dos estudantes obtidos em testes como o Pisa. Dois outros desafios ligados à tecnologia são a fiscalização e a transparência.

O MEC tem sido cobrado a apresentar uma estratégia nacional de conectividade, mas tem sido criticado pela passividade e falta de propostas. Saiba, ao fim da matéria, o que pretende a pasta para a área.

Por: Gazeta do Povo