Como legitimar o papel das IES privadas em eventos como o Cres+5?

Publicado por Sinepe/PR em

Clima hostil com o setor privado marca o último dia de conferência

A Cres+5 é um evento organizado pelo Ministério da Educação (MEC) e pelo Instituto Internacional da Unesco para a Educação Superior na América Latina e no Caribe (Unesco IESALC) para debater o futuro da educação superior. A educação superior é composta, nestes países, por organizações públicas e privadas, sendo que atualmente as privadas possuem mais de 50% do número de estudantes matriculados. No Brasil este número é ainda maior, mais de 70% das matrículas estão nas IES privadas em diferentes modalidades.

Considerando este cenário, não seria relevante o envolvimento de profissionais, lideranças e estudantes representando esta parcela da educação? Acredito que sim, mas praticamente não haviam representantes do setor privado ou comunitárias nos 12 eixos formados para discutir o futuro da educação superior.

Não tivemos representatividade de estudantes das instituições privadas, sem fins lucrativos, filantrópicas, com fins lucrativos, confessionais e comunitárias que representam a riqueza e diversidade da formação superior destes países.

O resultado disso foram alguns discursos enviesados, com críticas duras à educação privada, ao uso da tecnologia e às práticas de inovação. Observou-se falas em tom elevado, que se agarravam a um desejo de manutenção dos modelos de educação superior, desconsiderando os cenários e desafios atuais. Por exemplo, falou-se muito pouco, sobre o impacto das tecnologias na aprendizagem e no futuro do trabalho, flexibilização curricular, os avanços nas pesquisas sobre a neuroaprendizagem e novas metodologias para o ensino.

Durante a manhã de sexta-feira, representantes das IES privadas, se reuniram para discutir os resultados da CRES+5. Foi unânime a preocupação com os debates exclusivos e discriminatórios. Para Rodrigo Capelato, diretor executivo do Semesp, “precisamos participar das discussões e analisar o sistema sob a ótica do sistema todo, formado por 78% em instituições privadas e não somente por 22% de públicas.”

Para Fábio Reis, diretor de inovação e redes do Semesp e presidente do Consórcio Sthem Brasil, único representante do setor privado a ser convidado para participar da produção do documento, “a CRES+5 foi um momento rico de discussão sobre o ensino superior na América Latina e Caribe. Houve também tensões. De um lado, um grupo que faz críticas ao setor privado, mas não o entende, do outro, uma tentativa de explicar a relevância do setor privado, seu papel social e sua diversidade. Em eventos como a CRES, é preciso que o setor privado tenha mais voz.”

A polarização, fruto de uma “sociedade da opinião”, sem conhecimento ou informação, geram discursos dicotomizados entre instituições públicas e privadas, e estão longe de produzir diálogos de consensos. Precisamos ampliar as vozes e convidar todos para a construção de debates legítimos que favoreçam diálogos com diferentes segmentos, reconhecendo o seu impacto na construção de uma educação inclusiva e de qualidade.

A conferência final “Universidade hoje”, proferida pelo professor José Geraldo de Souza Júnior, da Faculdade de Direito e ex-reitor da UnB, acrescentou reflexões sobre como a história comum que une os países da América Latina e Caribe, especialmente o impacto do colonialismo e a visão acadêmica eurocêntrica, pode contribuir para criar um destino também compartilhado e desejoso de emancipação e descolonização.

Por: Revista Ensino Superior