Dia da Mulher: como trabalhar o tema nos diferentes componentes curriculares

Publicado por Sinepe/PR em

Professoras dos Anos Finais do Ensino Fundamental sugerem atividades de Ciências, Geografia, História, Linguagens e Matemática

O Dia da Mulher tem origem no século 19, quando operárias se organizaram em busca de igualdade e melhores condições de trabalho e salário em fábricas dos Estados Unidos e da Europa. Esses movimentos se espalharam pelo planeta e superaram fronteiras de espaço, tempo e ideologia. Assim, o 8 de março se tornou uma data mundial para refletirmos sobre a participação feminina na sociedade, suas conquistas e desafios.

Pensando nisso, NOVA ESCOLA convidou professoras dos Anos Finais do Ensino Fundamental, de diferentes lugares do Brasil, para sugerir atividades que trabalhem a questão de gênero nos principais componentes curriculares dessa etapa: Ciências, Geografia, História, Linguagens e Matemática. Todas as propostas estão alinhadas à Base Nacional Comum Curricular (BNCC). Confira a seguir:

Ciências, meninos e meninas

Esta sequência didática foi elaborada por Heide Maria Rodrigues Rocha Perdigão, professora de Ciências da EE Padre Paulo, em Santo Antônio do Monte (MG). “O objetivo das atividades é estimular o aluno a repensar sua postura e conduta em relação às meninas e às mulheres, além de construir a ideia de unidade e respeito mútuo dentro e fora do ambiente escolar”, comenta a professora.

Habilidades da BNCC trabalhadas

EF08CI08 – Analisar e explicar as transformações que ocorrem na puberdade considerando a atuação dos hormônios sexuais e do sistema nervoso.

EF08CI11 – Selecionar argumentos que evidenciem as múltiplas dimensões da sexualidade humana (biológica, sociocultural, afetiva e ética).

Orientações gerais

Reunir informações e embasamento teórico para abordar o tema de maneira imparcial e democrática, preparando-se para possíveis questionamentos.

Desenvolvimento
1.ª etapa: brainstorming

O professor introduz o assunto e estimula os alunos a falarem o que sabem ou já ouviram a respeito do tema. Esse é um momento de escuta, em que a turma deve se sentir à vontade para se expressar. Faça algumas perguntas como:

  • O que é diversidade?
  • O que é gênero?
  • Por que meninos e meninas são diferentes?
  • Homens e mulheres podem fazer as mesmas coisas?

2.ª etapa: fundamentação teórica

Com base na participação dos alunos, o professor deve fazer a mediação dos comentários e complementar com informações sobre a constituição biológica que diferencia homens e mulheres. Em seguida, ele pode abordar a questão da diversidade de gêneros.

O foco é mostrar que existem diferenças físicas, mas, emocionalmente e cognitivamente, homens e mulheres são iguais, independentemente de raça, crença ou gênero. Apresente materiais impressos ou digitais de fontes confiáveis, como infográficos, imagens e textos baseados em pesquisas científicas e fatos.

3.ª etapa: prática

A sugestão é desenvolver a atividade em local aberto, como quadra ou pátio da escola. Para garantir a boa distribuição e aproveitamento do tempo, o professor deve organizar previamente todo material que será utilizado.

Posicione duas mesas de frente uma para outra. Coloque vários tipos de miçangas de diferentes tamanhos em duas bandejas e deixe cada uma em cima de uma mesa. Também disponha sobre as mesas linha, agulha e durex para cada grupo.

Separe a turma em duplas só de meninos e só de meninas, dividindo-os também em dois grupos (cada grupo só com um tipo de dupla). Peça que duas duplas por vez (uma de meninos e outra de meninas), usando apenas a ponta da agulha, selecionem as menores miçangas da mesma cor e formem uma pulseira (cerca de 20 miçangas) com a linha.

Após finalizarem, as duplas devem colar a pulseira acima do quadro (se a atividade acontecer na sala) ou em outro lugar determinado (se for realizada fora da sala).

Depois, repita a prática, agora trocando os pares, sendo que cada grupo terá duplas de meninos e meninas.

O tempo da atividade deve ser cronometrado, e ganha a dinâmica quem concluir a tarefa mais rápido. Também é possível determinar um limite de tempo para a execução da atividade.

4.ª etapa: reflexão e avaliação

A partir do resultado da prática, o professor deve evidenciar que cada pessoa (menina ou menino) possui aptidões que o outro pode não ter. Mas, quando se trabalha em conjunto, habilidades inerentes a cada um (independentemente do sexo) podem se mostrar, levando a diferentes resultados.

Heide considera que os alunos das gerações Z (nascidos entre 1996 e 2010) e alfa (a partir de 2010) têm todas as informações disponíveis e debatidas nas redes sociais. Diante disso, o papel da escola é mostrar ao aluno o que é correto e aceitável e o que é fake news, discurso de ódio e preconceito. “Eles gostam de temas como esse e, em geral, adoram expressar suas opiniões”, diz.

Geografia e mulheres latinas

Esta atividade foi elaborada por Jéssica Machado dos Santos, professora de Geografia dos Anos Finais da rede pública de Ribeirão Preto (SP). Ela participou da websérie ProfessoreZ, da NOVA ESCOLA.

Habilidade da BNCC trabalhada

EF08GE03 – Analisar aspectos representativos da dinâmica demográfica, considerando características da população (perfil etário, crescimento vegetativo e mobilidade espacial).

Orientações gerais
O plano foi desenvolvido para uma aula de, aproximadamente, duas horas, e a metodologia escolhida foi a rotação por estações, visando diferentes tipos de aprendizagens. A qualidade da bibliografia é determinante para o melhor aproveitamento da atividade.

Desenvolvimento
1.ª etapa: contato com o material

Imprima fotos e uma biografia breve de quatro mulheres importantes em processos de independência na América Latina e exponha-as em pontos distintos da sala. Divida a turma em quatro grupos para fazerem leituras e anotações sobre cada uma. Nesse processo, cada grupo deve ficar cerca de 10 minutos em uma estação.

Sugestões de mulheres para a atividade:

  • Micaela Bastidas, líder indígena e revolucionária peruana que desempenhou papel significativo durante o processo de independência do Peru, no século 18.
  • Maria Quitéria de Jesus, brasileira de Feira de Santana (BA) que participou ativamente da luta pela independência do Brasil, no século 19.
  • Juana Azurduy de Padilla, líder indígena boliviana conhecida por sua coragem e liderança durante as lutas pela independência contra o domínio espanhol na América do Sul.
  • Marie-Jeanne Lamartinière, mulher negra que se destacou durante a Revolução Haitiana, um dos eventos mais importantes da luta pela liberdade e emancipação dos escravos.

2.ª etapa: exposição

Cada grupo escolhe uma mulher da América Latina para apresentar à sala.

3.ª etapa: arguição

O professor faz perguntas à turma sobre cada uma das quatro mulheres. Exemplos de questões gerais (comuns a todas):

  • Quem foi ela?
  • Ela teve papel de destaque no processo de independência? Por quê?
    Exemplos de questões específicas (para cada mulher):
  • Por qual motivo Micaela Bastidas foi condenada à morte?
  • Por qual motivo Maria Quitéria de Jesus foi condecorada pelo imperador Dom Pedro I?
  • Por qual motivo Juana Azurduy de Padilla teve o reconhecimento de Simón Bolívar, um dos libertadores da América?
  • Por que Marie-Jeanne Lamartinière é considerada uma heroína da Revolução Haitiana?
    4° etapa: finalização

Solicite que o grupo indique no mapa da América Latina (que pode estar impresso e colado na parede em versão ampliada) o país que cada uma representa. Jéssica explica que a atividade mostra que as mulheres sempre estiveram inseridas em todos os contextos, inclusive geopolíticos. “A tentativa de invisibilizar essas personagens, negras e latinas em especial, é enorme. Por isso, é tão importante fazer um resgate histórico, geográfico e olhar os processos de independência que estavam acontecendo”, reforça.

História e direitos das mulheres

As atividades foram elaboradas por Sandra Balbueno de Oliveira de Vargas, professora da rede municipal e estadual do município de Caarapó (MS), com experiência em Educação escolar indígena e do campo.

Para tornar a discussão sobre gênero mais inclusiva, Sandra acredita que é necessário haver adesão de toda a equipe docente, além de abordar as diferentes realidades das mulheres, como daquelas que estão em situação de risco e vulnerabilidade.

Habilidade da BNCC trabalhada

EF05HI02 – Identificar os mecanismos de organização do poder político com vistas à compreensão da ideia de Estado e/ou de outras formas de ordenação social.

Orientações gerais

As atividades podem ser desenvolvidas em vários encontros e com turmas distintas simultaneamente.

Desenvolvimento
1.ª etapa: roda de conversa

Converse com os alunos em sala de aula sobre a importância da data a partir de um texto que resgate a história dos direitos das mulheres no Brasil. Ao final da roda de conversa, cada turma escolherá uma aluna representante que vai listar o que foi sugerido como ação para um tratamento com respeito e humanidade às mulheres.

2.ª etapa: elaboração de cartazes

As turmas devem utilizar sua criatividade na elaboração de cartazes com frases e desenhos sobre os direitos das mulheres, que serão apresentados ao final de toda a ação. A sugestão é dividir os alunos em quatro grupos.

3.ª etapa: protagonismo

Estudantes do 6º ao 9º Ano do Ensino Fundamental se reúnem no dia 8 de março para apresentar o que fizeram nas duas etapas anteriores. Cada aluna representante da turma irá ler aos seus colegas o resultado do que construíram juntos, e é feita a exposição dos cartazes.

4.ª etapa: considerações finais

Finalizada as apresentações, o professor de História reforça a importância desses momentos de estudos e reflexão sobre a presença da mulher na sociedade e a sua luta por direitos.

Sandra sugere ainda que todos plantem girassóis nas imediações da escola, como símbolo do combate à violência e à discriminação contra as mulheres. “Todas essas atividades visam oportunizar espaço para debater o tema, mobilizar ações e desafiar os estudantes na sua formação pessoal e humana, bem como em sua autonomia e protagonismo no aprendizado”, defende.

Linguagens e narrativas de ficção

Esta sequência foi desenvolvida pela professora Ana Cláudia Santos, que atua nos Anos Finais do Ensino Fundamental na rede estadual de Minas Gerais. Colunista de NOVA ESCOLA, ela pontua que a ficção é um dos instrumentos usados para debater e discutir temas sociais contemporâneos.

Habilidades da BNCC trabalhadas

EF89LP33 – Ler, de forma autônoma, e compreender – selecionando procedimentos e estratégias de leitura adequados a diferentes objetivos e levando em conta características dos gêneros e suportes – romances, contos contemporâneos, minicontos (…), dentre outros, expressando avaliação sobre o texto lido e estabelecendo preferências por gêneros, temas, autores.

EF89LP35 – Criar contos ou crônicas (em especial, líricas), crônicas visuais, minicontos, narrativas de aventura e de ficção científica, dentre outros, com temáticas próprias ao gênero, usando os conhecimentos sobre os constituintes estruturais e recursos expressivos típicos dos gêneros narrativos pretendidos, e, no caso de produção em grupo, ferramentas de escrita colaborativa.

EF89LP37 – Analisar os efeitos de sentido do uso de figuras de linguagem como ironia, eufemismo, antítese, aliteração, assonância, dentre outras.

Orientações gerais

A professora sugere utilizar a Taxonomia de Bloom para iniciar a atividade. Ou seja, retomar os objetivos educacionais e colocar a aprendizagem como um processo em etapas. A taxonomia organiza habilidades que vão desde as mais simples até as mais complexas. Os seis níveis, em ordem crescente de complexidade, são: lembrar, compreender, aplicar, analisar, avaliar e criar.

Desenvolvimento
1.ª etapa: apresentação do tema

Contextualize a turma sobre a presença das mulheres na literatura. Lembre os alunos que a primeira cronista e novelista brasileira foi Ana de Barandas, que teve seu desejo de igualdade entre os sexos externando na obra O Ramalhete, publicada durante o Romantismo.

Se julgar necessário, faça a análise de alguns trechos, resgate ainda nomes de pioneiras, como Nísia Floresta e Maria Firmina dos Reis, e pergunte se lembram de outras referências.

2.ª etapa: estimulando a reflexão

Para compreender melhor como a figura feminina transita pela literatura e deixa seu legado, proponha a leitura e a análise de alguns contos, como D. Benedita, Clara dos Anjos e outras mulheres, de Machado de Assis, e O conto da mulher brasileira, coletânea organizada por Edla Van Steen.

De acordo com a maturidade da turma, analise como Machado de Assis descreve a figura feminina: ora com ar de menina-mulher, ora como moça dotada de grande pureza ou, ainda, com ironia, ao fazer referência às virtudes e aos atributos físicos.

Outra sugestão é a coletânea Sete faces da mulher, que aborda a sensibilidade da alma feminina, apresentando-a de forma caricata.

3.ª etapa: prática

Peça aos alunos que relacionem, a partir das mulheres com as quais se identificaram nos contos lidos, figuras reais que circulam em nosso meio, sejam elas do convívio diário ou presentes na grande mídia. Organize um mural onde possam expor o resultado da pesquisa e argumentar oralmente sobre as escolhas feitas.

Analise letras de músicas e imagens veiculadas no cotidiano e como elas valorizam, potencializam ou diminuem a figura da mulher. Sugira ainda que os alunos apresentem perfis de mulheres que tenham relação com a emancipação feminina na sociedade e justifiquem suas escolhas com base em pesquisas.

Oriente a criação de narrativas de ficção que serão roteirizadas e transformadas em podcasts.

4.ª etapa: avaliação

Crie rubricas que deixem claro como se dará o processo de aplicação da atividade. Ao final, o professor vai avaliar se o aluno foi capaz de relacionar o tema de estudo com o podcast ficcional produzido.

Matemática e as famílias lideradas por mulheres

Esta atividade foi elaborada por Audray Silveira, professora de Matemática dos Anos Finais do Ensino Fundamental na EMEF Iraci Rodrigues de Farias Melo, em Mogeiro (PB).

Habilidades da BNCC trabalhadas
EF08MA04 – Resolver e elaborar problemas, envolvendo cálculo de porcentagens, incluindo o uso de tecnologias digitais.

EF08MA23 – Avaliar a adequação de diferentes tipos de gráficos para representar um conjunto de dados de uma pesquisa.

EF09MA05 – Resolver e elaborar problemas que envolvam porcentagens, com a ideia de aplicação de percentuais sucessivos e a determinação das taxas percentuais, preferencialmente com o uso de tecnologias digitais, no contexto da educação financeira.

EF09MA21 – Analisar e identificar, em gráficos divulgados pela mídia, os elementos que podem induzir, às vezes propositadamente, erros de leitura, como escalas inapropriadas, legendas não explicitadas corretamente, omissão de informações importantes (fontes e datas), entre outros.

EF09MA22 – Escolher e construir o gráfico mais adequado (colunas, setores, linhas), com ou sem uso de planilhas eletrônicas, para apresentar um determinado conjunto de dados, destacando aspectos como as medidas de tendência central.

Orientações gerais

O objetivo central da atividade, desenvolvida de forma interdisciplinar com História, é a pesquisa sobre famílias monoparentais, em que a mulher figura como chefe familiar.

Desenvolvimento
1.ª etapa: apresentação do tema

Apresente aos alunos, por meio de recursos multimídia e reportagens escolhidas junto ao professor de História, conteúdos que mostrem o crescimento do percentual de mulheres como chefes de família. Proponha que iniciem discussões em grupos, em que eles possam identificar essas situações e comparar com a realidade deles.

2.ª etapa: prática

Peça que realizem pesquisas em grupo sobre os percentuais de mulheres que são chefes de família. Cada grupo deverá investigar uma região brasileira. Depois, todos vão elaborar infográficos com os dados encontrados, que podem ser feitos manualmente, utilizando cartolinas, recortes de revistas e canetas coloridas.

3.ª etapa: análise e reflexão

Os alunos apresentam suas pesquisas e, a partir de perguntas elaboradas pelo professor, discutem os resultados com as demais equipes.

Audray destaca os números presentes nessa atividade: 48% dos lares brasileiros têm famílias monoparentais, sendo as mulheres as principais responsáveis pelo sustento da casa e dos filhos. Além disso, em se tratando de lares de baixa renda no país, essa porcentagem chega a 81,6%. “Por meio da interdisciplinaridade, os alunos conseguem enxergar a Matemática em todos os outros componentes, assim como a real importância de conteúdos que, até então, eram vistos como desnecessários”, conclui a professora.

Por: Nova Escola