Ensino a distância domina formação de professores

Publicado por Sinepe/PR em

Apesar das deficiências históricas na formação de professores, o Brasil tem expandido as graduações ligadas à profissão com ensino a distância (EAD), modalidade em que o desempenho acadêmico dos profissionais, não só os da educação, é inferior ao de cursos presenciais.

Estudo do Todos Pela Educação mostra que, em 2017, 61% dos que iniciaram cursos de pedagogia e licenciaturas estavam no ensino a distância, contra 34% em 2010. A média nas demais graduações, no mesmo intervalo, subiu de 13% para 27%, segundo dados compilados a partir do Censo da Educação Superior.

O número de concluintes também mostra predomínio do ensino a distância. Na rede privada, que forma 72% dos profissionais da educação, os concluintes nessa modalidade dobraram entre 2013 e 2017, passando de 49,4 mil para 98,5 mil.

“O EAD tem de ser sempre visto como complementação, não pode ser a estratégia principal na formação dos professores”, afirma Priscila Cruz, presidente-executiva e cofundadora do Todos Pela Educação.

Segundo ela, é essencial que o futuro professor concilie prática e teoria na graduação, algo já deficiente nos cursos presenciais e que se acentua no EAD.

Em maio de 2017, o Ministério da Educação (MEC), ainda comandado por Mendonça Filho, publicou decreto que flexibilizou a criação de cursos de graduação a distância, o que explica parte desse movimento.

Pela Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB), a formação de professores deve dar preferência ao ensino presencial, “subsidiariamente fazendo uso de recursos e tecnologias de educação a distância”.

As conclusões da pesquisa, afirma Priscila, explicitam a necessidade de o MEC criar uma política nacional para atrair os melhores alunos para atrair os melhores alunos para a carreira e aprimorar a qualidade dos cursos. “Essa ênfase na formação de professores seria a sinalização mais concreta de prioridade do MEC na educação básica”, diz.

Desde a campanha do hoje presidente Jair Bolsonaro, a educação básica tem sido anunciada como prioridade nas políticas do MEC. O grande chamariz da gestão de Abraham Weintraub até o momento, no entanto, é o programa Future-se, voltado para as universidade federais.

As críticas à expansão do EAD na formação dos docentes têm correspondência em experiências internacionais. O Chile, país da América Latina mais bem posicionado no Programa Internacional de Avaliação de Estudantes (PISA) e citado como exemplo a ser seguido por Weintraub, proíbe o EAD na formação inicial de professores. Ainda na América Latina, o Peru vai proibir, a partir de 2020, a abertura de novos cursos a distância.

A penetração do EAD em cursos da área de educação é menor mesmo em países em dimensões continentais como Austrália, Canadá e Estados Unidos, onde, supostamente, este seria um argumento válido para intensificar o uso desse modelo de graduação.

Na Austrália, por exemplo, 25% das matrículas são EAD. Lá, porém, a carga horária dos estágios deve ser cumprida em escolas específicas e existem rigorosos processos de certificação, destaca o estudo.

Fonte: Hugo Passarelli / Valor Econômico
Data: 15/08/2019