Expansão do Ensino Superior está associada ao aumento dos salários e empregos, diz estudo

Publicado por Sinepe/PR em

Com mais brasileiros com diploma de ensino superior, o mercado de trabalho melhorou e a renda dos profissionais cresceu, inclusive nas cidades do interior, que são mais pobres. A conclusão é de estudo realizado por quatro economistas brasileiros, do Insper e da USP, publicado recentemente. Eles avaliaram o período de 2000 a 2010, quando o número de matrículas em universidades do país dobrou e a quantidade de brasileiros que concluiu faculdade cresceu ainda mais, 135%.

A expansão ocorreu tanto no ensino superior público como no privado. A estimativa dos pesquisadores é que, em média para um mesmo município, um ponto percentual a mais no volume de adultos com ensino superior se associa à elevação de 0,4 ponto percentual na taxa de ocupação, de 0,9% na média salarial e de 1,3% na renda domiciliar per capita .

Para um dos autores do estudo, o economista Roberto Hsu Rocha – formado pela USP e atualmente aluno de ph.D. da Universidade da Califórnia, em Berkeley, Estados Unidos -, os dados reforçam que o bloqueio pelo governo Bolsonaro de 30% dos orçamentos das universidades federais, colocando em risco o funcionamento de muitas delas, é uma medida inadequada na atual conjuntura: de economia, renda e produtividade estagnadas e desemprego alto.

Por que vocês resolveram estudar esse tema?
A existência de correlação entre o aumento de escolaridade e de renda não é nova na literatura econômica, mas normalmente isso é avaliado do ponto de vista da renda individual. Com esse estudo, buscamos entender qual é o retorno social da educação. O ensino superior não ajuda apenas o indivíduo a ter um salário maior e a aumentar o consumo. Quando um município ganha uma universidade, há uma injeção de recursos nessa cidade, a qualificação e a produtividade das pessoas, isso atrai outros investimentos, aumenta a demanda por trabalho e a região se desenvolve.

Por que vocês avaliaram o período de 2000 a 2010?
A expansão do ensino superior, das matrículas e dos concluintes, começou lá por 1998, 1999. Como queríamos verificar os efeitos nos municípios, precisávamos de dados do Censo populacional, do IBGE. Os mais recentes são os realizados em 2000 e 2010. Além deles, usamos o Censo da Educação Superior, feito pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep).

Quais resultados vocês encontraram?
O que podemos dizer é que a expansão do ensino superior está associada ao aumento da renda do trabalho principal, que é o salário médio, ao aumento da renda per capita , pois quando alguém passa a ganhar mais todas as pessoas que vivem naquele domicílio se beneficiam de alguma forma, e ao aumento da taxa de ocupação no municípios.

Por que maior escolaridade aumenta renda e melhora o mercado de trabalho?
Há alguns fatores. Pessoas mais qualificadas podem fazer trabalhos mais produtivos, e esses trabalhos são os que pagam mais. E, numa empresa, essa pessoa com ensino superior pode gerar aumento da produtividade de toda uma equipe, mesmo se ele for o único graduado. Esse profissional traz conhecimentos, o capital humano que ele adquiriu no ensino superior a esse ambiente de trabalho. Vai transmitir ideias e técnicas novas, que podem resultar em aumento da produtividade de toda a equipe.

Então há um ganho também para a atividade econômica do país…
O que posso dizer é que o ensino superior aumenta a qualidade de trabalho do indivíduo e ele pode gerar essas externalidades para as pessoas a seu redor. Ele vai adicionando pessoas àquela maior produtividade, e, de grão em grão, isso tem efeito positivo sobre o PIB(Produto Interno Bruto) .

Universidades públicas e privadas produzem os mesmos efeitos?
Quando comparamos as duas redes, vimos que as instituições públicas estão mais relacionadas ao aumento dos salários e da renda per capita , enquanto que as privadas têm mais efeitos sobre o aumento do emprego.

E com relação aos cursos, há efeitos diferenciados?
Em se tratando dos salários e da renda per capita , os cursos de ciências sociais, humanas e belas-artes produzem os mesmos efeitos que os das áreas de engenharia, computação e tecnologia.

Que paralelo é possível traçar entre os resultados do estudo e o momento atual, de bloqueio de quase um terço dos orçamentos de universidades públicas pelo governo?
Os dados desse estudo desarmam o argumento (do governo) que faculdades públicas são para produzir “vagabundos” e mostram claramente que a expansão do ensino superior público está relacionada a melhoras das condições de renda e do mercado de trabalho. Estamos há anos com a produtividade e a economia estagnada. É inconsistente num momento de crise, como o atual, você cortar investimentos no ensino superior. Educação não é gasto, é investimento.

Fonte: Daiane Costa – Época
Data: 08/05/2019