Como dados de leitura contribuem para novas estratégias de alfabetização

Publicado por Sinepe/PR em

A tecnologia pode contribuir positivamente como apoio no momento de avaliar e entender o progresso das aprendizagens

Compreender o ritmo das aprendizagens dos estudantes requer não só um olhar atento, como também uma análise de dados que são produzidos ao longo desse processo. Quando o assunto é ter informações, a tecnologia contribui para a tomada de decisão por parte dos professores em sala de aula, que podem entender dificuldades ou até mesmo se o sistema idade-série condiz com o estágio que aquele estudante está matriculado.

No período de alfabetização, por exemplo, a tecnologia pode proporcionar uma possibilidade maior de entendimento – e de possíveis ajustes a serem feitos – da aprendizagem das crianças.

Carolina Pavanelli, diretora do time pedagógico de Árvore, aponta que o período pós-pandemia evidenciou que a tecnologia tem muito a contribuir com a alfabetização. Dados do último Saeb (Sistema de Avaliação da Educação Básica) mostraram que o ciclo de alfabetização apresentou uma queda de desempenho durante a pandemia. As provas, aplicadas a alunos do 2.º ano do ensino fundamental, mostraram uma queda acentuada em língua portuguesa. Houve uma perda de 24,5 pontos na proficiência dos estudantes entre 2019 e 2021.

“Na minha visão, a tecnologia ligada à avaliação na escola tem dois grandes usos, que são grandes vantagens: a primeira é conseguir ter um olhar muito mais individualizado e otimizado de cada aluno”, diz Carolina. “Em uma mesma sala, com 30 a 40 alunos, é difícil para o professor conseguir saber exatamente em que estágio da aprendizagem está cada aluno, e é ativamente impossível para ele conseguir personalizar cada avaliação de acordo com o ritmo de estilo de aprendizagem de cada aluno. Ou seja, a visibilidade é difícil, a tecnologia ajuda muito nisso”, completa.

O segundo ponto mencionado por ela trata-se da acurácia que a tecnologia pode proporcionar nas avaliações. “Sempre que for necessária uma visão menos subjetiva, uma rubrica mais direta, a tecnologia conseguem dar diretrizes e resultados mais claros para professores e famílias”, afirma.

Um erro muito comum, ela destaca, é não incluir a tecnologia no planejamento escolar. Pensar em plataformas e ferramentas digitais para a sala de aula, de maneira planejada e organizada, faz com que a tecnologia deixe de ser um apetrecho e torne-se algo inerente à classe, previsto inclusive pelos próprios estudantes.

Aliar desenvolvimento cognitivo com desenvolvimento leitor

A Árvore está desenvolvendo um novo recurso chamado “Jornada Leitora”, focada em compreender e identificar como a leitura é capaz de desenvolver habilidades e competências importantes para os estudantes. Este é um exemplo de uso da tecnologia aliado ao desenvolvimento leitor e à alfabetização.

Aspectos como comunicação, vocabulário, visão de mundo e pensamento crítico podem ser trabalhados tanto no caso da Jornada Leitora, como em diferentes situações que envolvam tecnologia.

Como parte da estrutura da Jornada Leitora está o aspecto cognitivo, igualmente importante no entendimento e avaliação das aprendizagens dos estudantes.

Natália Bezerra Mota, CSO cientista-chefe da Motrix Techknowledge e professora IPUB-UFRJ (Instituto de Psiquiatria da Universidade Federal do Rio de Janeiro), pesquisa há mais de dez anos as relações sobre aspectos cognitivos associados à maneira como os estudantes criam narrativas.

Ao longo desse período, a Motrix, parceira da Árvore no Jornada Leitora, realizou estudos com crianças, adolescentes e adultos de diferentes etapas de ensino para pensar na maneira como os estudantes se relacionam com a leitura e, consequentemente, entender os dados apresentados e o que é possível fazer para ajustar ou recompor aprendizagens.

“Um aspecto importante dessa linha de pesquisa foi que a gente percebeu que olhando para essa complexidade com que a criança conta uma historinha, isso pode ser preditivo, com alguns meses de antecedência, do desempenho de leitura que essa criança vai apresentar ao final do ano”, conta Natália.

Ela destaca que é importante que esses indicadores sejam observados dentro de um período. Por exemplo, considerar os dados produzidos pelos estudantes até o meio do ano, antes das férias, para conseguir predizer se a criança que recebeu estímulos ao longo do primeiro semestre incorporou o que lhe foi apresentado.

“Quanto mais complexas as historinhas contadas pela criança no meio do ano, maiores as chances de que ela as conte ainda melhor no final do ano”, afirma.

Educadores em sala de aula

Mesmo que a tecnologia possa contribuir significativamente para observar avanços ou impasses nas aprendizagens, a figura do professor segue sendo muito importante na dinâmica de sala de aula.

É a tecnologia aliada ao olhar atento do professor que vai gerar bons resultados. “Na prática, o professor deve pensar na tecnologia para auxiliá-lo e para melhorar o aprendizado do aluno. Além disso, existe um fator socioemocional que, pelo menos até agora, nem mesmo a inteligência artificial consegue entregar. É o dia a dia, a percepção de cada um dos alunos, o relacionamento com eles. Ou seja, o caráter das relações humanas, em que o professor deve ser o maior mediador”, afirma Carolina.

Por terem muita experiência e contato com crianças, os educadores conseguem compreender de forma mais subjetiva aspectos que a tecnologia não alcança, explica Natália.

“O que o professor não pode perder de vista quando está avaliando, é que as crianças têm uma ampla diversidade linguística”, diz a pesquisadora. Para ela, há muitos fatores que podem contribuir para o desenvolvimento leitor dos estudantes, tanto biológicos quanto sociais, como acesso à leitura e educação, acesso à diversidade de vocabulário etc.

Natália destaca a importância de se observar os estímulos que cada criança recebe e, por isso, é necessário que as decisões dos docentes sejam tomadas com base em evidências e dados que, por sua vez, podem ser apresentados por ferramentas tecnológicas.

Por: Porvir