Português como língua de acolhimento garante o direito à educação

Publicado por Sinepe/PR em

Além de acolher migrantes e refugiados, ensiná-los a usar o idioma para além do uso gramatical é uma prática que atua no combate ao racismo e à xenofobia

Muitos são os motivos que levam um indivíduo a migrar. Desde a busca por melhores condições de trabalho e moradia, até a fuga de conflitos armados e outras situações de violência, o que os coloca em situação de refúgio.

Ao chegar a um país, uma das principais barreiras que o estrangeiro enfrenta é o idioma. Mais do que saber traduzir palavras, compreender os significados demanda muito esforço e apoio, inclusive da escola.

Em uma busca para suprir essa demanda e propor uma abordagem mais ampla do ensino de língua portuguesa para estrangeiros, surgiu o Português como Língua de Acolhimento, que atende pela sigla PLAC, reconhecido no Brasil há mais de uma década.

A proposta considera o trabalho conjunto entre professores, professoras e estudantes e busca atender necessidades de pessoas não falantes da língua portuguesa para além do uso gramatical do idioma, capacitando-as para usá-lo em diferentes áreas da vida.

“Trata-se de uma língua que acolhe o migrante, ensina e pensa o idioma como uma ferramenta de inserção social”, afirma Ana Katy, coordenadora do CELP (Centro de Estudos de Línguas Paulistano) da Secretaria Municipal de Educação de São Paulo.

Acessar o idioma possibilita que migrantes garantam direitos como educação, saúde e moradia, entre outros. “Quando falo em português como língua de acolhimento, estou pensando muito no processo migratório. E isso implica em pensar no aprendiz que vivenciou isso de maneira forçada e que está em outro contexto, outra cultura e que tem o direito de ser acolhido”, explica Ana. Por isso, a abordagem é diferente de como ensinar um diplomata ou a alguém que veio estudar ou está a passeio.

Diferentes povos, uma abordagem

É preciso preparação e formação adequadas para ensinar português aos migrantes internacionais. Em São Paulo, uma referência pública no assunto é o Cieja (Centro Integrado de Educação de Jovens e Adultos) de Perus, que fica na zona noroeste da capital.

Cristiane Maria Coutinho Fialho, professora de português no Cieja Perus, contextualiza que o público da EJA é formado por estudantes-trabalhadores. E destaca: para além da proposta de acolhimento, essa abordagem visa ensinar o idioma para a vida, em um sentido também muito prático.

“Quando chegamos naquele território, já havia uma comunidade muito grande de migrantes internacionais, majoritariamente haitianos, que não falavam a língua portuguesa. Muitos estavam procurando aprender português não só para saber falar, mas também para escrever ou conseguir ler um contrato de trabalho”, relembra.

Devido à alta procura, a escola precisou fazer uma readequação curricular pensando nas diferentes culturas que se apresentavam ali. Além de haitianos, o Cieja também recebe estudantes afegãos, bolivianos e até mesmo migrantes indígenas guaranis que procuram pelo ensino de português.

Segundo dados do NEER (Núcleo de Educação para as Relações Étnico-Raciais) da Secretaria Municipal de Educação de São Paulo, a DRE (Diretoria Regional de Educação) da Penha possui 2098 estudantes de outros países, o maior número entre as DRE do município. A DRE de Jaçanã / Tremembé (1553) e Pirituba / Jaraguá (1076) são as outras duas que apresentam maior população migrante entre os estudantes.

Grande parte deste número, ainda segundo dados do NEER, está matriculada em escolas de ensino fundamental e ensino infantil. Apesar disso, quando se observa o número de migrantes por unidade educacional, o Cieja Perus concentra o maior contingente (782 matrículas).

Por: Porvir