Valorizar a profissão (e a aprendizagem) do professor deve ser prioridade

Publicado por Sinepe/PR em

Debate sobre oportunidades de formação continuada do educador é recorrente na escola, e o assunto ganhou destaque na Bett Brasil 2023

Pensamento computacional, metodologias ativas, aprendizagem baseada em projetos, saúde mental. O quanto essas tendências educacionais são debatidas na sua escola? Se você se formou há cinco anos, estes ainda não eram temas cruciais. Hoje, são assuntos fundamentais.

“Como o educador deve seguir aprendendo sempre?” foi tema de uma das mesas da Bett Brasil na última semana. O debate, que reuniu o consultor de educação Gustavo Pugliese, fundador da dTeach – Educação Descentralizada, e o palestrante Caio Beck, educador e fundador da Andragogia Brasil, reforçou o quanto “quem ensina aprende ao ensinar e quem aprende ensina ao aprender”, clara alusão aos pensamentos de Paulo Freire (1921-1997), patrono da educação brasileira.

“Ganhar o diploma na faculdade é um marco, o fim de um processo, mas o aprendizado não termina quando você o recebe. O professor aprende todo dia, em todas as ações, em todos os momentos. Aprender é parte da docência”, afirma Gustavo.

Caio sugere que uma “residência da vida real”, de um ou dois anos em sala de aula, apoiaria o trabalho do educador, afinal o aprendizado docente começa, de fato, depois de se ter o diploma em mãos, concordam os especialistas. “O professor sai da formação inicial achando que vai dar conta de tudo, mas a formação docente ainda não está conectada com o mercado”, diz.

Como virar a chave?
A queda na procura pelos cursos de pedagogia e o desinteresse dos jovens em seguir na profissão mostram que há muito por fazer, reflete Caio. “Em 2040, podemos ter falta de 235 mil professores de ensino básico”, comenta, em referência à pesquisa do Semesp (Sindicato das Entidades Mantenedoras de Estabelecimentos de Ensino Superior no Estado de São Paulo). Para corrigir esse dado, não basta que o curso seja atrativo apenas para os professores, mas também para os estudantes, avalia o fundador da Andragogia Brasil.

Outro ponto a se considerar é a falta de apoio e de políticas públicas para que professores sigam nos estudos e participem de formações e eventos, tendo de conciliar, por vezes, dois ou três turnos para complementar a renda.

“Há países nos quais o mestrado e o doutorado não são vistos como mera bolsa de estudos e considerados trabalhos”, reforça Gustavo. Por isso, os planos de carreira dos professores públicos precisam ser revistos, acreditam os debatedores. “É preciso começar a organizar a profissão docente. Sabemos quanto eles sofrem com as pressões, que geram forte carga emocional. Trabalham muito, têm salário baixo. Essa soma não contribui para a percepção do educador como um profissional. É preciso amadurecer essa ideia”, sugere o consultor educacional.

Conexões necessárias
Quando há possibilidade, é fantástica a oportunidade de o educador seguir aprendendo, seja na academia, na sala de aula e também em eventos como a Bett Brasil, comenta Gustavo. “Sabemos que só a academia não nos prepara, só o mundo acadêmico não representa a escola. Isso é uma expectativa criada cultural e historicamente. São mundos distintos, que se complementam”, destaca, enfatizando a importância de a sala de aula e do aprendizado contínuo caminharem lado a lado.

Pensar em projeto de vida, no autoconhecimento e no que esperar para o futuro é fundamental. “Como diria Hanna Cebel Danza, projeto de vida é para todo mundo. É preciso buscar colaboração, coletivos e buscar se conhecer como profissional”, considera Gustavo.

Para tanto, diz Caio Beck, um caminho é conectar os professores do Brasil. “Temos bons educadores em todos os lugares. Eles precisam estar em redes que façam sentido para conversar com os pares, compartilhar exemplos positivos e negativos, “, sugere.

A despeito dos desafios e da necessidade cada vez mais forte de conexão, Caio diz que é urgente valorizar a profissão docente. “Em sala de aula, estamos cansados, dizendo que a vida não é fácil. Dentro de casa, não falamos de maneira salutar. Nós, professores, precisamos mudar essa conversa. Precisamos bater no peito e ter orgulho em ser professor, em ver a ascensão do aluno, a transformação da comunidade”, ressalta. “Se a educação básica pública não der certo, o país não muda”, conclui.

Por: Por Vir