A maior parte dos jovens no Brasil (61%) concorda que a pandemia da Covid-19 causou perdas irreparáveis de aprendizado, aponta pesquisa Datafolha

Publicado por Sinepe/PR em

A percepção muda de acordo com o gênero: mais mulheres reportam perda (65%) na educação que homens (57%)

O instituto realizou mil entrevistas com jovens, na faixa de 15 a 29 anos, nos dias 20 e 21 de julho. Eles foram ouvidos em São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Salvador, Fortaleza, Recife, Porto Alegre, Curitiba, Goiânia, Brasília, Manaus e Belém. A margem de erro é de três pontos percentuais, para mais ou para menos, dentro do nível de confiança de 95%.

Alunos na escola estadual Eliza Rachel Macedo de Souza, na zona leste de São Paulo, no fim de 2021. Na época, as escolas se preparavam para receber 100% dos estudantes em meio à pandemia de Covid – Zanone Fraissat – 18.out.2021/Folhapress

Dentro do universo de pesquisa do Datafolha, 1 em cada 3 (32%) adolescentes e jovens trabalha e estuda, já 47% só trabalham. Há, ainda, 17% que só estudam, e 4% que não estudam nem trabalham.

Com a pandemia, o Brasil foi um dos países que por mais tempo manteve as escolas fechadas, o que também refletiu negativamente no desempenho dos alunos nas escolas.

De acordo com o Ideb, as repercussões da crise sanitária resultaram em uma queda de aprendizado dos alunos de escolas públicas e privadas em todas as etapas da educação básica.

A estudante de ciências sociais Sarah Rachel Paulino Andrade, 19, concorda que a pandemia causou danos irreversíveis na sua formação acadêmica. “Foi muito ruim. Não foram passados conteúdos básicos. Por isso, entrei em uma faculdade privada, e não em uma pública”, diz.

Ela sentiu a defasagem quando prestou o vestibular no ano passado. Após não obter aprovação em instituições públicas, ingressou em uma faculdade privada.

“Além da mensalidade, tenho que pagar pelo transporte e alimentação. Está muito difícil. São várias questões que abrangem a permanência estudantil e a gente não vê ajuda por parte do Estado”, lamenta ela.

Sarah planeja prestar novamente vestibular de uma universidade pública.

A estudante diz ter notado que a pandemia também afetou o aprendizado de colegas delas, levando alguns a desistir da faculdade e outros a ingressar em cursos técnicos. Dados do Inep (Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira) indicam que a taxa de abandono escolar mais que dobrou em 2021, de 2,3% (2020) para 5,6%.

Além disso, de acordo com um estudo divulgado em setembro pela Unicef, 17% dos estudantes das classes D/E abandonaram a escola durante a pandemia e não retornaram, metade deles para trabalhar fora.

Pandemia causou prejuízo ao aprendizado em toda a educação básica
Entre os que voltaram, 46% se sentiram despreparados para acompanhar as atividades escolares, 35% tiveram dificuldade para controlar suas emoções e 30%, pensamentos negativos, sentiram-se tristes e deprimidos.

Já a designer Mayara Borges de Almeida, 25, diz que não sentiu tanto o impacto da pandemia na educação. Ela considerou tranquilo o período de ensino remoto na faculdade. Porém, para sua irmã de 15 anos foi mais desafiador.

“Ela ficou em casa até o fim do ano passado e foi muito ruim, porque ela está numa fase de estudos complicada, que é a base de tudo para aprender para o vestibular”, diz Almeida.

Por: Folha de S.Paulo