Como estimular o desenvolvimento da fala e a oralidade na Educação Infantil?

Publicado por Sinepe/PR em

Confira dicas para cada uma das faixas etárias visando impulsionar a expressividade das crianças

Olá professoras e professores! Enquanto escola, passamos por um período difícil com a pandemia, não é mesmo? Fizemos o necessário no momento de crise, mas foi tudo tão estranho que às vezes a lembrança vem como se tivéssemos vivido uma realidade paralela: tivemos a escola fechada em pleno período letivo; aprendemos a fazer interações online com os bebês e crianças pequenas; e no retorno, encaramos o desafio de limitar os espaços e materiais a serem utilizados, bem como o uso da máscara e o receio do contato físico que é tão constante nessa etapa.

O fato é que tudo isso trouxe reflexos que nos acompanharão por muito tempo, como novas demandas e perfis diferentes de famílias e crianças, impactadas por essa época difícil. E uma das questões sentidas por nós educadores está na alteração dos tempos e novas necessidades relacionadas ao desenvolvimento da fala. Por isso, gostaria de compartilhar algumas dicas práticas pensando em cada faixa etária nesse pós-pandemia, a fim de estimular a oralidade e a expressividade e para sugerir alguns encaminhamentos às questões que vêm surgindo.

Bebês
Logo de cara, duas observações: eles são nascidos em um contexto ainda mais restrito no que se refere ao contato e interações para além dos genitores e responsáveis; e é grande a exposição às telas desde muito cedo – em condição passiva. O bebê ingressante na escola se vê, então, num ambiente de proporção assustadora para ele, no que se refere a espaço, sons e ruídos. São muitas informações novas para serem acessadas e compreendidas, por isso, é importante o olhar atento e cuidadoso do adulto.

Entre as atividades do cotidiano que contribuem para o desenvolvimento da oralidade, é muito importante o professor se expressar com amplitude de gestos e movimentos, e ter uma presença física marcante – ao mesmo tempo, é preciso acessar o vínculo físico com uma respiração tranquila e toques delicados nos momentos de acalanto, demonstrando que sua fala tem relação com o todo de seu corpo. Além disso, ao conversar, vale se colocar na altura e no campo de visão dos bebês; e ao cantar, empregar expressões faciais e palavras bem declaradas pronunciadas de maneira correta (sem o uso do diminutivo).

Ao analisar os objetivos do campo de experiência Escuta, fala, pensamento e imaginação, encontramos indicativos de propostas a serem desenvolvidas. Por exemplo: chamar o bebê pelo seu nome em todas as ações que se referem a ele; nas brincadeiras, mencionar os nomes dos colegas para que eles se reconheçam; e ainda trazer detalhes do cotidiano para conversas, ajudando-os a perceber suas características físicas e adereços como o sapato, o laço do cabelo, a cor do bico, os enfeites da bolsa, e os materiais expostos na sala. É interessante, também, utilizar-se de livros de histórias acompanhadas de ilustrações com frases curtas, marcando objetos e acontecimentos ao acentuar a pronúncia das palavras. Ocorrem aí os primeiros contatos com portadores textuais, e ao realizar a leitura, indica-se que aquele material contém uma mensagem. Aqui no site da NOVA ESCOLA há uma sequência de planos de atividades que oportunizam o desenvolvimento da linguagem a partir de diferentes situações, como essas que mencionei.

Crianças bem pequenas
Nessa fase, como consequência da pandemia, temos um grupo maior de crianças inseridas mais tarde no ambiente escolar (essa é a realidade da minha instituição, já que atendemos desde os quatro meses até os seis anos). Embora sintamos os efeitos do isolamento, o repertório de palavras dos pequenos literalmente explode. Eles trazem termos e expressões das suas vivências em casa, com capacidade de inseri-los em outros contextos de maneira perfeitamente adequada.

Para oportunizar a expansão dessa potencialidade, os espaços podem ser ainda mais convidativos, com brincadeiras em que eles interajam uns com os outros de modo a ampliar esse repertório em situações do cotidiano. É importante acolher suas ideias, sentimentos e opiniões, e nos mais diversos momentos, colocar as crianças como protagonistas ao expressar seus desejos, inclusive na resolução de conflitos mediada pelo educador – para que, assim, elas se utilizem do vocabulário para resolver as questões com gradativa independência.

Essa outra sequência de planos disponível aqui no site ajuda a pensar na organização dos momentos de livre escolha como possibilidade para o desenvolvimento da linguagem. Brincadeiras com rimas em cantigas e textos poéticos também são um excelente recurso, e trago como sugestão os versos do grupo Tiquequê.

Crianças pequenas
Talvez esse seja o grupo que mais sofreu os impactos de escolas fechadas e de aulas remotas, em termos de vazio que a quebra da rotina gerou, porque são os que saíram de um berçário e foram direto para uma pré-escola. Pensando nisso, uma das questões que considero fundamentais é o aprendizado da expressividade dos sentimentos e emoções.

Aprender a nomear o que se passa no corpo e na mente é talvez uma das habilidades mais necessárias para esse tempo em que a depressão infantil, doenças ligadas a ansiedade (como o sobrepeso) e situações como o abuso sexual infelizmente estão latentes na Educação Infantil. As rodas de conversa sobre temas do dia a dia, e as técnicas de respiração e propostas para extravasar a raiva, a angústia e o medo se tornam pertinentes nessa faixa etária. Outro ponto essencial é atrelar as competências emocionais ao desenvolvimento da própria fala, ou seja, consolidar a capacidade de expressar em palavras o que se vive internamente.

Seguindo nessa perspectiva, outra boa sugestão é estimular o perfil curioso e investigativo das crianças para desbravar o mundo das palavras. Uma dica é esse vídeo do grupo Palavra Cantada que incentiva a brincar com a formação de vocábulos a partir de frutas e suas respectivas árvores. Trazer essa obra numa proposta de pesquisa contribui para que os pequenos formulem ideias sobre a origem e derivações das palavras. A partir daí, de acordo com o interesse deles, dá para pesquisar a raiz de outros verbetes, seus sentidos e significados.

Entre esses vários recursos e possibilidades, queridos professores e professoras, o que se sobressai é a nossa capacidade de nos mostrar atentos e disponíveis para a escuta, organizando um espaço acolhedor e de confiança para que os bebês e as crianças pequenas desenvolvam a oralidade em todas as suas potencialidades.

Por: Nova Escola