Educação ambiental: como impulsionar uma cultura sustentável nas escolas?

Publicado por Sinepe/PR em

Os debates sobre sustentabilidade são urgentes e devem compor a formação das próximas gerações – e cabe a nós, gestores escolares, auxiliar e fomentar esse processo em nossos espaços

O ato de planejar uma aula pode nos mudar profundamente. Há exatos dez anos, eu preparava uma apresentação de slides para pontuar consequências do desenvolvimento industrial sobre o planeta a partir do século 18. Na época, lecionava História para uma turma de 8.º ano, e esse debate estava inserido no conteúdo programático de Revolução Industrial

Pois bem: busquei na internet imagens e vídeos que tratassem de preservação do meio ambiente – e então me deparei com um curta-metragem de 21 minutos chamado A História das Coisas (2007). Produzido e apresentado pela ativista Annie Leonard, ele apresenta de forma dinâmica e didática como o nosso consumismo tem degradado o planeta, fazendo refletir sobre a necessidade e a urgência de mudarmos hábitos. Essa obra não apenas serviu de base para a minha aula do dia seguinte, como impactou para sempre o meu entendimento e percepção sobre sustentabilidade em nossos tempos.

O fato é que se seguirmos com o modelo atual de consumo, em breve não teremos mais um planeta para chamar de nosso. No entanto, amigo leitor e amiga leitora, resta uma esperança: não há lugar melhor do que a escola para desenvolvermos uma cultura sustentável. Nos nossos espaços escolares, é possível garantir a formação de cidadãos que, futuramente, vão considerar que o bom uso dos recursos do planeta é uma pauta inegociável no debate público. Mas como nós gestores podemos auxiliar nesse processo?

Teoria e prática sustentável na escola
Há poucos meses abordei aqui nessa coluna a função social da escola, refletindo sobre como ela poderia impactar nossa sociedade caso ofertasse aprendizagens além dos conteúdos programáticos. O espaço escolar, como ressaltei naquela oportunidade, precisa ser integral, dialogar com os que estão fora dos seus muros, e principalmente, ter significado para os sujeitos que estudam, trabalham e/ou vivem em seu entorno. Ao articularmos esses pontos com a criação de uma cultura sustentável, conseguimos contemplar tudo isso e muito mais, já que, literalmente, o foco da sustentabilidade é a sobrevivência da nossa espécie como um todo.

Um exemplo bem imediato é quando efetivamos nas escolas projetos ligados à alimentação saudável, como é o caso de uma horta (mais detalhes sobre isso no bloco a seguir). Trata-se de uma iniciativa que gera benefícios para a saúde de nossos alunos de forma direta, e para suas famílias como consequência. Só que dá para ir além: ações sustentáveis, quando bem planejadas, podem até gerar emprego e viabilizar renda para toda uma comunidade.

Logo, é sempre válido reafirmar: os conceitos e ações sustentáveis devem estar presentes continuamente no cotidiano escolar, nos projetos bimestrais e anuais, e sendo o alicerce de projetos político-pedagógicos (PPPs). Na nossa escola, sustentabilidade aparece como base do PPP, ao lado de inclusão e Educação antirracista, evidenciando a centralidade do tema e ajudando, assim, a guiar todas as experiências de aprendizagem. E como gestores, é nosso papel fomentar esse debate sobre meio ambiente, especialmente quando ele não se inicia de forma orgânica.

Ações e projetos possíveis
A partir disso, para apoiar a implantação de práticas sustentáveis nas suas escolas, fiz um apanhado de cinco iniciativas que já realizamos ou pretendemos realizar até o final do ano na Escola Municipal Professora Ivone Nunes Ferreira, onde atuo como gestor desde 2019, no Rio de Janeiro (RJ). Elas são, em sua maioria, muito simples, mas apresentaram potencial para impactar toda a comunidade escolar.

1. Parcerias para a capacitação dos professores
No momento de estruturar as propostas, um dos nossos principais questionamentos foi: os professores têm formação para trabalhar o tema sustentabilidade? Nesse caso, nos referimos tanto à abordagem desse tópico de forma transversal ao conteúdo, quanto diretamente por meio de projetos.

Tal reflexão nos levou a ações práticas para essa capacitação. Nos últimos meses, recebemos uma organização não governamental (ONG) que nos ensinou a desenvolver tintas sustentáveis. Embora sua elaboração não seja tão fácil, são materiais que podem posteriormente ser usados no dia a dia escolar. Iniciamos ainda uma outra parceria para fomentar o plantio natural em nossa horta orgânica, com workshops para professores e pais da Educação Infantil, apresentando desde a compostagem até a colheita.

2. Ações que se estendem até a casa das crianças

Outro ponto que norteou bastante a implantação de propostas sustentáveis foi a reflexão: o que podemos realizar aqui em nossa unidade escolar, mas que se estenda também para a casa dos alunos? Uma das primeiras respostas foi a elaboração de uma horta – em uma coluna passada, comentei um pouco sobre valores e o impacto dela na aprendizagem.

Atualmente, contamos com duas hortas, uma orgânica e outra hidropônica. Apesar do custo da segunda ser mais alto, sua produção permite que todos os estudantes levem o resultado do seu trabalho para os seus lares (e consequentemente para os seus pratos) a cada 45 dias. Existem ainda opções de hidroponia em muros. Nesse formato, a obra barateia em quase 75%, mantendo o bônus do volume de produção.

3. Estimular uma alimentação mais saudável (e menos consumo)

Nesse caso, trata-se de uma atividade intimamente ligada à empreitada das nossas hortas, que busca incentivar um consumo sustentável e hábitos alimentares saudáveis. Sistematicamente, com a presença dos alunos e responsáveis, e também com as nossas turmas de Educação de Jovens e Adultos (EJA), realizamos plantios e colheitas coletivas, e demos início à plantação de uma horta vertical com ervas medicinais.

4. Criar hábitos sustentáveis cotidianos, junto à comunidade

As práticas do dia a dia da comunidade são sustentáveis? Esse foi outro ponto que pegou enquanto desenvolvíamos essas ações e projetos – e que nos levou a entender como estimular hábitos menos danosos ao meio ambiente no nosso entorno.

Em 2021 e 2022, executamos atividades que visavam consolidar a importância da coleta seletiva e da reciclagem com os alunos da Educação Infantil, e atuamos na limpeza de dejetos nos condomínios ao redor da escola com as crianças maiores. Em nosso planejamento, consta ainda a aplicação de parte das nossas verbas na construção de sistemas de coleta de água dos aparelhos de ar condicionado.

5. Concretizar transformações nos hábitos escolares cotidianos

Ligado ao tópico anterior, esse é o ponto crucial para a formação de uma cultura sustentável, já que nos obriga a desconstruirmos nossas práticas diariamente. Devo admitir que nele nós seguimos engatinhando – no entanto, a busca pela reutilização de materiais diversos, e o desenvolvimento de instrumentos com sucata que fizemos em 2021, são um indicativo do caminho que temos que trilhar.

Como apontei no início desta coluna, chegamos a um ponto crítico, e o tema sustentabilidade não pode ser relegado ao segundo plano. Como gestores, cientes dessa realidade, não podemos nunca deixar de pautá-lo em nossas escolas. O planeta agradece!

Por: Nova Escola