As iniciativas que incentivam as crianças a pensar a cidade

Publicado por Sinepe/PR em

Projetos buscam aproximar os pequenos do processo de construção urbanística, buscando espaços mais acolhedores e voltados para as suas necessidades

PARQUE INFANTIL NO ESPAÇO URBANO
Como seria uma cidade planejada também para as crianças que nela vivem? De acordo com organizações como a Unicef, o fundo das Nações Unidas para a infância, o espaço urbano deve refletir as necessidades dos seus habitantes mais jovens, mas isso nem sempre acontece.

Incentivar as crianças a pensar a cidade e a vivenciar suas comunidades locais é uma forma de aproximar os pequenos do planejamento urbano e tornar esse objetivo mais tangível. Cidades ao redor do mundo têm desenvolvido iniciativas com esse intuito, que leva em conta que as crianças ocupam uma vivência singular no espaço urbano. Também é uma forma de conscientizar os futuros adultos que vão construir e viver nesses lugares.

Neste texto, o Nexo apresenta algumas dessas iniciativas e explica por que é importante incluir as crianças na construção do que é urbanidade.

As crianças no processo
Segundo a ONU (Organização das Nações Unidas), mais da metade da população mundial vive em cidades atualmente. Até 2050, a perspectiva é que esse número chegue a 70%.

Por si só, esses fatores justificam a aproximação de crianças com a arquitetura e o urbanismo. Refletir sobre o desenvolvimento do espaço urbano não é uma tarefa cuja responsabilidade ou competência esteja restrita ao planejador urbano ou aos formuladores de políticas públicas.

Para ter cidades que representem sua população, é importante incluir grupos com necessidades específicas, tais como mulheres, jovens, crianças e idosos, no próprio processo de planejar. Dessa forma, o planejamento urbano e arquitetura se tornam capazes de contemplar demandas variadas e de projetar espaços públicos mais acolhedores.

Uma das formas de viabilizar essa aproximação é envolvendo crianças em conselhos ou outras instâncias que auxiliem os processos de planejamento urbano da cidade onde vivem.

Em 1996, a Unicef e a ONU-Habitat (Programa das Nações Unidas para os Assentamentos Humanos) lançaram a CFCI (Iniciativa das Cidades Amigáveis às Crianças, na sigla em inglês), propondo uma série de medidas que priorizam os direitos infantis dentro da agenda urbana. Dentre essas medidas, estão a participação dos pequenos em todas as etapas de planejamento e implementação, foco em seus direitos e um orçamento direcionado a essa parcela da população.

Exemplos de sucesso
A cidade de Boulder, nas montanhas rochosas do estado americano de Colorado, se tornou uma referência global em integrar as crianças no processo de construção e constituição urbanística.

Desde 2009, a iniciativa municipal Growing Up Boulder (Crescendo em Boulder) promove a integração das crianças e adolescentes no desenvolvimento e implementação de políticas públicas voltadas para a juventude. O projeto conta com o apoio da Unicef e contou com audiências públicas nas quais crianças e especialistas em infância participaram.

Entre os resultados promovidos pela iniciativa em Boulder estão a construção de parques e espaços culturais, a ampliação de rotas de transporte público e o engajamento cívico das crianças e jovens: entre 2009 e 2021, houve um aumento de 50% no sentimento desse público em acreditar que faz parte da política local, com direito a opinar e construir um ambiente melhor para si.

No Brasil, uma referência no assunto é Jundiaí (SP), que, em 2019, dedicou um capítulo inteiro de seu plano diretor para instaurar as políticas urbanas da infância.

A iniciativa tem como objetivos “tornar a cidade mais amigável à criança, ampliando a oferta de praças, parques e espaços públicos mais lúdicos, que incentivem o livre brincar em contato com a natureza” e “criar condições para a ocupação da cidade pela criança, com segurança, acessibilidade e autonomia, possibilitando que desenvolva suas habilidades cognitivas, psicológicas, emocionais e sociais por meio do encontro com diferentes crianças e suas famílias no espaço público”.

A política pública jundiaiense já teve resultados. Em 2021, a prefeitura inaugurou o parque Mundo das Crianças, um espaço de 170 mil m² que conta com playgrounds, pistas de skate, ciclovias, quadras esportivas e outras atrações voltadas para crianças e adolescentes. Em 2022, a administração revitalizou os playgrounds do Parque da Cidade, um dos principais ambientes de lazer no município. As iniciativas contam com a participação das próprias crianças em eventos de consultas pública e especialistas na infância para a elaboração.

Jundiaí é uma das 24 cidades brasileiras que integram a iniciativa Urban95, parte da Fundação Bernard van Leer, de origem holandesa, “que visa incluir a perspectiva de bebês, crianças pequenas e seus cuidadores no planejamento urbano, nas estratégias de mobilidade e nos programas e serviços destinados a eles”.

A expectativa é que a implementação completa das iniciativas nas outras 23 cidades ganhe tração a partir de 2023 e siga alguns dos exemplos já executados por Jundiaí. Entre os municípios estão São José dos Campos (SP), Sobral (CE), Teresina (PI), Benevides (PA), Canoas (RS), Alcinópolis (MS) e Alfenas (MG).

“A missão da Urban95 é promover e compartilhar experiências que incentivam o desenvolvimento da primeira infância, sob a perspectiva de que todos merecem um bom começo. As políticas públicas se concretizam para as crianças no território, onde elas vivem e se desenvolvem”, disse ao site ArchDaily Claudia Vidigal, porta-voz da iniciativa.

Por: Nexo