Educação precisa realmente ser tratada como essencial

Publicado por Sinepe/PR em

Curitiba prorroga pela terceira vez consecutiva a bandeira vermelha, flexibiliza o funcionamento de diversas atividades, mas segue sem dar atenção à Educação

“As crianças estão sofrendo por conta da pandemia muito mais do que se imagina. E a educação não está sendo tratada como uma atividade essencial, o que realmente ela é”, exclama Maria Helena Jansen de Mello Keinert, diretora de escola infantil e psicóloga. A constatação fica ainda mais evidente no momento em que Curitiba recebeu, nesta sexta-feira (26), a terceira prorrogação consecutiva de bandeira vermelha, por meio de decreto da Prefeitura Municipal. “A única diferença visível entre os decretos é relaxamento para o funcionamento de diversas atividades, porém sem dar atenção à Educação, que é uma atividade essencial não apenas no discurso, mas legalmente”, observa.

O relato desta diretora se soma a um universo que, apenas em Curitiba e Região Metropolitana remonta a 542 escolas de educação infantil, grande parte delas com uma média de 100 alunos. “Se estamos todos fechados por força de lei, onde estão ficando todas essas crianças. São, pelo menos, umas 54 mil”, indaga Maria Helena. Segundo ela, em um levantamento próprio realizado com os pais da escola que mantém, 90% deles não têm onde deixar as crianças para continuar exercendo suas atividades profissionais e clamam pela possibilidade de poder deixar seus filhos aos cuidados das instituições que se prepararam para funcionar de maneira segura.

Maria Helena relata que desde o ano passado observa o surgimento de espécies de “creches clandestinas”, onde as crianças estão aglomeradas, sem que haja nenhuma estrutura e o pior, onde não há o cumprimento de normas sanitárias. “Por isso sempre frisamos que as escolas são os ambientes mais seguros, seguimos protocolos, realizamos investimentos para isso e temos profissionais habilitados, treinados e em número suficiente”, destaca. Segundo ela, na escola que dirige são mantidos 60 colaboradores para atender as 120 crianças. “Em 2020 perdemos 20% dos alunos e estamos conseguindo manter, com sacrifícios, o sustento das 60 famílias que dependem diretamente da nossa escola”, frisa.

A diretora de Ensino da Educação Infantil, do Sindicato das Escolas Particulares do Paraná (Sinepe/Pr), a prof. Dorojara da Silva Ribas, endossa as palavras de Maria Helena e reforça que as perdas para as crianças nesse momento são muito representativas. “As crianças estão passando por um sofrimento sem precedentes, estão sendo vítimas de uma situação dramática, causada pelas consequências da pandemia como, por exemplo, a profunda defasagem pedagógica, o atraso maturacional, dificuldades de socialização, transtornos de pânico, obesidade, ansiedade, distúrbios do sono entre outros efeitos, em crianças que estão perdendo o melhor laboratório da vida: a escola”, enfatiza.

Dorojara salienta que a Educação é uma atividade essencial e que não tem recebido o devido tratamento. “De uma maneira geral, as escolas de educação infantil realizaram grandes investimentos e treinamentos para seguir ofertando a Educação”, frisa. “As pessoas estão trabalhando quase que normalmente e, infelizmente, não estão podendo deixar suas crianças em locais seguros”, ressalta.

Segundo Dorojara, a escola é ainda um refúgio para as crianças, pois são exatamente as professoras e professores que, muitas vezes, são os primeiros a perceber e relatar casos de abusos e violências. Dados divulgados no último dia 25 de março pelo Tribunal de Justiça do Paraná mostram que foram registrados 2,7 mil casos de abusos e violência contra crianças e adolescentes desde o início do ano. “Esses foram os casos que vieram ao conhecimento público, apenas os casos que foram denunciados e, infelizmente, há grandes chances de que se trata apenas da ponta do iceberg”, pondera.

A diretora do Sinepe/PR lembra ainda de dados compilados por um grupo formado por 20 escolas infantis de Curitiba para afirmar que as escolas não são vetores para a Covid-19. No levantamento, as escolas (que representam mais de 5,1 mil alunos e que seguem todos os protocolos descritos pelas autoridades sanitárias para o funcionamento), coletaram dados entre janeiro e fevereiro de 2021, período no qual elas mantiveram o funcionamento em regime de colônia de férias e/ou com aulas presenciais curriculares.

Segundo o levantamento das escolas, no período descrito, as instituições não registraram a transmissão direta entre os alunos ou colaboradores no ambiente escolar. Foram registrados 14 casos em estudantes, o que corresponde a 0,28% do total, mas, como essas transmissões ocorreram no núcleo familiar (com caso positivo entre os pais inicialmente), as crianças já não estavam frequentando as aulas presenciais no momento. Da mesma forma, entre os colaboradores das escolas, o número de casos no período foi de 17 profissionais, mas estes também já estavam afastados por conta de suspeita de casos no núcleo familiar.

Por: Bem Paraná