Tecnologia cresce, mas tradição é o que ainda faz a cabeça dos vestibulandos

Publicado por Sinepe/PR em

A carinhosa pergunta “o que você vai ser quando crescer?” recebeu respostas parecidas dos estudantes na última década. Dados do Censo de Educação Superior do Ministério da Educação (MEC), entre 2010 e 2018, mostram que os jovens estão procurando cada vez mais carreiras ligadas às áreas de Tecnologia, como Computação e TI. Mesmo com esse salto, as profissões tradicionais permanecem no topo da preferência e são aquelas com maior número de formados.

Dados de 2019 apontam que 48% dos alunos no País estão matriculados em apenas dez cursos. O cenário é semelhante em universidades públicas de ponta e particulares. Neste ano, na Fundação Universitária para o Vestibular (Fuvest), que seleciona estudantes para a Universidade de São Paulo (USP), os cursos com maior demanda absoluta foram Medicina, Direito, Engenharia, Economia e Psicologia. Já o levantamento da consultoria Educa Insight aponta que em 2018 os cursos particulares com mais alunos matriculados foram Direito, Administração, Enfermagem, Engenharia Civil e Psicologia.

A procura por profissões tradicionais se reflete também no Censo de Educação Superior. Em 2018, o número de matriculados no segmento de Negócios e Direito foi oito vezes maior que os matriculados em Computação. A área de Informação, que envolve Jornalismo e Psicologia na categorização do MEC, ostenta aumento de 120% no número de cursos entre 2010 e 2018. Isso significa que o avanço dos cursos de Tecnologia é significativo, representa onda duradoura, mas não ameaça a soberania dos cursos clássicos.

A estudante Fabyanne Lariza Calazans, de 26 anos, escolheu a Saúde, área tradicional de formação que registra aumento de 83% no número de alunos matriculados entre 2010 e 2018. Atuando há três anos como técnica em enfermagem no Hospital Santa Marcelina, na zona leste, ela está no primeiro semestre. “Eu não sei explicar direito o motivo da escolha. Foi uma vontade que sempre esteve comigo, desde pequena. Sempre quis cuidar e ajudar as pessoas.”

O peso da tradição fica evidente quando a lupa está nos formados. Em 2018, o País formou 480 mil profissionais nas áreas de Negócios, Administração e Direito. O número representa mais de 10 vezes os formados na área de Tecnologia e 20 vezes o número dos que pegaram diploma no segmento de Ciências Naturais, Matemática e Estatística.

Ao Estadão, a presidente da Microsoft Brasil, Tânia Cosentino, evidenciou a importância de o País se preocupar em resolver a baixa formação de jovens em tecnologia. “Hoje temos no mundo 40 milhões de profissionais de TI (tecnologia da informação) e acreditamos que até 2025 vamos precisar de 200 milhões”, afirma Tânia.

O estudante Pedro Homem de Melo, de 17 anos, vislumbra ainda uma terceira via nessa balança entre cursos clássicos e tecnológicos: escolher uma profissão tradicional, mas com uma ponta de modernidade. Por isso, ele vai prestar vestibular para Engenharia Elétrica com ênfase em Computação. “Não consigo imaginar minha vida profissional longe dos números”, diz.

Para Ocimar Alavarse, professor da Faculdade de Educação da USP, fatores emocionais também fazem adolescentes sonharem com um jaleco branco ou com seu nome precedido da palavra “doutor”. “A educação superior, ou ter um diploma, significa ascensão social, mesmo genérica”, diz. “A aspiração pela formação ainda é muito grande no País”, diz Daniel Infante, sócio da Educa Insights.

Por Estadão