Como usar a arte para impulsionar a aprendizagem

Publicado por Sinepe/PR em

Caderno, lápis e borracha não são – e nunca foram – os únicos recursos que prendem a atenção das crianças em sala de aula. É preciso mais, principalmente durante o ensino remoto. Dispositivos tecnológicos? Sim, são bem-vindos. Mas, se os professores usarem a arte nos processos de ensino e de aprendizagem, talvez o resultado seja tão significativo quanto a adoção de tecnologia.

Algumas escolas estão levando a ideia a sério, utilizando as artes em tudo o que fazem. Elas descobrem que a abordagem não apenas aumenta o desempenho escolar como também promove a criatividade e a autoconfiança nos alunos.

A arte é tão relevante que, desde 2016, tornou-se componente curricular obrigatório na nova Base Nacional Comum Curricular (BNCC).

A BNCC define o mínimo que os estudantes devem aprender a cada etapa de ensino. Aprovada em 2017, a Base para a educação infantil e o ensino fundamental passou a valer em 2020 nas escolas. No ensino médio , 13 estados fizeram ou estão fazendo consulta pública sobre os novos currículos.

A disciplina pode aparecer nos currículos escolares na forma de artes visuais, dança, música e teatro. De acordo com os Parâmetros Curriculares Nacionais, o conhecimento da arte abre perspectivas para que o aluno tenha uma compreensão de mundo maior – e na qual a dimensão poética esteja presente e adaptada a cada realidade.

A arte da experiência
Em Porto Alegre (RS), alunas da Escola Municipal de Ensino Infantil Girafinha foram desafiadas pela professora Gisele Rodrigues Soares a criar uma fotonovela (artes visuais). Seis meninas aceitaram a tarefa.

Elas dividiram as ocupações. Uma foi fotógrafa e as demais, atrizes – mas também cenógrafas, figurinistas, maquiadoras e narradoras. Após a finalização do filme, incluindo a colocação de legendas, trilha sonora e efeitos visuais, a produção foi vista pelas demais crianças da escola em sessão de cinema com direito a ingressos confeccionadas pelas meninas.

“Após essa experiência coletiva e cooperativa de produções audiovisuais com crianças pequenas, percebemos como os filmes são altamente produtivos no trabalho junto a elas, que estão imersas em uma cultura midiática desde a mais tenra idade e são autoras de fotos e vídeos no cotidiano de suas famílias”, escreveu a professora e outras colegas, em artigo publicado no portal Desafios da Educação.

“Tais produções e linguagens também são ferramentas de expressão, produzem conhecimento e se constituem em memória de um grupo.”

Também na capital gaúcha, presente em seis instituições da rede municipal, ocorre o projeto Iberê nas Escolas . Fruto de uma parceria entre a Fundação Iberê Camargo e a Prefeitura de Porto Alegre, o projeto propõe que arte-educadores conduzam trabalhos artísticos e brincadeiras lúdicas com o objetivo de auxiliar a formação dos alunos nos quatro eixos de ensino: letramento, numeramento, iniciação científica e educação sensível.

As atividades do Iberê nas Escolas ocorrem no turno inverso das aulas, cinco dias por semana. Cerca de 250 alunos são beneficiados pelo programa.

Uma turma da Escola Municipal de Ensino Fundamental Leocádia Prestes, localizada no bairro Vila Nova, recriou retratos de artistas de diferentes estilos e épocas da história da arte. As crianças participaram da criação e da montagem dos figurinos e fizeram sua interpretação de cada obra, para que as fotografias fossem editadas digitalmente.

O resultado da encenação deu origem a um jogo de memória, no qual a dupla deve ser formada pela obra original e pela obra interpretada pelos alunos. Segundo Mariah Pinheiro, arte-educadora da escola Leocádia Prestes, a atividade “valeu a pena ao perceber as carinhas de surpresa e alegria deles ao se vestirem, maquiarem-se e se ‘transformarem’ em obras de arte”.

Em termos de desempenho escolar, um experimento realizado em duas escolas do distrito de Burlington, Vermont (EUA), resultou em um aumento de 23 para 49% a porcentagem de alunos que obtiveram proficiência no exame do Programa de Avaliação Comum da Nova Inglaterra (NECAP) entre 2009 e 2013.

Como foi a integração da arte nas escolas norte-americanas? Uma lição do 4.º ano sobre geometria, por exemplo, examinou o trabalho do famoso artista plástico russo Wassily Kandinsky. A turma falou sobre seu trabalho e, em seguida, criou sua própria arte usando ângulos no estilo de Kandinsky. Os alunos tinham que ser capazes de identificar os ângulos que eles usaram e apontá-los em sua arte.

Os professores alternaram formas de arte visual, música, dança e teatro. Uma turma do 5.º ano apresentou representações dramáticas da Guerra de Independência dos Estados Unidos. Os alunos usaram os fatos que aprenderam para criar cenas e depois discutiram as conexões dramáticas envolvidas.

A integração artística no currículo pode ser uma ação difícil para os professores que não se sentem criativos demais. Mas não é preciso ser especialista para encorajar os alunos. Basta agir.

“Quando se amplia o repertório cultural, se amplia o olhar para além da sala de aula”, disse Robson Bento Outeiro, superintendente executivo da Fundação Iberê, ao jornal Folha de S. Paulo.

Para ele, a ação colabora com o futuro dos jovens que participaram da atividade. “Não é só cidadania, [o professor] sensibiliza.”

Durante a pandemia do novo coronavírus as atividades artísticas podem (e devem) se adaptarem ao ensino remoto. Neste momento, com aulas virtuais e escolas se preparando para abrir, é importante estimular a sensibilidade nos alunos e ensiná-los com os estímulos corretos.

Incentivar a criatividade em casa é essencial para melhorar o aprendizado das crianças. Além disso, colabora na melhoria e no engajamento dos responsáveis nas atividades dos filhos.

Por Desafios da Educação