Faculdades rivais se unem e compartilham dados

Publicado por Sinepe/PR em

Cinquenta e quatro instituições de ensino superior concorrentes se juntaram para trocar experiências, fazer compras e até oferecer cursos em conjunto, dividindo informações consideradas, até então, estratégicas. A iniciativa é do Semesp, sindicato das mantenedoras de estabelecimentos de ensino superior, que lança neste mês uma plataforma de compra de produtos e serviços para esse grupo de instituições.

“Esse cenário de compartilhamento de dados era impensável há alguns anos, mas hoje vivemos um mercado muito competitivo. O Conselho Nacional de Educação, do MEC, tem 40 pedidos de descredenciamento feitos por instituições que querem encerrar suas atividades”, disse Fábio Reis, diretor de inovação acadêmica e redes de cooperação do Semesp.

Segundo ele, as faculdades participantes do projeto não necessariamente possuem problemas financeiros, mas têm ciência de que são ineficientes em alguma área operacional ou acadêmica. Há escolas, inclusive, bem capitalizadas como a Afya, companhia focada em cursos de medicina que captou US$ 300 milhões em sua oferta inicial de ações na Nasdaq, em julho.

As faculdades com características comuns são reunidas em grupos específicos. Um deles é formado por Insper, Mauá, FAAP, ESPM e Fiap, que têm cursos ligados às áreas de negócios, marketing e inovação e há nove meses estão trabalhando juntas. “A ESPM tinha temor em entrar em cursos tecnológos por acreditar que poderia afetar sua credibilidade. A FAAP, que já atua com essa modalidade, mostrou sua experiência e explicou que não prejudica, porque são públicos distintos”, disse o diretor do Semesp. “A Fiap é a mais digital e trouxe sua expertise para o grupo”, acrescentou.

As cinco instituições desse grupo vão locar juntas um espaço na próxima Fafsa, uma feira estudantil internacional nos Estados Unidos, após aFAAPmostraroaumentonovolume de matrículas de alunos de outros países por conta de sua participação nesse evento, do qual o Insper, por exemplo, não participava.

Outra iniciativa vem dos centros universitários Unifeob e FHO, localizados, respectivamente, nas cidades de São João da Boa Vista e Araras, no interior de São Paulo. Eles vão oferecer a partir de outubro cursos de pós-graduação em conjunto. O acordo funciona da seguinte maneira: cada centro universitário divulga, em sua cidade de origem, os próprios cursos e também os do parceiro. Os alunos poderão fazer a pós-graduação em São João da Boa Vista ou Araras. Quando uma instituição captar alunos em um dos cursos do outro centro universitário, ela ficará com 20% a 30% da receita gerada. A instituição cede sua unidade e o professor responsável pelo curso de pós-graduação, cujas aulas normalmente são semanais ou quinzenas, vai até a outra cidade. A distância entre ambas é de cerca de 100 km.

Atualmente, as 54 participantes estão distribuídas em oito grupos que são classificados pelos seguintes perfis: confessionais ou fundações; confessionais católicas; de pequeno porte; do interior de São Paulo; da capital paulista ou de cidades próximas; com presença nacional; universidades; e de elite.

Apesar dos bons frutos, há alguns grupos que avançaram pouco. Entre eles está, por exemplo, o das instituições menores, normalmente sem uma gestão profissionalizada e que ainda resistem em abrir seus dados.

O Semesp deve dar um importante passo nesse projeto com o lançamento, neste mês, da plataforma que possibilitará às escolas comprar produtos e serviços em conjunto. A iniciativa deve beneficiar, principalmente, os pequenos grupos, que muitas vezes pagam mais caro porque não têm escala. “Há resistência de alguns fornecedores de exporem seus preços que, muitas vezes, são distintos mesmo quando o tamanho do comprador é semelhante”, disse o diretor do Semesp. A plataforma inicia as operações com dez fornecedores e destina-se apenas às instituições participantes do programa de compartilhamento de dados.

Fonte: Por Beth Koike, Valor Econômico
Data: 06/09/2019