Educação em diferentes idiomas

Publicado por Sinepe/PR em

Entrevista com Magdal Frigotto

É baixo o número de brasileiros que falam outro idioma – segundo um levantamento feito pela British Council, 95% de nossa população não sabe se comunicar em inglês, a língua mais difundida em todo o mundo. E foi percebendo a importância de se dominar outro idioma que Magdal Frigotto, ainda durante a faculdade de Administração, começou a atuar na área educacional. Hoje diretor da Talken English School – que se destaca por sua metodologia com abordagem comunicativa e por apresentar as mais altas médias na prova TOEFL no Brasil – Frigotto já acumula mais de 25 anos de experiência e know-how na gestão de escolas de ensino de língua inglesa.

Diretor de Ensino dos Cursos de Idiomas no Sinepe/PR desde 2008, o empresário é o convidado desta edição do Boletim Especial do Sinepe/PR. Na entrevista abaixo, Frigotto analisa cenários, tendências e oportunidades do mercado educacional dos cursos de idiomas.

Sinepe/PR – Dados de 2018 da Associação Brasileira de Franchising (ABF) revelam que as escolas de idiomas representam cerca de 6% do faturamento geral do setor de franquias e que o segmento apresenta uma taxa de crescimento positiva dentro do mercado nos últimos dois anos. O que, na sua opinião, explica estes dados mesmo em um cenário econômico não muito favorável?

Magdal Frigotto – Como sabemos, atualmente temos uma alta taxa de desemprego no Brasil. Concomitantemente, o rendimento de aplicações financeiras tem sido baixo. Esse cenário e a praticamente inexistente regulamentação para se abrir uma escola de inglês, abre oportunidade para investidores e empreendedores oriundos do mercado de trabalho tentar obter melhor retorno de capital. No entanto, há indícios que esse ciclo infelizmente está terminando, pois o mercado está saturado.

Sinepe/PR – Hoje as escolas de idiomas concorrem com as aulas particulares e também com os sites, aplicativos e demais plataformas de ensino de idiomas. Como este novo cenário influenciou o segmento?

Magdal Frigotto – Para a maioria desses alunos, as aulas particulares, sites, aplicativos, assim como as plataformas, funcionam como um incentivador para mais tarde procurar as escolas, que certamente farão importantes complementos no aprendizado. A escola, além de especializada, fornece um ambiente apropriado que faz com que o aluno não desista do curso. Uma minoria de alunos consegue estudar sozinho e obter um alto nível de inglês.

Sinepe/PR – Qual seria, atualmente, o maior desafio dos cursos de idiomas?

Magdal Frigotto – Temos enormes desafios. Em primeiro lugar, entre as próprias escolas de inglês que não são regulamentadas, não obedecendo, portanto, a nenhuma regra que ofereça garantia do aprendizado aos alunos e aos pais. Ainda que o mercado tenha muitas escolas de qualidade, há um grande número de escolas que não produzem bons resultados, mas têm muita eficiência na área comercial. Outro desafio é a concorrência com os projetos bilíngues nas escolas regulares, que até possuem regulamentação e, embora não entreguem resultados compatíveis com as boas escolas de inglês, acabam levando vantagem, pois já têm o aluno na sua carteira.

Sinepe/PR – Em um mercado competitivo, o que fazer para se diferenciar e atrair alunos?

Magdal Frigotto – A inovação tem sido constantemente associada à tecnologia digital. No entanto, assim como em disciplinas básicas como português e matemática, o aluno precisa sentir o aprendizado de maneira prática e associado ao seu cotidiano. Parafernálias tecnológicas quase sempre ajudam na facilitação do processo ensino/aprendizagem, mas nada substitui a criação de um ambiente onde o aluno goste de estar. Fazer com que o aluno queira estar na escola é o desafio.

Sinepe/PR – Com o desenvolvimento de novas mídias e tecnologias, o que mudou na maneira de ensinar e aprender outras línguas?

Magdal Frigotto – Muito além de novas ferramentas, que podem e devem ser utilizadas no processo de ensino, as novas mídias e tecnologias são vistas pelos nossos jovens estudantes como necessidade funcionando, portanto, como um grande incentivador, uma vez que estimulam o aprendizado de inglês, que é o que lhes dará acesso de forma muito mais rápida às novidades, uma vez que os ciclos de renovação estão cada vez mais rápidos e normalmente vem dos Estados Unidos.

Sinepe/PR – Muitos cursos ainda focam apenas na gramática e na ‘decoreba’, deixando a conversação em segundo plano. Como mudar isso?

Magdal Frigotto – Essa é uma das grandes diferenças nas metodologias das escolas. A Abordagem Comunicativa, que como teoria está bastante difundida no mercado, é colocada na prática por poucas. Para muitas escolas, o aluno iniciante no aprendizado de inglês, especialmente o adulto, demanda tradução. Nossa metodologia, onde os professores falam somente inglês em sala, trabalha para quebrar esse paradigma desde a primeira aula de forma que o aluno se sinta confortável, aprenda a pensar em inglês e não se habitue em traduzir. A gramática é ensinada no contexto.

Sinepe/PR – O que é essencial em um bom curso de idiomas?

Magdal Frigotto – Professores qualificados e motivados, submeter o ensino a testes de terceiros (assim como as escolas regulares submetem seus alunos a testes como o ENEM, SAEB entre outros). Além disso, temos um critério de excelência, que entre suas premissas acompanha o desempenho do aluno a cada teste, estipulando altas metas de aproveitamento. Quando esse aproveitamento não é atingido, buscamos, dentro de um conceito de Learning Contract (contrato de aprendizado), juntar as partes envolvidas no processo (aluno, pais, professor, diretor) para, de maneira humanística, identificar os caminhos a serem seguidos para o atingimento das metas propostas.

Sinepe/PR – Quais as principais tendências para o segmento?

Magdal Frigotto – O mercado teve um grande crescimento na década passada, que se sustentou até 2015. Com a crise, muitas empresas cortaram subsídios, convivemos com um alto desemprego e falta de investimento, que gera retração também nos investimentos das empresas em treinamento. A mão de obra no Brasil carece de mais qualificação. Uma grande parte dos estudantes da rede privada, incluindo as escolas de inglês, onde se concentra a melhor qualidade de ensino, ocupa as vagas mais concorridas no serviço público ou vai para profissões autônomas. O mercado corporativo brasileiro não fala inglês e isso é um gargalo a ser combatido. Nossos parceiros/concorrentes do BRICS ou têm inglês como língua oficial (Índia e África do Sul) ou estão investindo seriamente no ensino de inglês. Esse é um desafio enorme para o Brasil, que infelizmente não tem conseguido sequer ensinar de maneira eficiente a própria língua nativa aos seus estudantes.

Sinepe/PR – Quais habilidades e conhecimentos um docente deve ter para atuar em uma escola de idiomas?

Magdal Frigotto – Associar a fluência e conhecimento da língua inglesa a técnicas que façam com que o aluno adquira inglês de alto nível de forma prática. Respeitar e fazer com que o aluno entenda a hierarquia do aprendizado. Constantemente o aluno não consegue lidar com a frustração de saber que, assim como um médico precisa passar pelo ensino fundamental, ensino médio, graduação e residência para poder fazer uma cirurgia, o aluno de inglês precisa fazer um básico, intermediário e um curso avançado para poder ficar fluente. Isso é muito mais latente no aluno adulto, que começa nos níveis básicos e apesar de possuir muito conhecimento, ainda não consegue comunicar-se fluentemente.

Sinepe/PR – Que dica você poderia compartilhar com outros gestores de instituições de cursos de idiomas

Magdal Frigotto – O mercado de escolas de inglês está muito ofertado, há uma diminuição da demanda de alunos em função da crise que assola nosso país. É preciso fazer com que cada centavo que as famílias aplicam no ensino dos filhos seja transformado em resultado. As famílias precisam ver que o esforço delas vale a pena na hora em que os filhos se deparam com uma entrevista em inglês em uma grande empresa, ou quando uma universidade em país de língua inglesa pede um alto score no TOEFL para o filho ser aceito. Para tangibilizar esse sentimento, é necessário provar que o ensino nas escolas de inglês supera o ensino nas escolas regulares, inclusive e principalmente as atuais escolas bilíngues!

*Para falar com o nosso Diretor de Ensino dos Cursos de Idiomas, Magdal Frigotto, entre em contato pelo e-mail magdal@talken.com.br.