IES investem na formação dupla dos atletas

Publicado por Sinepe/PR em

Instituições de ensino superior no Brasil oferecem bolsas de estudos para ajudar atletas de alto rendimento a combinar suas carreiras esportivas com a formação acadêmica

Com as Olimpíadas e as Paralimpíadas de Paris, em 2024, o mundo todo voltou sua atenção para atletas que se dedicam ao esporte de alto rendimento. O que eles estão fazendo no tempo entre uma edição e outra dos Jogos Olímpicos? Muitos deles, além de atuarem profissionalmente no campo esportivo, estudam em universidades no Brasil e no exterior, com o apoio de bolsas de estudos.

No Brasil, a ginasta e multimedalhista Rebeca Andrade, por exemplo, é aluna do curso de Psicologia da Universidade Estácio de Sá desde 2022. Assim como ela, Fernando Scheffer, Daniele Hypólito, Laís Souza, Jade Barbosa e Lucas Vertein, entre outros esportistas, se tornaram estudantes da instituição, com suporte acadêmico personalizado, a partir de um núcleo exclusivo para os atletas-bolsistas. Atualmente, a Estácio oferece cursos técnicos, de graduação e de extensão, como pós-graduação, MBA, mestrado e doutorado, em unidades de ensino em todo o país, tem mais de dois mil polos de ensino digital e 750 mil alunos.

O Centro Universitário Instituto de Educação Superior de Brasília (IESB) também oferece bolsas parciais ou integrais àqueles que desejam conciliar os treinos, as competições e os estudos, de olho em novas perspectivas para seu próprio futuro profissional. Caio Bonfim, atleta de marcha atlética e medalhista em Paris 2024, é um dos egressos do IESB que conciliou estudos e carreira esportiva nos últimos anos. O Instituto dispõe de três campi no Distrito Federal, além de 50 polos para atividades práticas e laborais espalhados por todas as regiões brasileiras.

Uma década de olho no esporte

Segundo o reitor Luiz Cláudio Costa, o IESB começou a investir no esporte brasileiro em 2014, quando foi um dos patrocinadores da Superliga Feminina de Vôlei, campeonato nacional realizado pela Confederação Brasileira de Voleibol (CBV). “Desde então, seguimos com esse interesse de investimento, em todos os sentidos, da formação, da oportunidade e, claro, da divulgação e consolidação da nossa marca”, explica o reitor. Além do suporte como patrocinador em campeonatos de futsal, basquete e outras modalidades, o IESB oferece bolsas de estudos a partir do Programa Bolsa Atleta. No último relatório do Instituto, em 2022, havia 69 esportistas beneficiados pelo projeto – metade deles com bolsas de 100%.

A ex-atleta e egressa do curso de educação física Amanda Pereira é uma das beneficiárias do Programa Bolsa Atleta. Em 2019, ela e outras colegas do Cerrado Basquete, sediado em Brasília (DF), receberam uma oportunidade importante: estudar gratuitamente no IESB enquanto atuavam como jogadoras do time brasileiro. Amanda lembra que foi uma jornada difícil, mas com final gratificante. “Eu participei de três campeonatos brasileiros Sub-22 como atleta do Cerrado e dos Jogos Universitários Brasileiros (JUBs) como atleta do IESB”, conta.

Ela morava em Planaltina (GO), portanto, havia uma rotina intensa de viagens entre treinos, faculdade e casa. “Hoje estou formada, sou uma personal trainer e já estou começando o curso de fisioterapia. Para mim, essa foi uma grande oportunidade, porque muitos atletas querem estudar, mas não têm condições financeiras ou não conseguem conciliar as duas coisas. Infelizmente, uma hora a gente vai envelhecer, ter lesões, então é importante encontrar essas portas abertas”, afirma Amanda.

O reitor Luiz Costa lembra que o papel das instituições de ensino superior é cumprir seu papel social de oferecer uma educação de qualidade e, nesse contexto, precisa reconhecer as necessidades do seu entorno e o que consegue agregar. “Uma universidade privada não pode suprir o poder público e fazer atividades que não são de sua competência. No entanto, conseguimos ter (e temos) vários projetos sociais. Temos projetos de letramento, de nutrição, de atendimento para jovens mães e outros, nos quais estão envolvidos os nossos estudantes. Com esse aprendizado, nós estamos formando cidadãos”, diz o reitor. No caso dos alunos de educação física, Costa acredita que o contato e o trabalho com os atletas de alto rendimento são de grande relevância acadêmica e social.

Da base ao alto rendimento

A Estácio de Sá, em parceria com o Instituto Yduqs, uma holding de capital aberto com foco no ensino superior, desenvolve projetos focados na formação de atletas da base ao alto rendimento, tanto olímpicos quanto paralímpicos há mais de 15 anos. O principal deles, de acordo com Claudia Romano, presidente do Instituto Yduqs e vice-presidente do grupo educacional Yduqs, é o Programa de Transição de Carreira, que oferece suporte acadêmico personalizado para os atletas, ajudando-os a garantir um segundo momento profissional bem-sucedido, para além das competições.

Além disso, a Estácio dispõe de atendimento exclusivo para atletas em formação superior, pensando nas agendas comprometidas que a maioria deles tem. “Todo o trabalho desenvolvido tem como objetivo possibilitar que os esportistas conciliem sua jornada acadêmica com o esporte. Nesse caso, um dos maiores aliados é o ensino a distância (EAD), já que a modalidade permite que os atletas não interrompam seus estudos por conta da rotina intensa de treinamentos e competições”, explica Claudia Romano.

O atleta olímpico de esqui cross-country e aluno de educação física da Estácio de Sá, Victor Santos, conta que fazer o curso na modalidade EAD realmente é uma vantagem. “Eu consigo conciliar bem, mesmo quando estou viajando, consigo estudar e treinar. É difícil quando estou cansado, mas, ainda assim, é possível por ser online”, diz. A oferta de bolsa da Estácio chegou a partir de um convite do Comitê Olímpico Brasileiro, que tem uma parceria com a faculdade. “No e-mail, diziam que eu me encaixava no perfil, então corri atrás para fazer os testes e começar”, lembra.

Para ele, o interesse em atuar como atleta profissional e estudar ao mesmo tempo vem da vontade futura de atuar como treinador. “É importante ter uma formação para que eu possa trabalhar com equipes no Brasil, não só do esqui cross-country, mas em outras áreas que alcançam a educação física”, destaca Victor, que ingressou em 2022 com 100% de bolsa.

Tanto a Estácio quanto a holding Yduqs são parceiras de mais de 50 instituições, incluindo confederações, federações, clubes e institutos ligados ao esporte, como o Instituto Fernanda Keller, Projeto Grael, Escola de Vôlei Bernardinho, Instituto Guga Kuerten, Instituto Reação, Comitê Olímpico do Brasil e Comitê Paralímpico Brasileiro, entre outros. Segundo Claudia, o impacto que se busca com essas iniciativas é o de desenvolvimento social: “Para cada atleta de alto rendimento de que estamos falando, há outros 100, 200 meninos e meninas que estão melhorando a autoestima, perspectiva de vida e resiliência por causa de ações dessa natureza. Além disso, do ponto de vista institucional, o nosso ganho é a estima e o carinho daqueles que compartilham esses valores”.

Ainda avaliando institucionalmente, a presidente da Yduqs afirma que a participação de alunos-atletas, tanto nas Olimpíadas quanto nas Paralimpíadas, tem repercussão e impacto positivos. “Eles servem como modelos de sucesso e inspiração, demonstrando o impacto positivo do apoio acadêmico nas suas carreiras esportivas. A visibilidade dos nossos alunos também aumenta o reconhecimento da nossa marca e solidifica nosso papel como líder na combinação de educação e esporte”, defende Claudia.

Rumo a mais uma conquista

O atleta olímpico Max Batista Gonçalves dos Santos iniciou sua carreira no atletismo em junho de 2006, no Centro de Atletismo de Sobradinho (Caso – DF). “Eu fui conhecer um projeto social a convite de um amigo, que era meu vizinho, mas, a princípio, meu interesse era o lanche servido ao final, pois minha família passava por algumas dificuldades na época”, diz. Já a descoberta da marcha atlética, modalidade em que ele competiu nas Olimpíadas de Paris 2024, aconteceu um pouco mais tarde: “Acabei me apaixonando pelo esporte, só que a marcha atlética eu só descobri em 2008/2009. [Antes], eu tentava outras modalidades, mas não me encaixava”, completa Max.

Quanto ao curso que gostaria de fazer na universidade, o atleta, que é calouro do IESB, não teve dúvidas – ele escolheu a educação física. Max conheceu o Programa Atleta Graduado, startup fundada em 2022 por Sérgio Maraca, coordenador do curso de educação física do instituto, e se interessou pela oportunidade. Segundo o site do IESB, um dos principais parceiros da startup, a missão desse projeto é incentivar e facilitar o acesso à educação para os atletas brasileiros, em qualquer nível técnico ou modalidade esportiva. Assim, por meio da oferta de bolsas, tenta solucionar alguns dos problemas sociais do cenário esportivo brasileiro, como a relação entre a educação e o esporte, a dupla carreira e a pós-carreira dos atletas.

“Vi no Programa Atleta Graduado um incentivo para cuidar dos estudos, porque, mais cedo ou mais tarde, o tempo vai me vencer e eu vou deixar de ser atleta. Apesar de a marcha atlética proporcionar longevidade e ter pessoas competindo com 51 anos, existe um prazo de validade e eu preciso pensar no futuro. O estudo não tem esse prazo e o conhecimento que você carrega fica para o resto da vida. Com a formação em educação física, eu vou poder continuar no esporte até depois que me aposentar das pistas”, argumenta Max.

Daqui a quatro anos, quando estiverem acontecendo as Olimpíadas de Los Angeles, o atleta, provavelmente, estará prestes a concluir seus estudos na universidade, o que, segundo ele, será uma conquista a ser comemorada: “Eu vejo essa oportunidade como uma valorização, de olharem para a gente não só como atleta de alta performance, mas como cidadão. No final da minha carreira, eu vou poder falar que eu também tenho um diploma”, conclui.

Os números da Estácio de Sá nas Olimpíadas de Paris são de 35 atletas – alunos e formados – apoiados pela instituição, dos quais cinco conquistaram medalhas – Daniel Borges (do judô); Rebeca Andrade, Flávia Saraiva, Jade Barbosa e Lorrane Oliveira (da ginástica). Nas Paralimpíadas, esse número sobe para 42 alunos-atletas competindo, entre eles, Ricardo Mendonça (do atletismo), Edênia Garcia (da natação) e Ymanitu Geon da Silva (tênis em cadeira de rodas).

Na visão de Claudia Romano, a continuidade do apoio ao esporte e à inclusão é uma das prioridades dessa parceria entre Estácio e Yduqs, que tem possibilitado ainda outras experiências para seus estudantes nas Olimpíadas. Em Tóquio, nove alunos do curso de gastronomia da Estácio viajaram com o Comitê Olímpico do Brasil para atuarem, junto ao grupo responsável, no preparo da alimentação dos atletas brasileiros. Em 2024, outros cinco estudantes, dos cursos de jornalismo, produção de audiovisual, fotografia e publicidade, fizeram a cobertura da competição na Casa do Brasil, que foi ponto de encontro de torcedores, autoridades e atletas em Paris.

Por: Revista Ensino Superior