Por que ouvir música facilita a aprendizagem de um novo idioma?

Publicado por Sinepe/PR em

Na educação infantil e no ensino fundamental, as canções ajudam a memorizar frases e vocabulário de forma significativa e divertida

Se há um senso comum entre os professores de idiomas, certamente é o apoio da música para o aprendizado de uma língua estrangeira. Pais, cuidadores e responsáveis que costumam cantar com seus filhos desde pequenos também podem comprovar: de um dia para o outro, as crianças começam a cantar trechos inteiros das canções que ouvem frequentemente, sem dificuldade.

O professor Cláudio Britto, que leciona inglês para as turmas do pré e do primeiro ano na EMEIEF (Escola Municipal de Educação Infantil e de Ensino Fundamental) Genciano Guerreiro de Brito, em Maracanaú (CE), está acostumado com essa rapidez de aprendizado. “A música é uma ferramenta muito potente, diria fundamental, ainda mais para as crianças não alfabetizadas. Elas brincam enquanto aprendem, reparam em tudo. Os pequenos têm grande capacidade auditiva e repetem com uma fluência bem prazerosa de escutar”, explica.

Nestes 30 anos de profissão docente, Cláudio nunca abriu mão das músicas em seu planejamento pedagógico. “Quanto a criança tem contato com um novo idioma, ela aprende melhor, porque ainda não carrega os vícios da língua materna. O listening (ouvir) puxa o speaking (falar)”. Ele também destaca a capacidade de concentração entre os benefícios de levar a música para os estudantes. “Aperto o play sempre que a turma está inquieta, hiperativa. Colocar ‘Let it Be’, dos Beatles, é uma das minhas técnicas, pois costuma ajudá-los a se acalmar”, diz. “Já observei muitas situações em que meus alunos, inclusive os autistas, conseguem relaxar ao som de uma música”, comenta.

Como a música facilita a aprendizagem

A ciência mostra como as crianças são especialmente predispostas a formar conexões baseadas na música. Uma reportagem do jornal Washington Post ouviu Patrick Savage, diretor do Keio University CompMusic Lab, no Japão. Ele afirma: “A música atinge os centros emocionais e de memória do cérebro, então informações e instruções transmitidas por meio de canções têm mais chance de serem memorizadas”.

A matéria também ouviu Joan Koenig, autora do livro “The Musical Child” (A criança musical, em tradução livre), que comentou: “O centro de pensamento do cérebro não se desenvolve até o final dos 20 anos. Mas, com a música, temos essa ferramenta que envolve as crianças em uma linguagem que elas podem entender e sentir através da vibração.”

Atividades na escola que envolvam música ajudam os pequenos no domínio da oralidade, no sentido de modelar a pronúncia e a entonação, em um contexto divertido com o qual elas se conectam emocionalmente. “Isso auxilia na construção de um ambiente favorável à aprendizagem”, explica Kelly Lopez, assessora pedagógica da Wings – solução educacional para o ensino da língua inglesa nos anos iniciais do ensino fundamental e na educação infantil da rede pública. “As músicas, especialmente as infantis, têm melodias animadas e refrões que se repetem a ajudam na aprendizagem de frases e vocabulários de uma forma significativa e divertida.”

Além disso, a música pode ser um importante suporte para gerenciar a sala e estabelecer rotinas, como faz Cláudio. “O professor pode escolher uma música para cantar ou tocar toda vez que for a hora de terminar a aula, organizar materiais, ir para o recreio ou quando precisam fazer silêncio e estarem atentos para ouvir uma estória, por exemplo”, complementa Kelly. Na alfabetização e mesmo na fase adulta, diferentes canções são bons recursos para o ensino de gramática, vocabulário, pronúncia e entonação.

Ouvi-las também aumenta habilidades como escuta, cooperação e confiança entre todas as idades. “Já adulto, eu aprendi com um professor que ouvir Frank Sinatra era o melhor jeito de aprender inglês. Meu pai costumava colocar o disco na vitrola, e eu não gostava quando criança, mas entendi a dica ao ouvir com calma”, diz, entre risos. “O Sinatra canta quase falando, pausadamente… É um jeito muito legal para os mais velhos treinarem o inglês”, comenta.

Com as crianças, as possibilidades são ainda maiores. “Muitas músicas infantis, por exemplo, requerem alguma ação (física), como a famosa ‘head, shoulders, knees and toes’ (cabeça, ombro, joelho e pé), onde é preciso tocar a parte do corpo correspondente enquanto se canta a canção. Isso ajuda na memorização do vocabulário de forma associativa”, diz Kelly. Ela também volta aos Beatles com a ideia de usar “Hello, Goodbye” para ensinar perguntas, respostas e cumprimentos. “É importante fazer a escolha da música de acordo com seu objetivo pedagógico e considerar a faixa etária dos estudantes”, reforça.

Também assessor pedagógico da Wings, André complementa que a brincadeira ligada à música precisa estar bem veiculada à prática do professor, levando em consideração a faixa etária de cada estudante. “Ela deve ser intencional e guiada por um propósito pedagógico, pois assim tornará o aprendizado mais dinâmico e envolvente para os alunos. É essencial que as brincadeiras tenham objetivos bem delineados, mantendo o foco no ensino e na aprendizagem, e incentivando o uso da língua inglesa de forma natural e contextualizada.”

A animação com o aprendizado das músicas em inglês na escola do professor Cláudio é tão grande que ele está organizando uma edição do “The Voice”, famoso programa da televisão, para acontecer no recreio da escola. Com participação voluntária, os alunos vão escolher o que querem cantar e se apresentar. “Tudo será uma grande brincadeira, claro. Não há disputa, é uma maneira de despertar o interesse deles em cantar e demonstrar o interesse por em outro idioma”, comenta.

Por: Porvir