Estratégias de leitura: mensagens explícitas e implícitas

Publicado por Sinepe/PR em

Ajude a turma a refletir sobre informações que não estão evidentes nos textos verbais e não-verbais

Em um texto cabem inspirações inimagináveis. Por meio dele, temos acesso direto ao empírico, mas também ao acadêmico, ao poético. Um plano observável de configurações concretas e abstratas, concomitantemente.

Discurso, por sua vez, é a instância em que o texto se realiza, refletindo a história, a ideologia, o psíquico, o fruto da interação entre sujeitos em situações concretas.

Texto e discurso se mesclam e estabelecem um diálogo que se transforma em um fenômeno temporal de troca. Para a professora Antónia Coutinho (2004), o discurso é “prática linguística codificada, associada a uma prática social (socioinstitucional) historicamente situada”.

Entendemos que o discurso nos leva aos implícitos textuais, àquilo que não foi dito e espera ser descoberto por meio de um processo de interlocução.

Assim, vamos recapitular o que os anos 2000 traziam consigo: “o bug do milênio”, o prenúncio do apocalipse que nossos alunos não conheceram. A passagem provocou medo e profecias dramáticas. No entanto, tudo isso fazia parte de uma catástrofe que, sob a mudança de milênio, não aconteceu.

Se o fim do mundo fosse noticiado, teria várias conotações e, cartografando algumas delas, encontramos o fim do mundo na mídia que ainda circula pela internet tratando com humor os perfis de jornais e revistas e fazendo um exercício de imaginar como seriam as manchetes para a fatídica data levando em conta a linha editorial de cada um deles. Veja algumas:

  • Jornal do Brasil – “Fim do mundo espalha terror na Zona Sul”
  • O Dia – “Fim do mundo prejudica servidores”
  • A Tarde – “Apocalipse no Pelô”
  • Tribuna de Alagoas – “Delegado afirma que fim do mundo será crime passional”
  • Estado de Minas – “Será que o mundo acaba mesmo?”
  • Gazeta Esportiva – “Timão desfalcado para o fim do mundo”
  • Jornal dos Sports – “Nem o fim do mundo segura o Mengão!”

Uma brincadeira que nos estimula a uma reflexão sobre o que os discursos nos comunicam, sua interação ideológica e intencional. Assim, sugiro que você convide sua turma a ler manchetes sobre uma mesma temática e analisar as entrelinhas propostas pelo veículo usado para comunicar a informação.

Acione em seus alunos habilidades motivadas pelas condições de produção do discurso. Peça que escolham uma história – pode ser um conto ou uma fábula – e recriem o discurso conforme a análise que fizeram previamente em relação aos mecanismos propagados pela mídia e qual as intenções pretendem comunicar por meio do discurso.

O linguista francês Jean-Michel Adam afirma que “não diremos jamais que um texto ou um discurso é composto de frases. A própria existência de frases tipográficas — como os parágrafos, os períodos, as sequências e os textos — resulta de escolhas instrucionais plurideterminadas.”

Textos e contextos

Reparem no hit que circulou no último mês, viralizou e se tornou sinônimo de amizade sincera e verdadeira: casca de bala.

A expressão saltou das vaquejadas nordestinas em que dois vaqueiros disputam a queda de boi puxando-o pelo rabo e revela diversidade sociocultural regulada pela prática discursiva humana.

Busque exemplos de sua região que podem comunicar escolhas plurideterminadas pelo contexto em que foram produzidas. Se julgar oportuno, “pode partir sem problema algum” com o Carimbador Maluco e revistar questões políticas que estiveram presentes em muitos momentos de debate e envolviam a restauração do regime democrático no Brasil. Ressalte que Raul Seixas esteve afinado com a problemática de sua época e tinha em sua essência um espírito reformista.

Utilize com seus alunos a metodologia ativa de sala de aula invertida para problematizar o discurso que pretende comunicar com a turma. Peça para que façam um levantamento de hipóteses sobre as canções que circulam na atualidade, em quais contextos surgiram e o que dizem sobre seus atores e que tipo interação estabelecem com vida em sociedade. Para concluir a atividade, oriente a sumarização das principais questões abordadas.

Interpretação de textos não-verbais

O texto não-verbal traz diversas intenções implícitas nos discursos do cotidiano em suas múltiplas linguagens que estão relacionadas ao produtor, o que define posturas, expõe opiniões, critica fatos e determina novas leituras.

As campanhas publicitárias são mestras nessa arte. Por não usar vocábulos ou palavras para a comunicação, objetiva expor o que se quer dizer por meio de signos visuais. Outras vezes, conjugam imagem e palavras intencionalmente com o objetivo de persuadir os interlocutores com o seu ponto de vista e induzir determinada ação ou mudança de comportamento. São enfáticas quando exploram gestos contínuos para reforçar a logomarca junto ao cliente; utilizam a argumentação valendo-se do apelo ao sentido figurado e a uma linguagem acessível ao público que pretende atingir.

Escolha temas recorrentes em nossa sociedade e organize com sua turma uma campanha publicitária. Poderá usar spot, cartaz, folheto, anúncio ou outro gênero do domínio discursivo publicitário, o importante é provocar com a intenção de convencer, preservando a identidade e o contexto de circulação.

Por: Nova Escola