Campanha nacional defende infância livre dos excessos das telas

Publicado por Sinepe/PR em

Com base em pesquisas científicas sobre o acesso aos dispositivos eletrônicos, o uso inadequado e as consequências à saúde mental das crianças, projeto busca conscientizar para reconhecer situações de risco

Você já pensou sobre os riscos que o excesso de exposição às telas pode trazer para as crianças? Essa é a pergunta em destaque no site Infância Livre de Telas. O questionamento vem acompanhado de dados recentes que reforçam a urgência do debate. De acordo com a pesquisa TIC Kids Online 2023, 24% dos entrevistados começaram a se conectar à rede na primeira infância, ou seja, até os seis anos de idade. Na edição de 2015, essa proporção era de 11%. Atualmente, 95% da população de 9 a 17 anos usa internet no Brasil, o que representa 25 milhões de pessoas.

Os objetivos da campanha são promover o uso consciente dos dispositivos e das redes e levar reflexão aos pais, responsáveis, educadores e cuidadores. O portal vai reunir pesquisas e informações sobre o tema, com uma curadoria voltada ao entretenimento em livrarias, brinquedotecas e parques, entre outras atividades ao ar livre. O projeto é desenvolvido para a Editora Timo pela McCann Health Brasil, com o apoio da Associação Brasileira do Livre Brincar, entre outras instituições.

Os riscos do uso indevido e abusivo da internet por crianças e adolescentes também é tema central de um grupo de trabalho instituído em março deste ano pelo governo federal. A equipe deve construir um guia para uso consciente de telas voltado às escolas e às famílias, que servirá de base para políticas públicas.

Danos causados pelo excesso

Um de seus apoiadores é o pediatra Daniel Becker, que também integra a campanha Infância Livre de Telas. Em entrevista à Agência Brasil, o especialista enumera uma série de danos causados pelo uso inadequado dos dispositivos.

“Não há mais dúvida nenhuma, na sociedade e na ciência, sobre os danos múltiplos e multidimensionais que o mau uso e o excesso de telas estão causando na infância e na adolescência”, afirma. Os prejuízos, de acordo com o médico, passam por hábitos sedentários, desenvolvimento de distúrbios visuais como miopia e alterações no sono, além de comprometimentos cognitivos e emocionais, como a falta de atenção e o pouco desenvolvimento de habilidades interpessoais.

“Nos pequenos, já está mais do que comprovado. Há estudos com 7 mil crianças mostrando que o uso de telas, em menores de um ou dois anos, leva prejuízos ao desenvolvimento motor, cognitivo e emocional, mais tarde nessa criança mais velha”, reforça o especialista, que ainda aponta outros aspectos negativos, como a perda de concentração. “Ela vai perdendo a habilidade fundamental da leitura, não consegue fixar a atenção numa fala que dure um pouco mais de tempo porque passa a estar acostumada com a hiper estimulação dos vídeos curtos e dessa troca de conteúdo muito rápida.”

O Porvir tratou do assunto no podcast “De 0 a 5”. O episódio “Tecnologia e educação infantil combinam?” reflete a importância de que a escola entenda seu papel na inserção da tecnologia na primeira infância, bem como aborda como deve ser o diálogo entre as famílias e quais as sugestões para garantir um uso saudável – se não for possível ficar sem tecnologia neste período.

Como reconhecer as violências?

O contato com conteúdo violentos e preconceituosos e o aliciamento por criminosos, como os casos relatados no guia multimídia Escola Livre de Ódio, do Porvir, somam-se à campanha pelo controle de acesso às telas.

De acordo com Rodrigo Nejm, doutor em psicologia e consultor em educação digital e proteção online, é preciso pensar na presença digital dessas crianças e adolescentes, tomando todos os cuidados de segurança que teríamos em outros ambientes de vida. “Isso significa educá-los para que saibam reconhecer situações de risco e o que fazer caso sofram algum dano ou violência.”

Um aspecto importante do uso excessivo é pensar que as plataformas de redes sociais são feitas com tecnologia para estimular o máximo de engajamento dos usuários, inclusive de crianças e adolescentes, aponta Rodrigo.

“Essas plataformas empregam recursos de persuasão no design, o que é muito questionável. Vários países estão processando as empresas de redes sociais porque têm evidências agora de que foram investidos milhões de dólares para criar funcionalidades que mantêm os jovens excessivamente conectados. Esse fenômeno pode resultar em exposição a conteúdo violentos e perigosos para a saúde mental e física. Além disso, esse excesso pode prejudicar o sono e o desempenho acadêmico”, contou Rodrigo, em entrevista ao Porvir.

Quando questionado sobre a responsabilidade pela mediação do uso, Rodrigo destaca que se trata de uma questão coletiva. “Às vezes, as políticas públicas não abordam esse problema, tornando-se muito perigoso onerar apenas as famílias ou as escolas, sem responsabilizar também as próprias empresas de tecnologia. Portanto, esse é um cuidado compartilhado, de responsabilidade da família, da escola, do estado e também das próprias empresas de tecnologia. Estas últimas precisam investir mais em esforços educativos para o uso seguro da internet. Isso inclui um esforço de mudança no próprio produto da plataforma, que pode ter maior escala e maior eficiência”, sugere.

Por: Porvir