Crise na saúde mental dos universitários

Publicado por Sinepe/PR em

Com a perspectiva de colaborar com a defasagem de dados, o Semesp e o consórcio espanhol se uniram para levar adiante a pesquisa com estudantes universitários brasileiros, em 2024

A Organização Mundial de Saúde deu o alerta no segundo semestre do ano passado: cerca de 35% dos estudantes universitários enfrentam problemas de saúde mental. Outro estudo, o Healthy Minds Network – iniciativa de acadêmicos dos EUA – apontou que em 2022-2023, num universo de 76.406 estudantes universitários norte-americanos, 41% apresentaram sintomas de depressão e 36% apresentaram sintomas de transtorno de ansiedade. 14% pensaram em sucídio nos últimos 12 meses.

Em 2023, na edição 272, a revista Ensino Superior trouxe entrevista exclusiva da repórter Luciana Alvarez com o psiquiatra espanhol Vicent Balanzá-Martínez, um dos líderes da pesquisa realizada com 1,7 milhão de estudantes universitários espanhóis, uma iniciativa entre os Ministérios das Universidades e da Saúde com o Centro de Investigación Biomédica en Red de Salud Mental (CIBERSAM), financiador do estudo. Os resultados se assemelham aos da OMS: um de cada três estudantes teve ao menos um problema de saúde mental nos últimos 12 meses. E entre eles, só um de cada oito recebeu algum tratamento.

Pesquisa local

No Brasil, faltam pesquisas de fôlego para comprovar esse fenômeno que, segundo Martinez, é global e já se configura como uma crise na saúde mental dos universitários. A pandemia agravou o quadro, mas não é a única causa.

Com a perspectiva de colaborar com a defasagem de dados, o Semesp e o consórcio espanhol se uniram para levar adiante a pesquisa com estudantes universitários brasileiros, em 2024. Para Martinez, para tentar compreender a crise, é necessário levar em conta fatores biológicos, psicológicos e sociais. Ele menciona, ainda, fatores agravantes como pobreza e falta de acesso a tratamento.

A perguntas certas

Nos EUA, estudos de saúde mental nas universidades levam em conta raça e orientação sexual. De acordo com copilagem de informações do The Journalist’s resource, “alguns grupos de estudantes enfrentam estressores adicionais, como racismo e discriminação – tópicos que as notícias sobre saúde mental na faculdade geralmente ignoram ou encobrem”. A descontinuidade das ações afirmativas deve aumentar o isolamento e diminuir o senso de pertencimento.

No Brasil, se não há pesquisa com abordagem quantitativa mais abrangente, há outras investigações que apontam as consequências do racismo estrutural na vida dos estudantes negros, muitas delas realizadas por pesquisadores negros. Indígenas e estudantes LGBT também são mais vulneráveis à discriminação.

Raça, gênero e orientação sexual são indicadores indispensáveis para uma pesquisa sobre saúde mental que pretende trazer apontamentos para a necessária mudança cultural nos campi em favor do bem estar de toda a comunidade acadêmica. Para além de buscar ações para diminuição do sofrimento psíquico, são recortes necessários para a tentativa de diminuir a pré-evasão – a sensação que acomete o estudante de que o ensino superior não é acessível para ele –, e para nortear ações que favoreçam a permanência.

Por: Revista Ensino Superior