Primeiros passos para a alfabetização matemática

Publicado por Sinepe/PR em

Garanta espaço na rotina para essas aprendizagens e confira dicas para planejar as primeiras atividades do ano na volta às aulas

Retornamos para começar mais um novo percurso. No livro Quem educa o corpo do outro, Fátima Freire escreve: “aquele que volta se prepara para receber e ser recebido pelo outro” (página 96). Para a autora, “receber o outro, tendo se preparado para ele, é um ato de amor e ao mesmo tempo anuncia/denuncia o tipo de vínculo que quero construir” (página 46).

Assim somos nós, professores, estamos sempre nos preparando para receber uma nova turma, um novo aluno. Esse trabalho diz muito a respeito de nossa própria concepção de ensino e aprendizagem. Que tal começarmos refletindo sobre isso? Olhar para nossa prática e as escolhas que fazemos diariamente.

Por que planejar bem a alfabetização matemática

Apesar da alfabetização matemática ser tão importante quanto a da língua escrita, a primeira acaba, muitas vezes, ficando em segundo plano. Assim como dominar o sistema alfabético, alfabetizar matematicamente está imbricado ao trabalho de letrar matematicamente, ou seja, que o estudante apropria-se das noções matemáticas inseridas nas práticas sociais.

O que isto significa na prática? Quer dizer trabalhar os objetos do conhecimento da Matemática de forma contextualizada, dentro das práticas cotidianas nas quais as crianças estão inseridas. Por exemplo, para aprender sobre os números utilizar o calendário, os jogos e os registros das brincadeiras. Esse tipo de prática é muito diferente de “ensinar” de uma forma mecânica, com exercícios repetitivos.

Quando desconecto a Matemática de suas práticas sociais, tiro a oportunidade do aluno aprender a ler, a escrever e a interpretar a linguagem matemática além dos muros da escola, impossibilitando-o de fazer a leitura do mundo que o cerca.

Diagnóstico para verificar o que cada um já sabe

O primeiro passo para dar início a esse letramento é identificar os conhecimentos prévios sobre os aspectos matemáticos. Ainda que não conheçam a nomenclatura ou como sistematizar, noções de medida, quantificação, classificação, seriação, espaço e formas são trazidas pelos estudantes pelas vivências que acumulam desde pequenos.

Para tal, prepare uma avaliação diagnóstica, trace o perfil da sala e de cada um em particular – essa verificação pode ser feita, por exemplo, utilizando jogos como compartilhei neste texto.

Depois de aplicar essa atividade, é necessário fazer a análise dos dados obtidos – seu coordenador poderá te auxiliar neste momento. Essas informações serão fundamentais para planejar propostas que permitam o avanço de todos, que permitam circular os conhecimentos. Uma aprendizagem torna-se significativa quando o estudante consegue relacionar o conhecimento novo com o que já sabe, conhece e vivencia sobre o que está sendo proposto.

Planeje as primeiras propostas do ano

O trabalho pedagógico começa pela organização do ambiente da sala de aula. Todo material que escolhemos para compor esse espaço deve vir carregado de intencionalidade pedagógica, por isso é importante ter claro o porquê de cada elemento e como o utilizaremos.

Pensando na alfabetização matemática, sugiro ter:

  • Calendário;
  • Quadro de números;
  • Reta numérica;
  • Cantinho com jogos;
  • Gêneros textuais, ligados às práticas sociais, que abordam a Matemática.

Garanta uma rotina para a alfabetização matemática

Inserir jogos matemáticos no planejamento semanal, conectados a uma sequência didática com objetivos claros, permite desenvolver aprendizagens significativas, despertando o prazer em aprender Matemática e perceber como ela está presente em tudo em nossas vidas.

Outra sugestão é propor desafios para que os alunos resolvam individualmente, depois podem discuti-los em pequenos grupos. Ao final, todos socializam e sistematizam as diferentes estratégias de resolução. Dessa forma, a turma perceberá o quanto é capaz, criando um ambiente onde possam aprender com os erros. Não esqueça de sempre solicitar que expliquem como pensaram para resolver a situação proposta – independente de ter chegado ou não ao resultado esperado. Ouvir o aluno e suas hipóteses a respeito de como pensou também é uma forma de levantar informações sobre os saberes trazidos.

O processo da alfabetização matemática continua durante toda a jornada escolar do estudante. Quanto mais investimos na alfabetização e no letramento matemático, maior será o desenvolvimento das habilidades e competências relacionadas aos diferentes objetos de conhecimento.

Para finalizar nossa conversa, uso as palavras de Fátima Freire: “quanto mais claro estiver o meu compromisso, o meu envolvimento afetivo-profissional com o meu trabalho pedagógico e meu grupo, mais gostoso, mais alegre, seguro e tranquilo será o meu voltar” (página 96).

Por: Nova Escola