Quais habilidades urgentes podem ser desenvolvidas com a tecnologia?

Publicado por Sinepe/PR em

A tecnologia não só provoca mudanças sociais, mas também pode servir de suporte ao desenvolvimento dos estudantes ao longo do tempo

O século 21 é marcado por mudanças tecnológicas e sociais rápidas. Nesse contexto, as competências e habilidades exigidas dos estudantes também se modificaram.

A tecnologia acelerou muitos processos, o que mudou a forma como vivemos e trabalhamos. Por exemplo, a internet tornou possível o acesso a informações e a comunicação instantânea, o que exige dos estudantes a capacidade de se adaptar a essas mudanças.

O objetivo da educação continua o mesmo: formar seres humanos capazes de socializar e existir no mundo com sua máxima capacidade. No entanto, os desafios digitais surgem a todo tempo, trazendo consigo novas demandas, e as ferramentas educacionais precisam evoluir na mesma medida.

Assim como a tecnologia influencia essas mudanças, ela também é um meio de desenvolver habilidades necessárias para navegar por esse mundo. E qual o papel do professor nesse cenário dinâmico?

Mais tecnologia, mais habilidades?

Carolina Pavanelli, diretora do time pedagógico de Árvore, lembra que o desenvolvimento de habilidades por meio da tecnologia depende da intencionalidade de cada educador. Entre as que podem ser desenvolvidas com ferramentas tecnológicas, ela destaca o letramento (linguístico ou computacional), pensamento crítico, comunicação, curiosidade e consciência sociocultural/visão de mundo.

“A amplitude dos meios digitais ajudam a entregar mais possibilidades para os estudantes internalizarem e praticarem essas habilidades”, afirma.

Reinier Freitas, gestor e empreendedor educacional da Edustream Educação Inovadora, também acredita que as habilidades que envolvem comunicação e letramento digital podem ser apoiadas pela tecnologia. Ele cita análise de dados, segurança cibernética e programação como áreas que exigirão uma boa dose de preparação.

Ter a habilidade de coletar, processar e analisar dados para tomar decisões baseadas em informações, saber como proteger sistemas e redes contra ataques digitais e entender a lógica de programação para criar aplicativos e programas são habilidades citadas por Reinier que não apenas podem ser desenvolvidas com o apoio das tecnologias, como estão diretamente ligadas a elas.

Para seguir adiante

Ao sair da educação básica, espera-se que os estudantes tenham desenvolvido competências que os auxiliem a desempenhar uma carreira e exercer sua cidadania.

Andréa Barreto, mestranda em novas tecnologias e formadora de professores e lideranças na 2.ª Coordenadoria Regional de Educação, no Rio de Janeiro (RJ), destaca que uma habilidade fundamental que a tecnologia pode desenvolver nos estudantes é a de aprender a aprender.

“Precisamos gerar o gosto por aprender, também por meio da tecnologia. Há uma grande quantidade de informação online, agora mais do que nunca com as inteligências artificiais, e nós precisamos ensinar o aluno a fazer uma curadoria e aprender sempre”, pontua.

Essa habilidade de seguir aprendendo, para Andrea, dá ao estudante a capacidade de ter seu aprendizado não vinculado a uma plataforma ou ferramenta específica. Ela exemplifica que dar um curso de Excel pode não fazer sentido daqui a alguns anos, visto que o programa pode deixar de existir e aí haverá sempre a necessidade de conhecer outros que eventualmente surgirem.

Por isso, Andrea argumenta, que tendo a habilidade de aprender, o estudante estará mais preparado para descobrir quaisquer outros assuntos que lhes forem apresentados.

Para ler o mundo

O letramento digital citado pelos entrevistados ganha uma nova camada de sentido no século 21. Em um contexto repleto de tecnologia, desenvolver na turma a capacidade de ler o mundo torna-se ainda mais relevante.

“Ler o mundo hoje em dia é também ler as redes sociais, entender o contexto das coisas e que nem tudo é verdade”, diz Andrea. Levar em consideração as fontes de informação, para a educadora, é de extrema importância nos dias atuais e consta como um tipo de alfabetização.

Reinier destaca que realizar atividades que envolvam o uso de computadores e dispositivos móveis, como pesquisas na internet e projetos usando softwares de apresentação, também compreendem essa alfabetização digital.

Os desafios para o desenvolvimento de habilidades

A falta de intencionalidade, mencionada por Carolina, pode também prejudicar o processo de desenvolvimento de habilidades nos estudantes. Apesar de estarem inseridos em um momento em que a presença da tecnologia é massiva, muitos ainda não têm total domínio dessas ferramentas e, frequentemente, não compreendem os limites, as regras e até mesmo as vantagens de um uso correto de tecnologia.

“Não é apenas entregar a tecnologia na mão do aluno e pronto. Precisamos ensiná-lo a usá-la, e isso é um desafio imenso, porque a tecnologia se moderniza numa velocidade muito maior do que o professor, normalmente, é capaz de acompanhar”, diz Carolina.

Entre os desafios, Reinier acrescenta que o acesso ainda é bastante desigual e isso pode dificultar um trabalho que tenha, na tecnologia, o principal ponto de partida para o desenvolvimento de habilidades. “Nem todos os alunos têm o mesmo acesso a dispositivos e internet de alta velocidade, o que pode aumentar a disparidade educacional”, afirma o professor.

No caso do pensamento crítico, outra habilidade importante para o século 21, o docente afirma que o uso excessivo de tecnologia também é um desafio, porque “pode levar à dependência de respostas rápidas e superficiais, em detrimento do pensamento crítico e da resolução profunda de problemas”.

Momentos desafiadores para os professores e para a escola

Andrea também lembra que muitos educadores se assustam quando o assunto é tecnologia digital em sala de aula, como se fossem obrigados a se apropriar das ferramentas digitais de forma detalhada, o que não é verdade.

É preciso conhecer os objetivos que se deseja alcançar com tais ferramentas e enxergar como elas podem torná-los reais. A docente destaca que a formação é outro desafio, uma vez que nem sempre os docentes desenvolveram as habilidades que procuram trabalhar com os alunos. “Só se desenvolve no outro algo que você mesmo tem, se o professor não possui tal habilidade, ele não conseguirá desenvolvê-la no estudante”, diz.

Reinier considera que muitos professores também não se sentem confortáveis para inserir tecnologia em suas práticas pedagógicas e, nestes casos, é preciso realizar um trabalho primeiro no corpo docente para, depois, investir no processo em sala de aula.

Da mesma forma que a sociedade vive mudanças, a escola também não deve permanecer igual. Andrea ressalta que a estrutura das escolas não pode ser a de uma produção “fabril”, que tem intenção de formar alunos todos iguais. “A gente sabe que o aluno aprende diferente, e a cultura da escola já deveria ter mudado.”, afirma.

Por: Porvir