Contos fantásticos e tecnologia para avançar no letramento

Publicado por Sinepe/PR em

Aproveite a Semana Nacional da Leitura para ampliar o espaço de criação da turma e conheça ferramentas digitais para apoiar na mediação

A literatura tem seu lugar e se faz presente – e não de forma isolada – no ensino da escrita. A concepção de leitura literária e a inserção à cultura da escrita em sociedade passam pela responsabilidade da escola. E para atender a formação de leitores (dentro e fora do ambiente escolar), o letramento literário tornou-se uma expressão que implica dar sentido à linguagem.

A interação entre texto, contexto e hipertexto não é mais linear. Explorar o texto literário é um permanente convite; um espaço sem dimensões que ganha forma, cor e movimento. As mídias digitais representam um meio que permite a interatividade entre interfaces de leitura que podem levar a tantas outras (re)leituras.

Aliás, o Dia da Leitura, 12 de outubro, é um convite para repensarmos o que é letrar, ou seja, extrapolar o sentido de alfabetizar, o que denota o uso competente e frequente da leitura e da escrita; de construirmos uma consciência coletiva do que é ler o mundo. É quando nossos alunos têm a chance de compreender como cada um deles se constitui enquanto sujeito social relacionando a própria realidade às produções literárias.

O dia 12 de outubro, como dia Nacional da Leitura, foi instituído por meio da Lei nº 11.899, de 8 de janeiro de 2009 e prevê ainda a celebração da Semana Nacional da Leitura e da Literatura no Brasil. A literatura, que tanto fascina, encarrega-se também de surpreender os leitores com suas infindáveis possibilidades. Estudá-la sistematicamente é permitir ao aluno um contato mais amplo (e ao mesmo tempo dirigido) com textos diversos, bem como com as manifestações artístico-literárias que contribuem para consolidar os conhecimentos acerca dos estilos constituintes de determinada época ou contexto sociocultural. Processar a leitura literária é também inferir sentido.

Marina Colasanti, Lygia Fagundes Telles e Edgar Alan Poe

Proponho que você, colega professor, evidencie a natureza simbólica do discurso literário e provoque seus alunos com a improvável linguagem dos contos fantásticos. A primeira impressão poderá ser de estranhamento, daí a importância de sua mediação para orientar a leitura do conto As pérolas, de Carlos Drummond de Andrade, já que os símbolos estão revestidos de significados e próximos da vivência humana. A vaidade, o apego, o desejo de riqueza são temas explorados pelo autor e não são artifícios vazios, frutos de modismos, mas sim a oportunidade de identificar em textos ficcionais, bem como em personagens, situações de impasse e superação.

Deixe que os alunos tenham contato com outros títulos do gênero como, por exemplo, Além do bastidor de Marina Colasanti e As Formigas, de Lygia Fagundes Telles. Se julgar oportuno, faça um trabalho interdisciplinar com o componente curricular de Língua Inglesa, dada a proximidade das festividades de Halloween e o convite à participação do real no imaginário de Edgar Alan Poe.

Amplie o espaço de criação e estimule a aprendizagem por meio das alegorias, metáforas e de personagens ora verossímeis, ora fantásticas que farão parte de histórias inspiradas em imagens de cenas inusitadas, diferentes, incomuns. Para melhor gerir o processo criativo e de aprendizagem, faça uso de uma proposta pedagógica versátil que pode ser construída de forma virtual ou presencial, se observados os mesmos princípios.

Se preferir inovar e usar plataformas digitais, sugiro duas ferramentas – Conceptboard ou Jamboard – para construir um quadro com as narrativas fantásticas dos alunos. Por lá, você poderá orientar sua turma pedindo para que cada uma escolha uma imagem que representará o conteúdo central do conto fantástico, como fizeram Lygia Fagundes Telles e Edgar Alan Poe.

Como são plataformas colaborativas, os outros alunos deverão escrever uma ou duas frases que mantenham uma relação entre as personagens e o fato enunciado pela figura. Essas personagens devem conter em suas características elementos que permitam o leitor identificá-las como personagens ora verossímeis, ora fantásticas. Para quem não dispõe dos recursos digitais, é possível construir um mural com post-its, utilizando o quadro como vitrine de aprendizagem colaborativa.

O passo seguinte é preparar um argumento que sustente a história, o que será dito através das personagens. O aluno que escolheu a imagem deverá desenvolver o conto fantástico, deixando que a imaginação atravesse a história.

Contraponto com versões de um clássico

Ao lermos as propostas da Base Nacional Comum Curricular (BNCC), percebemos que “a literatura enriquece nossa percepção e nossa visão de mundo. Mediante arranjos especiais das palavras, ela cria um universo que nos permite aumentar nossa capacidade de ver e sentir. Nesse sentido, a literatura possibilita uma ampliação da nossa visão do mundo, ajuda-nos não só a ver mais, mas a colocar em questão muito do que estamos vendo/ vivenciando” (Brasil, 2018).

Daí, a importância de resgatarmos valores e conceitos tão pulverizados pela rotina e pelo cotidiano. Volte aos clássicos e reveja múltiplas maneiras de ler e perceber o mundo. Que tal A Cigarra e a Formiga?

Escrita por La Fontaine, a popular fábula registra o valor do esforço e do trabalho; foi traduzida pelo poeta português Bocage e revisitada pela criticidade de Millôr Fernandes. Faça um tour com sua turma pelas tramas literárias e avalie as características das personagens, suas atitudes e ouça o que os alunos pensam a respeito da moral presente nas fábulas.

Discuta com a turma a estrutura desse tipo de narrativa e como as atitudes humanas estão representadas nas personagens. Utilize um portfólio digital para proporcionar oportunidades formativas e condições para que o aluno estabeleça comparações com a própria evolução, ou seja, um acompanhamento das evidências de aprendizagem. Para compor sua coleção de fábulas, os alunos deverão buscar inspiração nas versões estudadas da fábula A Cigarra e a Formiga. Defina com sua turma o modelo de registro das atividades, usando o webnode como proposta digital de gestão de aprendizagem.

É importante valorizar as ideias, conceitos e valores apresentados pelos alunos a partir da escolha temática das fábulas; trabalhar a relação entre título e texto e fazer uma reflexão considerando as versões das fábulas lidas. Abra espaço para que eles escrevam comentários a respeito dos textos. Se for oportuno, podem ser incorporadas outras formas de apresentação dos textos, seja em áudio ou vídeo, o importante é perceber que a literatura nos permite penetrar nas profundezas dos seus sentidos, não há fronteiras de épocas.

Para encerrar, faço minhas as palavras de Todorov: “Lançando mão do uso evocativo das palavras, do recurso às histórias, aos exemplos e aos casos singulares, a obra literária produz um tremor de sentidos, abala nosso aparelho de interpretação simbólica […]” (Todorov, 2009). Permita-se viver no mundo inverossímil das palavras!

Por: Nova Escola