A Teoria da Aprendizagem Social e o seu uso na educação

Publicado por Sinepe/PR em

Você já ouviu aquele ditado “a palavra convence, o exemplo arrasta”? Pois é. social learning ou, em português, aprendizagem social é uma teoria que vem da psicologia e defende que aprendemos observando as pessoas à nossa volta.

O psicólogo canadense Albert Bandura (1925-2021) é apontado como pai dessa corrente de pensamento. Ele foi professor da Universidade Stanford e buscou entender o quanto os indivíduos influenciam uns aos outros em termos de aprendizagem.

Como o exemplo ensina

Bandura geralmente é lembrado pelo experimento do “João Bobo”. Neste estudo, os pesquisadores agiram de forma violenta com um boneco de plástico – tanto física quanto verbalmente – enquanto crianças em idade pré-escolar observavam.

O experimento envolveu 36 meninos e 36 meninas com idades entre três e cinco anos. As crianças foram separadas em três grupos: 24 foram expostas ao modelo agressivo e 24 ao modelo não agressivo e o restante ao grupo de controle – ou seja, sem modelos.

No cenário do modelo agressivo, o adulto começou a brincar com os brinquedos na sala por cerca de um minuto. Após esse período, iniciou um comportamento violento. No modelo não agressivo, o adulto apenas brincou com o boneco.

Depois, as crianças foram para uma para sala com os brinquedos. Aquelas expostas ao modelo agressivo foram mais propensas a agir com agressões do que as outras. As descobertas de Bandura o levaram a desenvolver o que foi chamado pela primeira vez de “Teoria da Aprendizagem Social”, também conhecida como “Teoria Social Cognitiva”, na década de 1960, comprovando a hipótese de que as crianças podem aprender por meio do comportamento dos adultos.

O modelo aplicado à educação

De acordo com o artigo “What Is Social Learning?”, a aprendizagem social também pode ocorrer quando os alunos aprendem uns com os outros – dentro ou fora da sala de aula, inclusive em meios digitais.

Além dos comportamentos observados, as causas e efeitos percebidos desses comportamentos, incluindo punições e recompensas, fazem parte da aprendizagem social. Ou seja, se houver uma recompensa, há um incentivo. Se houver punição ou mesmo se os resultados da ação não forem positivos, há um desestímulo.

Em geral, a aprendizagem ocorre em duas etapas: a aquisição de novas informações e a incorporação dessas informações ao conhecimento existente.

O artigo Teorias de aprendizagem e o ensino/aprendizagem das ciências: da instrução à aprendizagem aponta que, na perspectiva dessa teoria, a aprendizagem é, essencialmente, uma atividade de processamento de informação, permitindo que condutas e eventos ambientais sejam transformados em representações simbólicas que servem como guias de ação.

Os processos envolvidos na aprendizagem social

De modo geral, a teoria de Bandura enfatiza a importância dos processos vicários, simbólicos e autorregulatórios. Saiba mais sobre eles:

Processos vicários

Os processos vicários referem-se à aprendizagem que ocorre por meio da observação do comportamento de outras pessoas. Não se trata de pura imitação desse processo, uma vez que os indivíduos aprendem ao observar as ações, as consequências dessas ações e as reações dos outros envolvidos.

O processo vicário é influenciado por quatro fatores:

  • Atenção – capacidade de se concentrar e focar nas informações relevantes durante a observação do modelo;
  • Retenção – habilidade de lembrar e armazenar as informações adquiridas durante a observação;
  • Reprodução – pode envolver tanto a reprodução exata quanto a adaptação do comportamento para contemplar as próprias aptidões e o contexto do aprendiz;
  • Motivação – essa é uma das etapas mais importantes, pois diz respeito à vontade do estudante de se envolver no processo de aprendizagem. A motivação pode ser intrínseca, vinda de dentro do aprendiz, ou extrínseca, proveniente de fatores externos, como recompensas ou incentivos. A motivação adequada aumenta a probabilidade de o aprendiz se envolver ativamente no processo de observação, retenção e reprodução do comportamento modelado.
    Processos simbólicos

Os processos simbólicos envolvem a capacidade de aprender por meio de símbolos, como palavras, imagens e representações mentais. As pessoas podem aprender ao atribuir significado a esses símbolos e utilizá-los para orientar seu comportamento. Segundo o artigo “Ensaios sobre a Teoria Social Cognitiva de Albert Bandura”, a aprendizagem por observação permite a compreensão de regras abstratas, conceitos e estratégias de seleção, ou seja, vai além da aquisição de condutas concretas específicas.

Processos autorregulatórios

Os processos autorregulatórios estão relacionados à capacidade dos indivíduos de estabelecer metas, monitorar seu próprio comportamento, regular suas ações e controlar seu próprio ambiente.

É um processo consciente e voluntário, que possibilita a gerência dos próprios comportamentos, pensamentos e sentimentos, ciclicamente voltados e adaptados para obtenção de metas pessoais e guiados por padrões gerais de conduta.

O objetivo também importa

Uma metodologia de ensino baseada na Teoria da Aprendizagem Social oferece uma abordagem poderosa para potencializar o aprendizado dos alunos. Um ponto importante é criar um ambiente propício à aprendizagem, além de um objetivo em comum para o desenvolvimento de habilidades.

Na sala de aula, a conduta do professor ou a ação de um colega podem facilmente originar uma aprendizagem modelada junto dos alunos. Nesse sentido, trabalhos em grupo, discussões de temas ou mesmo a utilização de recursos audiovisuais seguidos de debates podem ser boas formas de aplicar essa teoria.

Por: Desafios da Educação