Como usar contos em sala de aula

Publicado por Sinepe/PR em

Entenda o que caracteriza o gênero e confira sugestões para usar esse tipo de texto no Ensino Fundamental

O conto é uma narrativa breve constituída por uma única unidade dramática, que se desenrola em torno de um único conflito a ser enfrentado pelo protagonista. Nesses textos, as complicações do enredo (sequência de ações praticadas pelas personagens), o tempo e o espaço são bem demarcados.

Pense em um romance extenso. Em geral, os personagens vivem diferentes conflitos ao longo do livro: às vezes, a trama vai e volta no tempo, viaja por diferentes lugares, é entremeada por histórias paralelas. No conto, a narrativa fica centrada em uma única sequência de acontecimentos. É como se o autor usasse uma lente de aumento para retratar um fragmento da vida dos personagens.

Quais os subgêneros dos contos

Contos de animais
São protagonizados por animais com características antropomórficas (ou seja, típicas de seres humanos, como falar) ou envolvem enredos que privilegiam de alguma maneira os personagens animais.

Contos de artimanha
Envolvem enredos que privilegiam o comportamento astuto dos personagens principais para resolver o conflito. Em geral, a situação inicial é marcada por um estado de carência (falta de dinheiro, comida…), que o herói consegue alterar graças a uma atitude de esperteza.

Contos etiológicos
Explicam a razão de ser de um aspecto, propriedade ou caráter de qualquer ente natural.

Contos de aventura
Um herói, geralmente jovem, inicia uma viagem ou busca algo desconhecido que se configura como um obstáculo cuja superação envolve situações arriscadas e perigosas, que exigem que o protagonista tome decisões limites que o conduzam a uma transformação.

Contos acumulativos
Também chamados de lengalenga, caracterizam-se pelo encadeamento sucessivo de uma mesma sequência de falas ou de ações. A cada repetição, agrega-se mais um elemento, resultando, ao final, em uma longa enumeração.

Contos de fadas ou de encantamento
Tendo ou não fadas como personagens, apresentam uma intriga que envolve a realização interior do protagonista, ligando-se, geralmente, aos ritos de passagem de uma idade para outra ou de um estado civil para outro. Sem uma referência espaço-temporal precisa, as peripécias envolvem o enfrentamento de duras provas a serem vencidas para que o herói ou heroína alcance sua realização pessoal ou existencial, descobrindo sua verdadeira identidade ou conquistando a pessoa amada, como em A Bela Adormecida, A Bela e a Fera, Rapunzel, Cinderela…

Contos maravilhosos
Apresentam uma intriga que envolve a luta pela sobrevivência, o enfrentamento de problemas sociais e econômicos da vida prática. Para a resolução desse tipo de conflito, podem intervir elementos mágicos, fantasiosos que, estabelecendo uma lógica diferente da convencional, constroem um mundo em que os desejos se realizem como os indivíduos gostariam – a punição para os maus e o prêmio para os justos e corajosos, como em O gato de botas e Aladim e a lâmpada maravilhosa.

Contos modernos
A tarefa do escritor consiste em assumir o ato de criação e não apenas o gesto de recolher histórias que recebe de velhas gerações e transmiti-las às mais novas. Ao inventar novas tramas, busca o efeito surpreendente que rompe com as expectativas e o surgimento de um desfecho inesperado. Como gênero textual, a composição passa a ser cuidadosa em cada detalhe: a caracterização das personagens, as construção das cenas, a elaboração de cada frase, a perspectiva da narrativa (a personagem principal narra sua própria história; um personagem secundário narra a história; o narrador, analítico ou onisciente, conta a história; o narrador conta a história como observador) até o ritmo das cenas apresentadas.

Como utilizar os contos em sala de aula

Depois de conhecer as características do conto, é hora de pensar em como levar esse gênero para a sala de aula! Para maior auxílio, confira aqui material preparado pela NOVA ESCOLA com 14 contos para crianças e adolescentes.

Maria José Nóbrega, formadora do Instituto Vera Cruz, em São Paulo, preparou duas sugestões que abrem um mundo de possibilidades para você, professor, criar seu planejamento e adequá-lo às necessidades da sua turma – seja ela dos Anos Iniciais ou Finais do Fundamental. Veja as propostas:

  1. Foco na oralização para leitura dramática ou produção de audiolivros (ou “audiocontos”)
  • Organize a turma em grupos e peça para que cada grupo escolha um conto diferente para a realização de uma leitura dramática do texto. A partir daí, você pode adotar duas propostas: ou a apresentação da leitura aos colegas ou a produção de um audiolivro com os contos selecionados para presentear a biblioteca da escola;
  • Caso os estudantes nunca tenham participado de uma leitura dramática ou não tenham familiaridade com os audiolivros, convide-os a conhecerem alguns exemplos;
  • Proponha que os alunos, previamente, façam a leitura silenciosa do texto de modo a compreendê-lo;
  • Peça para que, já organizados em grupos, os estudantes realizem um círculo de leitura de modo a compartilhar os sentidos e negociar as interpretações. Nessa situação didática, são os próprios alunos que assumem o papel de mediadores de sentidos dos textos.
  1. Foco na descoberta das regularidades que caracterizam gênero
  • Proponha aos alunos a leitura de diferentes contos e, depois, uma roda de conversa sobre as narrativas selecionadas;
  • Tanto para nortear a conversa como as outras etapas da sequência, é interessante conduzir a investigação pela seguinte ordem:
    1.º) Conteúdo temático: aqui, valem questões sobre a estrutura narrativa dos contos e do tema pretendido: aventura, enigma, suspense, terror etc.

2.º) Estrutura composicional: aprofunde-se com os estudantes na forma de composição dos exemplares de textos do gênero “conto”. Quais são as situações iniciais e os desfechos de cada um deles? Quais recursos são usados para sinalizar a sequência de ações praticadas pelas personagens?

3.º) Estilo: por fim, leve a turma a investigar quais são os recursos linguístico-discursivos mais comuns ao gênero em estudo, qual o vocabulário preferencial, quais os tempos verbais mais empregados, os verbos dicendi ou de elocução, os usos do discurso direto e indireto etc.

Por: Nova Escola