A falta de engajamento dos alunos no ensino superior

Publicado por Sinepe/PR em

Para alunos, professores deveriam utilizar mais materiais ligados às futuras carreiras

A falta de engajamento dos alunos no ensino superior é um problema cada vez mais evidente e preocupante. Professores e gestores de instituições de ensino reconhecem que o desinteresse dos alunos em relação aos cursos têm comportamento animado, afetando sua formação acadêmica e confiante para altas taxas de evasão e de insucesso profissional.

Dados do Inep (Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira, do MEC) mostram que 54% dos alunos que ingressaram em 2015 abandonaram seus cursos após cinco anos, 10% continuaram estudando e apenas 35% se formaram. Além disso, o último censo da educação superior constatou que mais de 2,3 milhões de alunos aptos a se matricular em 2021 abandonaram o ensino superior, gerando um prejuízo financeiro de mais de R$ 23 bilhões.

Com o objetivo de identificar as causas desse descontentamento dos estudantes, que não se limita apenas ao Brasil, a editora americana John Wiley & Sons realizou recentemente uma pesquisa chamada “State of Student 2022”, que envolveu 5.258 alunos e 2.452 professores na América do Norte . Nesse estudo, os autores buscaram compreender os fatores que mais impactam o interesse, a aprendizagem e, consequentemente, o sucesso dos estudantes.

A análise das respostas revelou que 55% dos alunos de graduação e 38% dos alunos de pós-graduação enfrentam dificuldades para manter o interesse em suas aulas. A mesma proporção de estudantes de graduação (55%) e 34% dos estudantes de pós-graduação afirmaram ter dificuldades em assimilar o conteúdo apresentado.

Segundo os alunos, os professores poderiam despertar um maior interesse em utilizar materiais relacionados às suas futuras carreiras profissionais. Um quarto dos desejados mencionou que seus engajamentos seriam significativamente melhorados por aulas que abordassem questões práticas do mundo real, especialmente aquelas experimentadas na aprendizagem experiencial, isto é, aprender com as experiências.

Não resta dúvida de que a discussão e a resolução de problemas reais podem ajudar os alunos a se envolverem mais com o curso, confiantes para o desenvolvimento de suas carreiras futuras e aumentando suas chances de sucesso no competitivo mercado de trabalho atual.

De acordo com a pesquisa, os principais fatores que influenciam os alunos a escolher um curso são o interesse na área do conhecimento (57%), as oportunidades de carreira (46%) e a capacidade de causar um impacto positivo nessa área (41%) . Esses achados estão alinhados a dados de uma outra pesquisa, realizada neste ano pelo Instituto Semesp (do Sindicato das Entidades Mantenedoras de Estabelecimentos de Ensino Superior no Estado de São Paulo), que entrevistou 1.970 alunos.

Por outro lado, ao contrário dos apenas 46% de estudantes que afirmam que suas instituições os preparam para o mercado de trabalho, entre os professores são 64% os que acreditam que suas instituições estão fazendo um bom trabalho nesse aspecto. Essa disparidade foi mantida em texto publicado nesta seção em 5 de junho de 2022 , com base em pesquisa realizada com empregadores que revelou uma desconexão existente entre o ensino superior e o mundo do trabalho.

Com o intuito de reduzir a lacuna entre a universidade e o mercado, 81% dos estudantes afirmaram que seria importante que as instituições incorporassem em suas notas curriculares projetos inspirados por empresas que simulem o trabalho real.

É fundamental que as instituições de ensino e especialmente os professores estejam cientes das áreas em que os alunos encontram dificuldades, a fim de auxiliá-los a superar essas preocupações que ameaçam seu futuro e consequentemente o desenvolvimento do país.

Grande parte desses problemas demanda soluções que precisam partir de políticas públicas — o que torna a situação ainda mais crítica. Preparar o sistema de ensino superior para essas questões é particularmente urgente, inclusive no estabelecimento de um currículo que mantenha a conectividade da universidade com o mundo do trabalho.

Por: Folha de São Paulo