ESG entra nos currículos de cursos de graduação no Brasil

Publicado por Sinepe/PR em

Temas ligados a ambiente, questões sociais e governança aparecem tanto em forma de disciplinas quanto em abordagens de maneira interdisciplinar em vários programas

ESG é uma sigla que vem do inglês: Environmental, Social e Governance. Na prática, o termo se refere a empresas e instituições que adotam ações sustentáveis, trabalham questões sociais e aplicam boas práticas administrativas. Popular no mundo corporativo, o conceito invadiu os currículos dos cursos de graduação no Brasil. Os temas aparecem tanto na forma de disciplinas independentes quanto na abordagem de maneira interdisciplinar.

Tania Casado, professora da FIA Business School, considera que se trata de uma demanda atual, que deve fazer parte da formação básica de todo profissional. “Os movimentos e as preocupações com os tópicos ESG são vitais para a vida no planeta. A sociedade em geral já se deu conta de que são necessárias ações de todos e as instituições de ensino precisam fazer seu papel na formação profissional.”

Dentro da FIA, os temas que compõem o ESG têm sido abordados por diferentes programas e cursos. Aluna do 6.º semestre de Administração, Letícia Pontani, de 20 anos, conta que o ESG é muito presente na grade curricular e aparece até nas disciplinas que, a princípio, podem não estar alinhadas aos temas, como Cálculo ou Logística. “Quando falamos em logística ou operação de uma empresa temos de pensar em fazer isso da forma mais sustentável possível. ESG entra porque precisamos pensar nos recursos”, diz.

Para a estudante, que já faz estágio na área, é fundamental ter esse conhecimento para empregar práticas cada vez mais sustentáveis nas companhias. “Ao administrar uma empresa, precisamos pensar na sustentabilidade, já que os recursos como um todo são escassos. Na parte do social, enquanto empresa, temos de saber que um funcionário representa uma família toda que está por trás dele. E com a governança entendemos como está esse controle, quais os impactos e se os objetivos da empresa estão sendo atendidos.”

A professora Tania Casado diz que é fundamental que os jovens que estão se preparando para enfrentar os desafios profissionais saibam que toda a movimentação da sociedade por um mundo mais sustentável, ético e digno tem aberto trajetórias. “Isso excede formações tradicionais, como Direito, Administração, Psicologia, Medicina, ou TI, porque cria oportunidades para atuações inovadoras. Isso tem possibilitado a realização e a satisfação de muitos profissionais em suas carreiras, trazendo não só novas alternativas mas, principalmente, mais sentido ao trabalho.”

Visão equivocada
Nos cursos de graduação do Insper, o ESG também é muito presente nos currículos. Geraldo Setter, professor da instituição, reforça que o primeiro desafio é desmistificar o termo para qual há, muitas vezes, uma definição equivocada relacionada à filantropia. “Existe uma visão limitada, é preciso explicar do que se trata. Quando uma empresa, por exemplo, ajuda uma entidade filantrópica cujo trabalho não está relacionado ao seu core (núcleo) de atividades, não configura uma ação ligada ao ‘S’, de Social. Isso não tem a ver com ESG.”

O “G” de governança, explica ele, está relacionado a como a companhia lida com funcionários, clientes, fornecedores, gestores, acionistas e comunidades no entorno. “É como a empresa orquestra sua gestão, de forma a trazer menos prejuízo ao planeta.” Já o “E”, que representa o meio ambiente, fala sobre quais tecnologias e práticas a empresa adota para que o impacto de sua atuação seja minimizado.

Setter conta que a universidade não trabalha o ESG em uma disciplina específica, e sim de modo transversal ao longo de todos os cursos. “Precisa permear a totalidade nas funções de uma organização. Buscamos contemplar os temas em trabalhos interdisciplinares em que uma disciplina conversa com a outra.”

Um exemplo é quando os estudantes são desafiados a desenvolver um plano de negócios, contemplando práticas sustentáveis, ou ainda, quando eles precisam diagnosticar como uma determinada empresa da vida real lida com as temáticas ESG em suas estratégicas para buscar vantagens competitivas.

Lucro e foco
O docente reforça que hoje o único foco de uma companhia não pode ser mais gerar lucro aos acionistas. “Tanto que detentores de grandes patrimônios estão virando ativistas das causas ESG. Há uma mudança de paradigma para algo mais contemporâneo.” Ele leciona uma disciplina eletiva – não obrigatória na grade – chamada Gestão Ambiental e Responsabilidade Social Corporativa, que atrai estudantes de cursos como Administração, Economia, Direito, Ciências de Dados e Engenharias. “Começo quebrando paradigmas, porque é uma disciplina de estratégia e políticas públicas que olha pela ótica da sustentabilidade. Estou lecionando essa eletiva há quatro semestres, sempre com turmas cheias.”

O que está em jogo?
Para Setter, a popularização do ESG criou a necessidade de a empresa se adequar em suas políticas e condutas; ao mesmo tempo que o profissional precisa dominar os conceitos ligados a essa nova era para conseguir ser absorvido pelo mercado. “Há o viés da empresa que está em busca de profissionais qualificados, mas há o lado do profissional que, até por uma questão geracional, tem de se perguntar: como essa companhia lida com essa questão?”

As empresas, por sua vez, além de buscar o lucro, precisam observar os desafios que essa sigla traz, conforme diz. “Vejo como um movimento positivo e importante, já que não é modismo. Obter lucro não é pecado, mas é feito às custas de quê, de quem? Se for uma exploração predatória, é às custas do planeta, é isto que está em jogo.”

Por: Terra