Ensino Híbrido: planejamento para recuperar as aprendizagens perdidas

Publicado por Sinepe/PR em

Como tudo que é novo, o ensino híbrido ainda gera muitas dúvidas sobre como se dá na prática. Quando se trata dos Anos Iniciais do Fundamental, ainda existem poucas experiências anteriores à pandemia que foram divulgadas para outros professores. Além disso, as dificuldades enfrentadas durante este momento de ensino remoto abrem espaço para questionamentos sobre as possíveis contribuições que o ensino híbrido pode oferecer neste momento para a Educação. Apesar da falta de familiaridade com o nome, é provável, no entanto, que muitos educadores já tenham realizado práticas que utilizam algumas ideias do ensino híbrido antes da pandemia, como a sala de aula invertida ou a rotação por estações, mesmo sem ter estudado este conceito antes.

Para entender o conceito
O ensino híbrido é composto de modelos de aula que integram atividades presenciais e on-line (com o uso de tecnologias digitais), no qual os recursos digitais são utilizados para coletar dados e informações que serão analisadas pelo professor com o objetivo de personalizar o ensino. Dentro dele existem diferentes modelos que podem ser adaptados à realidade da escola pública, inclusive naquelas em que o acesso a recursos tecnológicos é limitado.

Ao colher os dados sobre a aprendizagem dos alunos, o professor tem em mãos um panorama dos níveis de aprendizagem dos alunos e informações sobre defasagens que precisam ser trabalhadas. Para te ajudar a entender como sair da teoria e ir para a prática, trouxemos a realidade de três professores que se inspiraram nos modelos para dar conta das aprendizagens essenciais e da heterogeneidade da turma. Acompanhe os relatos:

Garantir as aprendizagens essenciais
Helen Cotrim, professora de 4.º ano na Escola Estadual Euclides da Cunha, em Manaus (AM), viveu o ensino híbrido ainda em 2020. A rede estadual retornou presencialmente às aulas em agosto. “A minha sala, com 21 alunos, foi a que mais voltou. Os que não voltaram foram por motivos de saúde, mas foram 3 ou 4”, relata. Aqueles que não puderam estar no presencial continuaram realizando as atividades com base no programa de aulas televisionadas oferecido pela rede estadual do Amazonas, o Aula em Casa.

A turma de Hellen foi dividida em dois grupos: o primeiro ia às segundas e quartas, enquanto o outro, às terças e quintas. O modelo de ensino híbrido que a professora utilizava era o da sala de aula invertida. Em casa, os alunos deviam acompanhar a programação do Aula em Casa. Aqueles que não tinham televisão em casa ou internet, recebiam os materiais impressos com uma breve explicação do conteúdo e atividades relacionadas para serem feitas de forma remota. Presencialmente, a professora fazia uma explicação retomando o que assistiram em casa e faziam uma atividade. Enquanto a turma fazia as propostas, ela circulava pela sala para verificar as dúvidas e fazer as intervenções necessárias.

Entre agosto e dezembro de 2020, os professores da Escola Estadual Euclides da Cunha tiveram que repassar todos os conteúdos e habilidades prioritárias para aquele ano. Para a professora Hellen, se inspirar no modelo híbrido para planejar o retorno escalonado permitiu trabalhar com grupos menores e poder ter um olhar mais próximo das necessidades individuais. “Mas tivemos poucas atividades lúdicas porque trabalhamos muitas habilidades essenciais. Foi pouco tempo para abordar conteúdos que levam mais tempo”, relata.

A professora tinha um cronograma rígido a seguir, intercalando uma semana de conteúdo e outra, de avaliação diagnóstica para verificar a aprendizagem. Dessa forma, apenas dois dias na semana com os alunos para trabalhar os conteúdos era pouco, dependendo do tema abordado. Na semana de avaliação, o primeiro dia era usado para verificação da aprendizagem e o segundo, para o plano de intervenção – isto é, atividades com foco nas dificuldades dos estudantes feitas a partir dos pontos frágeis observados no encontro anterior. Durante as aulas, ela passou por conteúdos trabalhados durante o ensino remoto e identificou as diferenças entre quem acompanhou e quem não conseguiu. Assim, em alguns momentos, foi necessário retomar a discussão desde o início para que todos tivessem as informações necessárias para prosseguir o conteúdo. Aqui, percebe-se a utilização de estratégias pela professora para coletar dados e também o impacto da análise de tais dados nas intervenções realizadas durantes as aulas com os alunos. Esse é um dos pontos inspirados no ensino híbrido: a coleta e análise de dados visando a personalização do ensino.

Devido ao aumento dos casos no estado do Amazonas, ainda não há planos de retornar presencialmente em 2021. Apesar disso, já começaram as conversas sobre o calendário e o foco do trabalho nas habilidades essenciais do ano letivo corrente e aquelas que ficaram para trás em 2020.

Usando o que funcionou para planejar 2021
Atravessando o país, a Escola Estadual Prof.ª Minervina Sant’anna Carneiro, em Lins (SP), voltou às atividades presenciais em fevereiro deste ano, com escalonamento de alunos. Por dia, atendem 25% da capacidade de estudantes da escola. As turmas foram separadas em 5 grupos e, com isso, cada aluno irá uma vez por semana.

Para planejar o novo ano letivo, o professor Alex Sandro Calixto dos Santos relembra o que deu certo durante o período em que estavam trabalhando no formato remoto. “No ano passado, a postagem de atividades no Drive da turma foi a melhor forma que encontramos de os alunos participarem”, relembra o professor, que assumirá a mesma turma que lecionou no ano anterior, acompanhando a transição dos alunos do 4.º para o 5.º ano.

Pensando no que deu mais resultado em 2020, ele pretende trabalhar com o modelo de sala de aula invertida. Semanalmente, a turma terá um conjunto de materiais, conteúdos e atividades disponibilizadas para serem feitas remotamente, e na aula presencial, o professor fará o aprofundamento dos conteúdos.

Por Nova Escola