Escolas criam ‘bolha hi-tech’ de alunos para evitar surtos da covid-19

Publicado por Sinepe/PR em

Enquanto assistem às aulas ou buscam um lanche na cantina, aplicativos instalados nos celulares dos alunos rastreiam seus contatos. Para evitar contaminações pelo coronavírus, “bolhas” de alunos nas escolas ganham versão hi-tech. Se um deles aparece infectado, aqueles que tiveram contato mais próximo são avisados e podem fazer quarentena. A tecnologia de mapeamento de interações começou a ser usada em um colégio privado de Cuiabá e deverá ser adotada neste ano em outras escolas do grupo Eleva, que tem 130 unidades pelo Brasil.

A separação de alunos em grupos (bolhas) e o rastreamento de contatos é uma forma de evitar surtos da covid-19 nas escolas. Boa parte dos colégios permaneceu fechada em 2020 para conter o coronavírus. Neste ano, Estados como São Paulo já deram aval para a reabertura das escolas mesmo nas fases mais restritivas da quarentena. A volta às aulas ocorre em meio à segunda onda da covid-19 no País. Nesta semana, ao menos três escolas privadas e uma pública de Campinas registraram casos de covid-19 após a retomada dos trabalhos presenciais, no fim de janeiro.

Chamado de Mapeamento Preventivo de Interações (MPI), o aplicativo foi criado por uma startup brasileira e funciona por meio de bluetooth – troca de dados entre dispositivos móveis. No Colégio Master, em Cuiabá, alunos de uma turma de pré-vestibular foram orientados a baixar o aplicativo e mantê-lo ligado durante o tempo em que permanecerem na escola.

Cinco turmas retornaram às atividades presenciais com 30 alunos em cada sala no ano passado – antes eram 90. “Eles instalam e programam a hora que ficam na escola para o aplicativo estar ligado. O app monitora o distanciamento, a proximidade de outro. Todos os funcionários também instalaram”, diz Thiago Nunes, diretor de marca do Colégio Master. A ferramenta classifica as interações em faixas de risco, de acordo com o tempo e a distância entre as pessoas.

Um contato de menos de 30 segundos com distância de seis metros é classificado como faixa 1 (a mais branda de risco). Já um contato por mais de 15 minutos a menos de 2 metros de distância é o mais grave, na faixa 4. Se um aluno ou professor tem sintomas ou confirmação da covid-19, os dados armazenados pelo aplicativo podem ser consultados para emitir alertas diretamente àqueles que tiveram o contato mais grave.

Por enquanto, a ferramenta ainda não teve de ser acionada no Colégio Master, mas poderia ter ajudado em outros casos. Em uma das unidades, por exemplo, houve a infecção de um recepcionista que não usava o aplicativo. “Se estivesse usando, conseguiríamos rastrear quem são as pessoas que a gente colocaria em casa, faria alguma abordagem para evitar que a covid se espalhasse”, diz Carolina Belchior, gerente de gente e gestão do Eleva Educação.

Felipe Fontes, da Nearbee, a startup que desenvolveu a tecnologia com apoio da Ambev, diz que os dados registrados também podem servir para que a escola verifique se as interações entre alunos e professores estão em nível ideal. Em fábricas que também usam a ferramenta, há a meta de que só 5% das interações sejam classificadas na faixa mais grave. “Se isso aumentar de um dia para outro, mandam alerta para todo mundo.”

A ferramenta já ajudou no bloqueio de surtos sem que fosse preciso parar toda a fábrica, mas depende da adesão do máximo de pessoas – 70% a 80% de uso entre todos que frequentam o ambiente é o ideal. O aplicativo recolhe os dados mesmo sem internet e os exclui depois de 30 dias. “O aplicativo sabe que duas pessoas estiveram próximas, mas não onde na empresa, porque isso não é relevante. E as empresas só usam a informação de contato no caso de covid-19.”

A Nearbee já havia desenvolvido estratégias de mapeamento de contatos para proteção em caso de violência contra a mulher e acionamento de socorristas – agora aplica a expertise à pandemia. Pelo mundo, recursos de rastreio contra a covid-19 ganham força, mas países enfrentam dificuldades de implementar soluções em larga escala em ambientes públicos. Já plataformas para uso dentro de empresas têm maior adesão.

Para especialistas em saúde, independentemente da tecnologia, é importante que as escolas façam o rastreio de pessoas com sintomas. “Entendo que ter um caso de covid em uma sala de aula é uma indicação de que se faça uma triagem bem rigorosa todos os dias de todos os outros alunos para o aparecimento de algum sintoma semelhante”, diz Carlos Magno Fortaleza, membro da diretoria da Sociedade Paulista de Infectologia (SPI) e do Centro de Contingência do Coronavírus em São Paulo.

Outros colégios também usam a tecnologia como aliada para evitar aglomerações. Uma das funcionalidades de um aplicativo usado para organizar a rotina escolar agora vem sendo adotada para permitir que a saída dos estudantes seja mais rápida. A ferramenta “Chegando”, do IsCool App, emite um aviso à portaria ou ao professor quando o pai está se aproximando da escola para buscar o filho. Com isso, a criança só vai até a saída quando o responsável estiver a um determinado raio, escolhido pelo colégio, da portaria.

A funcionalidade já está sendo usada pelo Colégio São Vicente de Paulo, em Jundiaí, no interior paulista, e pelo Nossa Senhora das Dores, de Uberaba, em Minas Gerais. Segundo o IsCool, outras escolas que já usavam a funcionalidade antes da pandemia estão intensificando o uso agora para melhorar o fluxo de estudantes, como a Lumiar, na capital paulista, e a Maple Bear, em Piracicaba, no interior.

Além do mapeamento de contatos e do controle de aglomerações, as escolas devem priorizar a ventilação dos ambientes para evitar surtos da covid-19. Abrir janelas ou dar preferência a atividades ao ar livre é fundamental. O coronavírus se propaga pelo ar, por isso a atenção deve ser dada à dispersão das partículas. Mesmo com distanciamento de mais de dois metros entre os alunos, uma sala de aula pode ser insegura se não estiver bem ventilada, conforme mostrou uma pesquisa publicada na revista Physics of Fluids, do Instituto Americano de Física.

Estado de São Paulo cria plataforma
No Estado de São Paulo, uma plataforma do governo vai unificar informações sobre infectados nas escolas públicas e privadas. Os colégios terão de preencher dados de estudantes e professores contaminados – o mecanismo pode ajudar a monitorar a incidência da doença na comunidade escolar e prevenir surtos. As aulas na rede estadual paulista começam no dia 8 de fevereiro. Já as escolas particulares receberam aval para reabrir a partir desta segunda, 1º. Na rede municipal da capital, a expectativa é de retorno no dia 15.

Por Msn