Reabertura de escolas na Inglaterra teve risco baixo, mostra pesquisa

Publicado por Sinepe/PR em

O risco de contágio da Covid-19 em escolas reabertas na Inglaterra foi baixo, afirma estudo de pesquisadores da Public Health England (PHE), da London School of Hygiene & Tropical Medicine e da Universidade St George’s, de Londres. O trabalho foi divulgado nesta quarta-feira pela revista científica The Lancet Infectious Diseases.

Para o baixo risco se concretizar, dizem os autores, houve medidas de segurança sanitária, os colégios funcionaram com apenas parte da sua capacidade e, principalmente, o retorno presencial foi feito em um momento no qual o número de casos diários havia sido reduzido: o estudo aponta que o risco de um surto cresce 72% para cada aumento de cinco casos por 100 mil no entorno da escola.

No período analisado, entre 1.º e junho e 17 de julho, 1,6 milhão de 8,9 milhões de estudantes da Inglaterra frequentaram presencialmente as escolas do país. Nesses 47 dias, foram registrados 113 casos únicos, nove infecções interligadas num intervalo de 48 horas (em geral, irmãos) e 55 surtos (dois ou mais casos associados diagnosticados dentro de 14 dias na mesma escola) que tiveram 210 infectados.

Segundo Shamez Ladhani, pesquisador do Public Health England, há forte correlação entre casos nas escolas e taxas de transmissão no entorno da unidade educacional, o que, segundo ele , “enfatiza a importância de controlar a transmissão fora dos portões da escola para proteger” esses espaços.

Isso é consistente com os estudos que foram realizados desde que este artigo foi concluído em agosto, e com as próximas pesquisas de PHE sobre a transmissão nas escolas durante o outono — afirmou Ladhani.

Entre os 113 casos únicos, 55 (49%) foram crianças e 58 (51%) funcionários. Eles ocorreram principalmente nas escolas primárias (61%, 69 dos 113 casos).

Já dos 55 surtos identificados na análise, 27 ocorreram em escolas primárias, sendo 16 em creches, sete em escolas secundárias e cinco em escolas de faixas etárias mistas.

Na Inglaterra, creches, escolas primárias e secundárias foram fechadas no final de março deste ano como parte de um primeiro bloqueio nacional para ajudar a reduzir a disseminação de Covid-19.

A reabertura aconteceu no dia 1.º de junho. Além das creches, voltaram às aulas alunos de 4,5, 6, 10, 11, 14, 15, 16 e 17 anos. Também retornaram presencialmente filhos de qualquer idade cujos pais eram trabalhadores-chave ou que foram classificados como vulneráveis. No total, foram analisado dados de 38 mil creches, 15,6 mil escolas primárias e quatro mil escolas secundárias.

“Os autores sugerem que, embora suas descobertas sejam específicas da Inglaterra, as percepções obtidas sobre os riscos de infecção e o impacto da transmissão na comunidade podem ter implicações para as medidas de controle da infecção em escolas e creches em outras partes do mundo”, afirma o texto de divulgação do texto.

Distanciamento
Nos surtos, os funcionários das escolas foram 73% dos casos, em comparação com 27% dos alunos. Ainda segundo o estudo, 26 surtos começaram com professores transmitindo para professores, oito com professores passando para alunos, 16 de alunos para professores e cinco de alunos para alunos.

— Embora os funcionários tenham taxas de infecção mais altas, é importante observar que o número geral de casos foi muito pequeno e a grande maioria dos funcionários estava completamente bem e capazes de proteger a si e aos seus alunos — afirma Sharif Ismail, da London School of Hygiene & Tropical Medicine.

Segundo o pesquisador, os professores foram muito cautelosos com o distanciamento físico e as práticas de controle de infecção quando estavam em aula com seus alunos, “mas isso era mais difícil de manter fora da sala de aula”.

— Os professores também têm mais probabilidade de desenvolver sintomas do que os alunos e, portanto, são mais facilmente identificados, o que quase certamente contribuiu para sua maior taxa de infecção — afirmou o autor.

Segundo o texto do estudo, a abertura parcial das escolas em junho e julho com pequenas bolhas e muito menos crianças freqüentando, especialmente no ensino médio, pode ter levado a uma transmissão consideravelmente menor dentro da escola do que a reabertura de escolas para todas as crianças após o verão.

Eles também observam que mais transmissão provavelmente ocorreram entre as crianças do que foi registrado: “As crianças raramente apresentam sintomas óbvios e provavelmente não são percebidas pelo caso em grande parte passivo que estava ocorrendo na época”.

No fim de outubro, o Reino Unido decretou novo lockdown — que já foi encerrado — de um mês. Mas, ao contrário do primeiro bloqueio, escolas e faculdades permaneceram abertas.

Uma petição chegou a ser registrada no parlamento britânico pedindo o encerramento das atividades educacionais presenciais, mas o governo respondeu que a prioridade era de que todos os alunos permaneçam na escola e na faculdade em tempo integral. “Para a grande maioria dos jovens, os benefícios de estar na sala de aula superam em muito o baixo risco da Covid-19”.

Por Extra/ O Globo