Por que as escolas na Europa foram poupadas na nova quarentena e como elas tentarão evitar um novo surto

Publicado por Sinepe/PR em

Novas restrições no continente para controlar a segunda onda da pandemia evitaram em grande parte o fechamento das creches e instituições de ensino

BERLIM — Quando a chanceler alemã Angela Merkel anunciou as mais recentes restrições para conter o avanço da Covid-19, nesta quarta-feira, ela disse que bares, restaurantes, teatros, salas de concerto, academias e estúdios de tatuagem seriam forçados a fechar. Na lista, no entanto, não estavam escolas e creches, que foram uns dos primeiros alvos durante a primeira onda pandemia.

Na França, o presidente Emmanuel Macron disse que as escolas estariam isentas das amplas restrições em todo o país. A Irlanda tomou a mesma decisão, apesar de ter decretado uma quarentena.

Por que manter as escolas abertas?
Mundialmente, existe uma preocupação cada vez maior de que a pandemia esteja causando um dano duradouro ao desenvolvimento acadêmico e emocional de toda uma geração de crianças.

— Não podemos e não permitiremos que o futuro de nossos filhos e jovens seja outra vítima desta doença — disse o primeiro-ministro irlandês, Micheal Martin, em um discurso nacional. — Eles precisam da educação.

No início de outubro, em uma conferência alemã de ministros, quando são coordenadas as políticas educacionais, as autoridades enfatizaram o direito das crianças à educação, que, segundo eles, é muito melhor quando feita entre os colegas, nas salas de aula.

As decisões não satisfazem a todos, mas os profissionais por trás delas estão tomando precauções extras para reduzir os riscos nas unidades de ensino, como a necessidade do uso de máscara e a ventilação regular das salas de aula. Eles afirmam que estão adotando as lições aprendidas ao longo de meses de luta contra a pandemia e que estão preparados para mudar as medidas se as coisas piorarem.

Ao anunciar as restrições, Merkel citou outro motivo da importância de manter as escolas abertas, apontando para as “dramáticas consequências sociais” que o fechamento das unidades de ensino teve nas famílias durante a quarentena em março e em abril.

— Para dizer claramente: os ataques violentos contra mulheres e crianças aumentaram dramaticamente — disse Merkel. — É importante ter em conta as consequências sociais se tivermos de intervir nestas questões.

Além disso, manter os filhos em casa é muitas vezes uma tarefa difícil para os pais — principalmente as mães — por terem que dividir a atenção com o trabalho.

O que dizem os especialistas?
Os especialistas apontam para muitos fatores que antes eram desconhecidos: com os devidos cuidados, a taxa de transmissão da Covid-19 nas escolas é relativamente baixa, especialmente entre os alunos mais jovens; as crianças infectadas tendem a apresentar sintomas leves; e medidas como uso de máscara, distanciamento social e boa circulação do ar são mais eficazes do que era pensado.

No entanto, isso não significa que escolas não tenham riscos. Em Israel, por exemplo, houve um novo surto de Covid-19 quando o distanciamento social não foi seguido nas escolas e a exigência do uso de máscaras foi relaxada.

Alunos e funcionários ainda correm o risco de pegar o vírus e espalhá-lo, principalmente para pessoas da família, que podem ser mais prejudicados por causa da idade e dos sistemas imunológicos comprometidos.

O Centro de Prevenção e Controle de Doenças da Europa (ECDC, na sigla em inglês) informou em agosto que as crianças representavam menos de 5% de todos os casos do novo coronavírus relatados nos 27 países da União Europeia e no Reino Unido. A ECDC afirmou que seria “improvável que [o fechamento das escolas] proporcionasse uma proteção adicional significativa à saúde das crianças”.

Que precauções estão sendo tomadas?
A França determinou que crianças desde os seis anos usem máscara. Anteriormente, o regulamento exigia o uso a estudantes a partir dos 11 anos.

Especialistas, no entanto, temem que apenas as máscaras não forneçam proteção suficiente, já que as crianças podem continuar se agrupando no refeitório durante o horário de almoço, quando as máscaras não são abaixadas.

— No momento, almoçar todos juntos em ambientes fechados com as janelas fechadas é um problema — disse HélèneRossinot, médica francesa especializada em saúde pública. — Propusemos que as refeições fossem servidas nas salas de aula e que não comessem todos juntos.

Abrir as janelas regularmente para permitir a entrada de ar fresco nas salas de aula também ajudaria a evitar a disseminação do vírus, segundo especialistas, mas isso ficará mais difícil com a chegada do inverno.

Já a Alemanha não introduziu nenhuma nova restrição nas escolas. As unidades de ensino são obrigadas a elaborar planos de segurança que incluem a abertura completa das janelas pelo menos uma vez durante o período de aula, repetindo isso durante os intervalos para garantir a ventilação, mesmo quando os alunos estão usando máscaras.

Ainda foi recomendado que as escolas exijam o uso de máscara quando funcionários e estudantes estiverem nos corredores e que alunos mais velhos a utilizem na sala de aula. Além disso, o número de pessoas dentro da sala deve ser reduzido para que elas possam se sentar mais afastadas.

O que pais e professores pensam?
A Europa tem tido pouca resistência à abertura das escolas, tanto por parte dos pais como dos professores. Em geral, a presença é obrigatória e o ensino à distância não é uma opção.

Enquanto muitos pais ficam aliviados por ter seus filhos na escola, outros temem que seus filhos estejam sendo forçados a enfrentar riscos excessivos. Na França, professores temem o uso obrigatórios de máscaras não sejam suficientes:

— Precisamos reduzir o número de alunos mudando para o ensino híbrido — disse Guislaine David, secretária-geral do sindicato de professores SNUipp, na região do Sena Marítimo, à emissora France2.
Já na Alemanha muitos professores temem que a vontade do governo de manter as escolas abertas prevaleça mesmo em regiões onde autoridades de saúde recomendam o ensino à distância por causa da alta taxa de infecção.
— Dizemos que sim, mantenha as escolas abertas e siga as regras para conter os níveis de infecção — disse Heinz-Peter Meidinger, presidente da Associação Alemã de Professores. — Mas não mantenha as escolas abertas a qualquer custo.

Por O Globo