O ano letivo está perdido para o coronavírus? Claudia Costin diz que não

Publicado por Sinepe/PR em

Claudia Costin nunca trabalhou tanto quanto nas últimas semanas. “Nem no Banco Mundial, nem quando fui ministra”, ressalta a diretora do Centro de Excelência e Inovação em Políticas Educacionais da FGV – e, como lembrou, ex-diretora de educação do Banco Mundial e ministra da Administração e Reforma no governo FHC.

Por obra do coronavírus, Costin está em casa, de quarentena e mega requisitada. Ela participa de pelo menos dois webinários internacionais por semana, faz mentoria para três secretários estaduais de educação, 50 secretários municipais e outros tantos diretores de escola. E ainda concede entre-vistas, muitas entrevistas por vídeo ou telefone, desde ao Jornal Nacional até a este portal Desafios da Educação.

A pauta do momento é o retorno às aulas presenciais: quando isso vai acontecer? Como Costin, outros educadores e especialistas da área da saúde tentam resolver esse enigma.

A única certeza é que o plano incluirá medidas sanitárias e de distanciamento físico. “Esse é um ponto que a educação não estava acostumada. Precisaremos estabelecer cuidados necessários de higiene, de medição de temperatura corporal, evitar aglomerações”, elenca.

Até aqui, o Brasil adotou estratégias diferentes para não prejudicar o ano letivo. Governos e redes de ensino promovem aulas online (aos que tem acesso à celular e internet), aulas pela televisão e mesmo atividades impressas enviadas a farmácias, supermercados ou fixadas nos muros da escola.

Já o retorno deve ser gradual, por séries, e conforme o status de saúde de cada região. “Se houver grande concentração do vírus numa área, é possível demorar mais para a retomada e avançar o atual ano letivo em 2021“, explica Costin.

Então 2020 não está perdido para o coronavírus?
De jeito nenhum, segundo a ex-ministra. Todavia, para cumprir as 800 horas/ano exigidas pelo MEC, provavelmente será necessário usar os sábados e, eventualmente, uma ou duas horas a mais de aula por dia.

Uma mensagem aos pais
Eu comentei com Claudia Costin que recebemos muitas mensagens de pais ansiosos e inseguros, dispostos inclusive a tirar as crianças da escola. E assim permanecer pelo resto do ano, alegando duas razões compreensíveis.
Uma é o medo da criança se contagiar com um vírus que ceifou mais de 300 mil vidas no planeta. Não temos vacina; não temos testes suficientes para saber se as crianças (e suas famílias) estão contaminadas.

A segunda razão é financeira: há famílias, com filhos matriculados em escolas particulares, onde o dinheiro minguou e a inadimplência virou realidade. Além disso, muitos ainda não engoliram o ensino remoto emergencial. O debate em torno da redução das mensalidades é decorrência disso.

Tirar crianças e jovens da escola é ilegal, como explicamos em outro texto – Posso tirar meu filho da escola devido à pandemia e matriculá-lo somente em 2021? “Essa ideia parece mais um desa-bafo do que uma decisão consciente”, diz Claudia Costin.

Claro, o ano letivo de 2020 passará por ajustes; o currículo será enxuto. É improvável, por exemplo, que os alunos tenham contato com tudo o que foi planejado na BNCC.

Enquanto isso, Costin tem uma mensagem aos pais. “É importante considerar que os professores não foram preparados para enfrentar uma pandemia”, diz. “Então os pais têm que ter um pouco mais de paciência. Em casa, a hora é de apoiar as atividades da escola, mas também aproveitar para brincar, contar histórias da família, ensinar a cozinhar e a realizar pequenas tarefas domésticas, de acordo com a idade.”

Ela continua: “Os pais não são professores. Assim como fazer um curativo no filho não te faz médico, ajudá-lo nos estudos durante a pandemia não te faz professor. Vocês são, sim, educadores, porque transmitem valores e conversam com as crianças. Mas não é seu papel dar aulas. Na dúvida, consulte a escola agora ou depois que as atividades retornarem”.

“E quando será isso – o retorno do ano letivo?”, insisti.

Na rede pública, segundo Claudia Costin, antes da retomada seria importante preparar um plano para medir o déficit de aprendizagem dos que não estão estudando em casa. Ela cita o exemplo do Maranhão. “O estado organizou uma avaliação para todos os alunos no retorno, e assim saber quem precisa de um reforço na área de aprendizagem.”

Na França as aulas recomeçaram pela pré-escola. Em Portugal, pelo secundário. Em outros países há um ensino híbrido, um revezamento da aprendizagem entre a escola e a casa do aluno. “Precisaremos continuar nessa aprendizagem emergencial até haver condições de segurança co-mo se tinha antes”, diz Costin. Que essa condição chegue logo.

Por Desafios da Educação