“Não acredito que vou dizer isso, mas quero voltar à escola”

Publicado por Sinepe/PR em

“Não acredito que vou dizer isso, mas quero voltar à escola”, respondeu uma das crianças ouvidas pelo The New York Times. O jornal queria saber o que os estudantes achavam de aprender em casa. Apesar de concordarem que o ensino remoto é a melhor solução devido à pandemia, a maio-ria reclamou que em casa o tédio é maior. E a vontade de voltar à escola e ver os amigos também.

Inspirada na publicação do Times, o portal Desafios da Educação ouviu crianças de quatro cidades do Brasil para saber como elas avaliam a experiência de estudar em casa todos os dias. Isto é o que elas disseram.

Nervosismo e falta de concentração
Giulia Pompermaier Kertész, 13 anos, está na 8.ª série. Ela acorda diariamente às 7h30. Lava o rosto, toma café e se senta para assistir a aula online. É o início de sua luta contra as distrações.

Para não cair no sono ela liga as luzes do quarto. Para manter o foco nos estudos, desliga a TV e o computador (ela estuda pelo iPad). Para aliviar o nervosismo e a tensão, Giulia liga para as amigas. “Ficamos conversando sobre as atividades, e assim não me desconcentro”, conta.

Giulia explica que, quando as aulas remotas começaram, ela demorava muito para concluir as tarefas. Isso a deixava nervosa e com medo de perder nota. O excesso de tarefas e o curto prazo para enviá-los é algo que ainda perturba a estudante do Colégio La Salle, instituição privada de Ca-noas, região metropolitana de Porto Alegre (RS).

A escola já utilizava a plataforma Google Classroom para enviar algumas atividades para os alunos. Mesmo assim, Giulia sofreu com a adaptação ao novo modelo. “No início, o meu sono ficou desregulado, eu não conseguia me concentrar, não aprendia direito, ficava nervosa e ansiosa”, afirma. As coisas estão melhores, mas a estudante do La Salle se diz ansiosa para voltar à escola. “Sinceramente, prefiro as aulas presenciais”.

“Quero abraçar minhas amigas”
Isadora Micael Leichtweis, 11, reclama do isolamento. “A pior parte é ficar em casa sozinha. Eu só participo das aulas online, fico no celular, assisto TV ou faço alguns desenhos. Não tem mais nada para fazer”, reclama. Ela sente falta das amigas e quer reencontrá-las o mais rápido possível. “Quando eu voltar à escola, quero abraçar minhas amigas e papear bastante. Vai ser muito legal.”

Isadora é aluna da 6.ª série e mora na cidade gaúcha de Campo Bom. É a mesma cidade onde vive sua prima Luiza Leichtweis, 13. Elas são alunas da escola Santa Teresinha, que desde o início do confinamento liberou atividades e conteúdos pela internet.

“Apesar de termos muitas atividades, as aulas não são difíceis”, diz Luiza. No entanto, ela se preocupa com as avaliações. Está ansiosa para saber as notas finais do boletim. “A primeira coisa que irei fazer é perguntar como irá ser as provas deste ano, depois quero conversar com os meus amigos” confessa.

Luiza, que está na 8.ª série, sente falta dos professores, dos colegas e dos treinos que tinha no período da tarde. Quando soube da suspensão das aulas presenciais, que a princípio era de 15 dias e já dura quase dois meses, ela ficou feliz. Mas, agora, não vê a hora de voltar à velha rotina.

Mãe e professora: excelente ajuda
O sentimento de felicidade logo que as aulas presenciais foram suspensas também pertenceu à Maria Cecilia Peres de Miranda, 12 anos. Estudante da 7.ª série do Colégio Clarice Lispector em Rolim de Moura (RO), Maria Cecilia conta que o tédio é seu pior adversário. O tédio e o sono.

Mas ela tem uma certa vantagem: sua mãe é professora. Então quando alguma dúvida surge, Maria Cecilia imediatamente recorre à pedagoga Ana Claudia.

“Quando a Maria Cecilia estava em fase de alfabetização, fiquei um período em casa, fora do trabalho. Em questão de duas semanas no máximo, ela já estava lendo e escrevendo – sendo que na escola ela estava com dificuldade. Então, o fato de eu ser professora facilita a aprendizagem re-mota dela”, diz a mãe.

Saudades da matemática
Apesar da suspensão das aulas começarem do meio para o fim de março, foi só recentemente que a escola municipal Maria Pastana Menato, em Ribeirão Pires (SP), iniciou as aulas de forma remota. Nesse período, Tiago de Carvalho Estrada, 12, que está na 7.ª série, diz que sentiu muita falta das aulas de matemática.

Ele conta que as aulas online são mais explicativas e que não tem muitas atividades, o que tira um pouco do seu foco. “Não é difícil, mas as aulas presenciais são mais legais. Existem poucas coisas para desviar a minha atenção,” afirma Tiago.

Para ele, a pior parte do isolamento – além da saudade das aulas de matemática – é a falta de contato com os amigos e de conversar com eles. Mas garante: quando as coisas voltarem ao normal, as conversas não serão durante a aula.

Por Desafios da Educação