Escolas investem para inovar na educação virtual

Publicado por Sinepe/PR em

FGV lança laboratório em parceria com a Microsoft e Escola de Negócios e Seguros investe R$ 1 milhão em sala virtual

Duas escolas de negócios brasileiras tiraram do papel projetos planejados desde o ano passado para criar ambientes de educação virtuais e reformular completamente o formato de ensino on-line que já ofereciam.

A Fundação Getulio Vargas (FGV) inaugurou no fim de março um laboratório virtual em parceria com a Microsoft. A solução já começou como uma alternativa para dar continuidade às aulas presenciais, interrompidas devido ao coronavírus, e está sendo aplicada, inicialmente, para cerca de 400 alunos do MBA de Big Data, de data science e para uma parcela do mestrado e doutorado em SP, Rio e Brasília.

Já a Escola de Negócios e Seguros (ENS) prepara o lançamento, no início de maio, da “Sala do Futuro”. O espaço físico, que será aberto na Rua Augusta, em São Paulo, abrigará telas em alta resolução para receber 40 alunos remotos e até 30 presenciais.

A ENS investiu, até o momento, R$ 1 milhão no projeto, que é realizado com a espanhola Mashme e a Samsung SDS. Devido a situação de pandemia, as aulas começarão com todos alunos on-line. À frente do projeto está Tarcísio Godoy, ex-presidente do IRB Brasil RE, do Brasilprev, ex-diretor geral do Bradesco Seguros e secretário executivo do Ministério da Fazenda em 2015 e 2016.

Godoy, diretor geral da ENS, diz que a ideia da “Sala do Futuro” veio após uma pesquisa sobre soluções de educação a distância, usadas atualmente em universidades estrangeiras, particularmente, Oxford e Stanford. “O diferencial da ‘Sala do Futuro’ é a experiência de ensino que ela cria. É uma nova proposta pedagógica”, diz Godoy, defendendo que as telas em alta resolução, a tecnologia que mitiga o delay que costuma existir na comunicação remota e o sistema de reconhecimento facial permitem uma nova forma de colaboração, ensino e aprendizagem.

“O professor vai conseguir reconhecer as feições dos alunos, entender se a dinâmica da aula está boa e até receber um feedback melhor a respeito da aula”. O conteúdo das aulas seguirá o mesmo já entregue, que não se restringe ao ensino técnico da dinâmica que rege um seguro em si: de empreendedorismo, apólices, passando por compliance e gestão de projetos. Em termos práticos, a tecnologia permitirá, por exemplo, que os alunos “visitem”, de forma virtual, uma plataforma de petróleo até conheçam o escritório de um regulador. O ambiente é acessado pelos alunos por meio de um link dedicado de 200 MB. Tudo é controlado por um servidor local e o restante em nuvem.

A computação em nuvem também viabiliza o laboratório virtual lançado pela FGV. Segundo João Lins, diretor do FGV In Company, a solução da Microsoft disponibiliza recursos para um grande processamento de dados, por meio da criação de máquinas virtuais, que o aluno acessa remotamente, sem a necessidade de um equipamento potente em casa. “Eles podem fazer aplicações sofisticadas de big data com tablet”, diz Lins.

O engenheiro de equipamentos sênior na Alta Tensão Light, Marcos Paulo Barcellos de Morais, disse que a solução “funcionou bem” e que ele conseguiu até acompanhar a aula projetando os slides e explicações em sua televisão de casa. Aluno do curso de big data, ele diz não ter sentido prejuízo na absorção do conhecimento. Já o executivo Irani Barbosa Junior, gerente de Cash Management no Banco do Brasil, não teria como se formar no MBA de Big Data se não tivesse acesso ao laboratório virtual. Residente em BH, ele viajava a cada quinze dias para o campus da FGV no Rio de Janeiro. “Quando a pandemia começou e eu continuei pegando avião, ficava apavorado de me contaminar e trazer o vírus para casa, onde mora minha mulher e meu filho”, diz.

Além da segurança, Irani relata que as ferramentas de interação usadas dentro do ambiente de laboratório virtual estimularam a maior colaboração entre alunos e com o próprio professor. “Eu ouvi perguntas que as pessoas, inclusive eu, talvez tivessem vergonha de fazer em uma aula presencial”. O que o executivo Marcos de Morais avalia, porém, é que o laboratório virtual pode funcionar como uma “solução mista” e não “única de ensino”. “Acho que não substitui o encontro presencial com os colegas, o bate papo que temos ao almoçar e tomar café nos intervalos. Esse networking é importante e dificilmente é criado da mesma forma on-line”, diz.

Tanto a FGV, quanto a ENS, afirmam que pretendem compartilhar conhecimentos dessas experiências com outras instituições. Até porque, segundo Godoy, essa solução de ensino a distância, do modo como foi formatada, não é “de massa”. “A sala do futuro é para ganharmos aprendizado para levar a experiência a um volume maior de pessoas”, afirma.

Por Valor Econômico