7 dicas para trabalhar a interdisciplinaridade no Fundamental 1

Publicado por Sinepe/PR em

Entenda como é possível desenvolver esse tipo de aula e conheça um projeto interdisciplinar que venceu o Educador Nota 10

O tema da interdisciplinaridade – desde a sua origem no século passado até hoje – está presente em diferentes momentos que envolvem a prática escolar. Com o passar do tempo, permitiu-se rever e aprofundar ideias, porém, em alguns momentos, o assunto acaba ficando somente no campo das discussões para muitos profissionais. Mas por quê?

Para responder a essa questão é preciso retomar o seu significado, procurando entendê-lo com o olhar para a Base Nacional Comum Curricular (BNCC) e das novas demandas do século XXI.

Entendendo o que é
Em termos gerais, a interdisciplinaridade é quando dois ou mais componentes curriculares relacionam seus conteúdos para aprofundar um conhecimento, superando a sua visão fragmentada e recuperando, assim, a integração dos saberes.

Antes, havia uma visão equivocada que trabalhar interdisciplinarmente era usar o mesmo tema em todos os componentes curriculares. Por exemplo: pensava-se que trabalhar o sistema solar, de forma interdisciplinar, era possível apenas usando os planetas na criação dos problemas em Matemática e propondo desenhos para Arte. Era uma interpretação equivocada (como tantas outras). Talvez, por isso, tenha ficado tanto no campo das discussões.

Sabemos hoje que a interdisciplinaridade não é isso. Pelo contrário, ela é uma forma de encontrar conexões entre as disciplinas para se estudar um tema de interesse com o objetivo de responder aos questionamentos suscitados por ele, criando um significado para a aprendizagem. Para isso, as diferentes áreas do conhecimento ajudam a buscar as respostas.

É por esse viés que esse conceito dialoga com a BNCC e as Competências Gerais de aprendizagem ao longo do percurso escolar. Ou seja, a visão interdisciplinar permite entender a realidade, investigar, levantar hipóteses, defender ideias, respeitando a si e ao outro, contextualizando a aprendizagem com as necessidades e interesses dos alunos, favorecendo a tomada de decisões pautadas na ética.

Como colocar em prática
Colocar a interdisciplinaridade em prática necessita, em primeiro lugar, que a escola possa criar momentos de interações e trocas entre os professores e as equipes gestoras. Assim, haverá espaço para discussão de ideias, da aplicação da prática, instaurando um diálogo institucional e pedagógico dentro do espaço escolar.

Tais momentos implicam em discussões e reflexões para buscar experiências exitosas, que contribuirão para a ressignificação da prática.
Esse cenário levará o professor – pesquisador de sua prática- a buscar os melhores caminhos com sua turma para planejar boas estratégias, exercitando assim a interdisciplinaridade.

Um desses caminhos é o uso das metodologias ativas que são práticas que colocam o aluno como protagonista do processo de ensino e aprendizagem.

Uma delas é a aprendizagem baseada em projetos na qual os alunos têm um problema a resolver, partindo de questões elaboradas pela turma. Juntos levantam hipóteses, buscando diferentes meios para se chegar ao produto final.

Trabalhar com projetos permite envolver diferentes áreas do conhecimento e requer colocar em prática a observação, a escuta, a pesquisa, a construção do percurso com os alunos.

Como fazer no Fundamental 1
O professor do Fundamental 1 tem o privilégio de exercitar esse olhar com sua turma. Conseguindo enriquecer cada vez mais sua prática, pois sozinho trabalha de forma integrada com todas as áreas do conhecimento. Além disso, não tem a necessidade de fragmentá-las como ocorre com o Fundamental 2 pela sua especificidade.

Algumas dicas para exercitar esse olhar:
• Estar atento às falas dos alunos. Isso possibilita fazer bons questionamentos aguçando ainda mais a curiosidade sobre um determinado tema, que poderá se transformar em um projeto;
• Apresentar os conteúdos por meio de perguntas desafiadoras como “por que chove granizo?”. As respostas podem desencadear várias propostas envolvendo não só Ciências, como Língua Portuguesa e Artes;
• Fazer um bom planejamento das sequências de atividades que abarcarão tanto o projeto ou mesmo o tema, procurando envolver a turma nos diferentes momentos;
• Ensinar os alunos a pesquisar. Mostrar como utilizar as diferentes ferramentas disponíveis no computador e como elas contribuem para desenvolver o protagonismo da turma no que se refere a integração dos diferentes saberes;
• A avaliação constante – envolvendo os alunos e o professor – é o caminho para possíveis redirecionamentos ou mesmo seguir com o planejado;
• O olhar atento do professor em todos os momentos permite perceber as facilidades e dificuldades de cada um, adequando as propostas, organizando os grupos de trabalho ou mesmo as parcerias quando for o caso;
• Registrar o percurso é fundamental para a reflexão e o aprimoramento da prática. Isso pode ser feito por meio de fotos, gravações das aulas (áudio ou vídeo) e produção de narrativas de aulas.
Um olhar mais focado para a sua prática permitirá ao professor perceber que muitas vezes o viés interdisciplinar está presente nas suas propostas. É esse movimento de ação, reflexão, ação juntamente com a retomada da teoria a respeito que ampliará seu campo de visão e permitirá aprimorar seu fazer pedagógico.

Um exemplo entre tantos
Olhando sob esse aspecto lembraremos de muitos projetos colocados em prática. Relembro aqui aquele que me deu o Prêmio Educador Nota 10, em 2016, o Mapas do Tesouro que são um tesouro, com uma classe de 1.º ano.

Nele o produto final era construir um mapa para que os alunos do 2.º ano encontrassem um tesouro escondido em um lugar da escola. Para isso foi preciso utilizar outros componentes curriculares como a Geografia e a Língua Portuguesa, além da Matemática que trabalhou a noção de espaço e de grandezas e medidas.

Todas essas disciplinas juntamente dos jogos, brincadeiras e os recursos da cultura digital, permitiram que as crianças pudessem ser protagonistas na construção dos muitos conhecimentos.

E na sua sala de aula, a interdisciplinaridade está presente no campo das ideias ou já ganhou destaque na sua prática pedagógica?

Um abraço e até a próxima,
Selene
Selene Coletti é professora há 39 anos na rede pública. Atua na Educação Infantil e foi alfabetizadora por 10 anos tendo trabalhado do 1.º ao 5.º ano. Recebeu, em 2016, da Fundação Victor Civita, o Prêmio Educador Nota 10 com o projeto “Mapas do Tesouro que são um tesouro”, na área de Matemática. Foi diretora de escola e recebeu, em 2004, o Prêmio “Gestão para o Sucesso Escolar”, do Instituto Protagonistes/Fundação Lemann. Atuou como coordenadora do Núcleo de Formação Continuada do município. Atualmente é formadora da Educação Infantil, na Prefeitura de Itatiba.

Por Nova Escola