Desafios para a educação

Publicado por Sinepe/PR em

Entrevista com Ademar Batista Pereira

O ano de 2019 começou movimentado para a educação. Com o novo governo, uma série de mudanças prometem alterar os rumos do ensino no Brasil. Por isso, nesta edição do Boletim Especial do Sinepe/PR, conversamos com o presidente da Federação Nacional das Escolas Particulares – FENEP, Ademar Batista Pereira, que traçou um breve panorama do atual cenário educacional brasileiro – e de que forma estas mudanças e novidades podem causar impacto nas instituições de ensino privadas.

Professor de matemática, especialista em administração, gestão de pessoas e psicologia do trabalho, o Prof. Ademar é educador e empresário da área há mais de 30 anos. Exemplo e referência quando o assunto é gestão educacional, o professor iniciou suas atividades na diretoria do Sinepe/PR em 2000, foi presidente do Sindicato entre os anos de 2008 a 2012 e, desde então, sempre esteve envolvido em uma série de ações e atividades em prol de uma educação brasileira de qualidade. Na entrevista abaixo, o Prof. Ademar compartilha um pouco de sua experiência e fala também sobre a proposta da FENEP de trazer para a realidade nacional o PISA for Schools.

Sinepe/PR – 2019 está sendo um ano de muitas mudanças para a educação. Quais os principais desafios e expectativas para a área?

Prof. Ademar – A educação precisa de estabilidade e pensamento de longo prazo. Nos últimos anos, não temos nada disso. Temos as questões educacionais como BNCC e Novo Ensino Médio, que requerem um novo olhar das escolas. Temos as questões trabalhistas, onde a reforma trouxe alguns avanços. Porém, a luta de vida ou morte da escola se dará, sem dúvida, com a reforma tributária, pois corremos o risco de ter um aumento significativo de impostos, o que seria mortal para o setor. No ensino superior, temos uma grande dificuldade no ingresso, especialmente pela crise econômica, com suas consequências – briga nos preços e concorrência muito acirrada, por exemplo – levando à atitudes predatórias de algumas instituições. Ainda no ensino superior, temos um grande avanço no ensino a distância, que requer grandes investimentos, porém os preços são muito menores. Teremos tempos difíceis.

Sinepe/PR – Com as diversas novidades – como BNCC, reforma do Ensino Médio e homeschooling – afetam a educação e as redes de ensino particulares?

Prof. Ademar – Qualquer mudança de regra afeta a escola, pois precisamos de planejamento e tempo para implantar e formar profissionais, especialmente em mudanças importantes, como a nova Base. Além disso, a sociedade precisa entender e aceitar as mudanças, isso requer tempo e muito trabalho. Em relação ao homeschooling, penso que não deve afetar a escola particular, não de forma direta. Entendo que família e escola têm papéis distintos e que cada uma deve fazer sua parte de forma correta e satisfatória.

Sinepe/PR – E quais os impactos das reformas trabalhista, tributária e previdenciária para as instituições de ensino privadas?

Prof. Ademar – A previdenciária nenhum, já a tributária, como coloquei acima, será uma questão crucial para a sobrevivência das instituições particulares. Sobre a reforma trabalhista, ainda estamos ajustando tudo conforme as últimas regras – e deve vir mais por aí, mas penso que serão mudanças positivas para o setor.

Sinepe/PR – O que estas instituições precisam fazer para se adaptar e passar por essas mudanças da melhor maneira possível?

Prof. Ademar – Ficar próximas do seu sindicato. Somente unidos poderemos enfrentar os desafios que vem por aí. E serão muitos nos próximos anos.

Sinepe/PR – Qual a importância dos testes, exames e dos sistemas de avaliação em educação?

Prof. Ademar – Atualmente as avaliações tem um único propósito: fazer um ranking das escolas. Isso pode ser interessante para algumas instituições, mas não ajuda a melhorar o fazer educacional.

Sinepe/PR – O professor considera os sistemas atuais de avaliação do ensino brasileiro eficazes e suficientes?

Prof. Ademar – Os que temos avaliam pouco e não contribuem praticamente em nada para melhorias na educação, apresentando apenas um diagnóstico. O Enem (Exame Nacional do Ensino Médio) é o único que tem valor para o aluno – e todos deveriam ter.

Sinepe/PR – Recentemente, a FENEP fechou uma parceria com a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) para trazer o PISA for Schools para o Brasil. Como vai funcionar essa parceria?

Prof. Ademar – Realmente temos aí a oportunidade para realizarmos uma avaliação externa, reconhecida, que não fará ranking, mas que será útil para a escola examinar e aperfeiçoar seu trabalho.

Sinepe/PR – Como funciona e qual a importância desta nova avaliação?

Prof. Ademar – Ainda estamos finalizando a parceria, mas cada escola receberá seus resultados e ninguém mais saberá, ou seja, nenhuma escola terá conhecimento sobre qual foi o resultado do seu concorrente.

Sinepe/PR – Em que consistem as diferenças entre as avaliações realizadas pelo MEC/INEP e o PISA for Schools?

Prof. Ademar – Tecnicamente não existem diferenças – inclusive os resultados são comparáveis. Mas a escola particular que optar por fazer o PISA terá uma boa amostra do seu desempenho. Para o setor, teremos uma média da escola particular brasileira e poderemos comparar com todos os países que fazem o exame, bem como com os resultados globais do Brasil.

Sinepe/PR – Como as instituições de ensino poderão utilizar os resultados do PISA for Schools? De que forma a avaliação pode contribuir para o ensino privado?

Prof. Ademar – Ela receberá os resultados da sua escola, comparada com as demais instituições do Brasil e de demais países que realizaram o exame. Mas ninguém saberá quem fez o teste.

Sinepe/PR – Que futuro o professor consegue visualizar para a educação privada no Brasil? Qual a tendência para o segmento?

Prof. Ademar – A educação privada tem é muito futuro, o Brasil é grande e precisa de escolas que formem um cidadão 4.0. E a escola particular está preparada para enfrentar esse desafio.

Sinepe/PR – Que dica o Prof. poderia compartilhar com outros gestores de instituições de ensino particulares?

Prof. Ademar – Difícil tentar ensinar quem faz um ótimo trabalho, mas penso que as escolas brasileiras podem avançar em aproveitar a diversidade e integração entre elas, buscando mais sintonia entre a educação básica e o ensino superior. Um pensamento sistêmico do estudante que ingressa na educação infantil e estuda por 25 anos na rede privada. Precisamos avançar nesse pensamento sistêmico.

Para falar com o presidente da FENEP, Ademar Batista Pereira, entre em contato pelo e-mail ademar@escolaatuacao.com.br.