Burnout entre professores: precisamos falar mais sobre isso

Publicado por Sinepe/PR em

O termo burnout, do inglês, significa aquilo que deixou de funcionar por completa falta de energia. Simbolicamente, é aquilo ou aquele que chegou ao seu limite, com grande comprometimento físico ou mental. Essa definição parece ter sido feita para você, professora? Então fique conosco para entender mais.

A síndrome de burnout é um processo que se inicia com prolongados e excessivos níveis de estresse (tensão) no trabalho. Com essa definição, apresentada em uma revisão de literatura realizada por uma equipe de médicos do Hospital das Clínicas sobre o tema, vamos aprofundar os motivos pelos quais um dos principais públicos estudados quanto à prevalência da síndrome são os professores.

Estudos como o de Codo (1999), em saúde mental dos docentes realizado em 1440 escolas brasileiras apontam que 26% dos professores apresentavam a síndrome. A Organização Mundial de Saúde (OMS) delimitou quatro dimensões que devem servir como base para avaliar os fatores de risco para o desenvolvimento de burnout, dentre elas a organização e o indivíduo.

Fatores de risco para desenvolver burnout

Os principais fatores de risco ligados à organização são:

  • as burocracias (ou o excesso de normas)
  • a falta de autonomia
  • a falta de confiança, respeito e consideração entre os membros de uma equipe
  • a impossibilidade de ascender na carreira e de melhorar a remuneração.

Fatores que potencializam os riscos

É importante destacar os seguintes pontos ligados ao trabalho:

  • a falta de reconhecimento na carreira
  • o acúmulo de tarefas por uma mesma pessoa
  • o convívio com demais colegas afetados pela síndrome.

Já os principais fatores de risco vinculados às características de personalidade (ou do indivíduo), envolvem aqueles com traços excessivamente competitivos, perfeccionistas, pessimistas, controladores, passivos, exigentes ou com grandes expectativas ou idealismo em relação à profissão.

De acordo com uma revisão de literatura feita por Linda e Torsten Heinemann, a síndrome vem sendo estudada há cerca de 40 anos e o primeiro estudo acadêmico publicado sobre o tema foi de autoria de Herbert Freudenberger, em 1974. Segundo as autoras, durante esse período, o burnout comumente não era considerado um distúrbio mental, embora seja um dos temas relacionados à saúde mental mais discutidos na atualidade. Uma possível explicação é que a maioria das pesquisas sobre o assunto são focadas nas causas e nos fatores associados à síndrome e não no desenvolvimento de critérios específicos de diagnóstico, tornando o conceito de esgotamento físico e mental vago e ambíguo. Somado a isso, diversos pesquisadores sinalizaram a dificuldade em diferenciar depressão de burnout, impedindo que a última fosse de fato classificada como uma doença.

Exaustão emocional
A exaustão emocional é uma das principais características do burnout. Segundo definição da Organização Mundial de Saúde, abrange sentimentos de desesperança, solidão, depressão, raiva, impaciência, irritabilidade, tensão, diminuição da empatia, baixa energia, fraqueza, preocupação, cefaléias, tensão muscular e distúrbios de sono. A OMS defende que o esgotamento se refere especificamente a fenômenos relativos ao contexto profissional e não deve ser utilizado para descrever experiências em outros âmbitos da vida.

Os psicólogos Herbert Freudenberger e Gail North, publicaram um artigo contendo os 12 estágios da síndrome de burnout. São eles:

  1. Necessidade de demonstrar o próprio valor: o indivíduo sente que precisa se afirmar e provar que é capaz de fazer o que está sendo exigido com excelência. Aceita prontamente qualquer desafio relacionado ao trabalho;
  2. Dedicação intensa: no segundo estágio, a pessoa apresenta dificuldades em se desligar das tarefas, trabalhando além do expediente, checando e-mails e mensagens além do necessário, e dedicando os finais de semana ao trabalho mesmo que não seja propriamente exigido;
  3. Descaso com as próprias necessidades: no terceiro estágio, observam-se alterações no sono e na alimentação e comprometimento da vida social, já que tempo para o lazer e para estar com pessoas queridas se tornam prioridades secundárias em nome do trabalho;
  4. Fuga de conflitos: aqui, a pessoa percebe que há algo errado com ela, porém evita tomar qualquer atitude. São comuns as sensações de ameaça, medo e agitação;
  5. Reinterpretação de valores: no quinto estágio, o único foco é o trabalho. As atividades de lazer são vistas como irrelevantes, assim como os momentos com a família e amigos;
  6. Negação dos problemas: o indivíduo se torna cada vez mais intolerante e vê os colegas de profissão como incompetentes e preguiçosos. Há ainda maior diminuição da vida social. É comum apresentar aumento na agressividade e os problemas são vistos pela pessoa como causados exclusivamente pela falta de tempo, pressão e excesso de trabalho, sem considerar as demais mudanças ocorridas na vida;
  7. Isolamento social: muitas vezes, a vida social se torna inexistente ou extremamente restrita. As demandas de trabalho são feitas de forma automatizada e a necessidade de relaxar por conta do estresse pode levar ao uso abusivo de álcool, medicamentos e outras drogas;
  8. Mudanças de comportamento: a pessoa apresenta alterações de comportamento facilmente notadas por familiares e amigos. Pode começar a tratar mal pessoas que antes eram próximas;
  9. Despersonalização: já nessa fase, a pessoa tem dificuldade em enxergar valor em si própria e nas próprias necessidades, bem como nas demais pessoas ao seu redor;
  10. Vazio interior: com a sensação de vazio, é comum que a pessoa tente superar essa sensação cometendo excessos (como de comida, por exemplo);
  11. Depressão: a vida parece não ter mais sentido e o indivíduo se sente inseguro e tem dificuldades de vislumbrar perspectivas para o futuro;
  12. Esgotamento ou Síndrome de burnout: nesse estágio, a pessoa se sente em estado de colapso físico e mental.

É importante ressaltar que os estágios devem ser vistos como um indicador de sinais que merecem atenção, já que alguns indivíduos passam por todas as etapas em diferentes ordens, enquanto outros somente passam por algumas. Mais importante ainda é ressaltar que tais estágios não sejam vistos como critérios de auto-diagnóstico, e sim como um sinal que é preciso recorrer às pessoas que trazem segurança e buscar assistência médica e psicológica rapidamente. Além disso, se houver abertura e espaço de confiança, conversar com os gestores da escola sobre o que está acontecendo para obter ajuda.

Muitas vezes, estamos tão imersos em nossas rotinas na escola que não nos damos conta desse processo até que cheguemos ao completo esgotamento e a recuperação pareça muito difícil.

Um fator de proteção eminente, além dos aspectos preventivos, é que os professores e gestores estejam atentos uns aos outros fortalecendo a rede de apoio e o olhar atento na profissão.

Por Ana Carolina C D’Agostini – Psicóloga e pedagoga com formação pela PUC-SP e mestre em Psicologia da Educação pela Columbia University. Trabalha como consultora de projetos em competências socioemocionais e é consultora do projeto de Saúde Emocional da Nova Escola.

Fonte: Ana Carolina C D’Agostini – Nova Escola
Data: 29/05/2019