Pais apostam em aplicativos de monitoramento dos filhos na web

Publicado por Sinepe/PR em

Luiza Mendonça tem dois filhos, uma menina de 12 anos e um menino de dois anos. Ao dar um celular para a mais velha, a psicoterapeuta estava com receio. “Fiquei bem preocupada com o tempo que ela passaria no smartphone. Tinha aquela dúvida se deveria, por exemplo, bloquear ou liberar as redes sociais, enfim, essas preocupações de mãe”, declara.

Para conseguir relaxar com a situação, ela decidiu criar um aplicativo de monitoramento, o AppGuardian.

Ele é capaz de controlar a utilização dos aparelhos acessíveis a criança, bloqueia aplicativos, como joguinhos e redes sociais, define o tempo que o usuário passa no celular, bloqueia qualquer conteúdo adulto, mostra o histórico de navegação em tempo real e entrega aos pais uma espécie de relatório sobre o tempo que as crianças passam em cada app do celular como YouTube, Whastapp, Netflix e etc. E a localização dos filhos que estão com os aparelhos também fica em evidência.

“Como mãe eu me sinto mais tranquila utilizando o app, pois posso verificar quanto tempo a Bia fica no YouTube, por exemplo e, gerando até mais interação entre nós: conversamos sobre os seus vídeos e youtubers preferidos entre outros assuntos que pairam o mundo teen. O limite é o que é saudável para cada família dentro do seu contexto de regras, cultura e convivência. É uma linha tênue entre proibição e comunicação”, relata Luiza Mendonça.

Na opinião do neuropsicólogo Fábio Roesler, o uso de aplicativos para monitoramento dos filhos, uma espécie de ‘aplicativo espião’, responde a um processo de superproteção e de controle excessivo dos pais. “A experiência clínica mostra que são raros os casos nos quais esse controle é feito de forma a conduzir os filhos a própria noção de responsabilidade e manejo individual do seu próprio tempo”, avalia.

Sobre a exposição das crianças a jogos online, a psicóloga Edyleine Bellini Peroni Benczik ressalta que existem alguns benefícios e ganhos cognitivos, como desenvolvimento das habilidades de atenção, funções executivas e raciocínio em função dos desafios propostos. No entanto, segundo ela, há alguns riscos: “O uso abusivo dos jogos online pode trazer várias consequências como obesidade, baixo desempenho escolar, inabilidade social, baixa tolerância à frustração, irritabilidade, distúrbios do sono, problemas de relacionamento e nas interações sociais e familiares, depressão, sensação de vazio emocional, ansiedade. E, em última instância, [essas crianças] poderão desenvolver o transtorno de dependência de jogos”.

Os filhos, por vezes, também ficam expostos ao farto conteúdo adulto, que parece driblar uma série de dispositivos de segurança. O neuropsicólogo Fábio Roesler analisa: “A exposição a pornografia envolve aspectos relacionados a futura escolha de objetos sexuais e como lidar com eles. É difícil dizer se essa exposição precoce pode causar alguma espécie de trauma. Essa avaliação teria que ser feita individualmente. A história de vida da criança e a forma como a sexualidade é tratada na família vai ser fundamental”.

Dicas para os pais
Uma geração de pais de adolescentes e que não foi treinada para criar filhos com tantos estímulos oriundos da tecnologia começa a ter dificuldades para monitorar os passos deles e, ao mesmo tempo, respeitar a privacidade.

Para ajudá-los nesse desafio, relacionamos uma série de dicas para lidar com os filhos, com a ajuda da psicóloga especialista em Desenvolvimento Humano Edyleine Bellini Peroni Benczik.

  • Observar a frequência com a qual os filhos permanecem nos jogos;
  • Estipular tempo de exposição de acordo com a faixa etária, verificar o conteúdo e a qualidade com a qual os filhos estão tendo acesso;
  • Observar se o uso de jogos está prejudicando o sono, as atividades diárias, a rotina e as relações pessoais e familiares;
  • Propor outras atividades, procurar interagir com os filhos, fazer refeições à mesa, juntos e sem a presença de eletrônicos;
  • Instalar configurações de segurança, orientá-los a não postar informações pessoais e a não se expor em webcam;
  • Supervisionar com quem os filhos jogam em rede, monitorar se está em contato com conteúdos violentos, agressivos, se os grupos de jogos online são preconceituosos, discriminatórios ou opressores.

Uso da internet é discutido em escola
Em uma época em que a tecnologia é utilizada a serviço da educação e que é praticamente impossível controlar o uso dos celulares das crianças nas escolas, pais e professores discutem o assunto com os alunos.

No Colégio Humboldt, na capital paulista, os pais são convidados a participarem de uma série de rodas de conversas sobre o tema. “Uma das grandes preocupações em relação ao uso abusivo dos aparelhos eletrônicos é a perda do tempo ocioso. Ocupamos qualquer espaço de tempo checando nosso celular, seja no farol fechado, na fila do caixa, andando, na sala de espera, na manicure, academia e assim que acordamos. Poucos sabem da importância do tempo livre para o equilíbrio e desenvolvimento do ser humano. É no tempo ocioso que deixamos as ideias seguirem um fluxo livre de ordem racional, mas que atua como elaboração interna de situações, permite a introspecção e reflexão sobre si mesmo e o mundo”, afirma a psicóloga Karin Kenzler, orientadora educacional do Humboldt.

Em 2018, o colégio promoveu uma grande ação a respeito do uso das tecnologias. Para os alunos de 5.º ao 7.º anos, o tema foi ‘os perigos da internet – ora vítimas, ora infratores’. Os estudantes de 8.º e 9.º anos aprenderam sobre os riscos da demasiada exposição da intimidade e privacidade na web. Por fim, os adolescentes do 12.º ano discutiram sobre o comportamento digital de hoje e as consequências na vida pessoal e profissional no futuro.

“Educar para um uso adequado também é aprendizado para todos. Cuidar da linguagem, da impulsividade ao digitar, do horário de envio de mensagens, e principalmente do entorno enquanto se está usando o celular como: não usar quando outros esperam por sua atenção, na mesa durante refeições, falar em ambientes coletivos como elevadores e restaurantes, na terapia e sala de aula”, conclui Karin Kenzler.

Opções de aplicativos de monitoramento de filhos
Além do aplicativo AppGuardia, desenvolvido pela brasileira Luiza Mendonça, existem outros dispositivos para o monitoramento dos filhos. Confira:

  • Kids Place: aplicativo de controle parental e que bloqueia a tela inicial para que apenas aplicativos autorizados fiquem disponíveis para a criança;
  • WebWatcher: compatível para todos os dispositivos, o programa pode ser instalado em pouco tempo e é indetectável, assim, pais podem ter acesso a todo o conteúdo visto pelos filhos;
  • Norton Family Premier: o aplicativo oferece um teste gratuito por 30 dias, o que ajuda os pais a decidirem se querem comprar o app ou não. Ele é capaz de informar perigos potenciais, como a presença de hackers, com antecedência.

Fonte: Camila Tuchlinski – O Estado de S. Paulo
Data: 28/05/2019