Como a Inteligência Artificial vai colaborar para sua saúde emocional

Publicado por Sinepe/PR em

Algoritmo. Essa palavra pode assustar, trazendo a ideia que a tecnologia conseguirá nos conhecer e controlar em níveis mais profundos do que nós mesmos somos capazes. As inovações trazidas pelo avanço da tecnologia atingem todos os setores, desde as formas de contato mais básicas nas relações humanas até os sistemas educacionais e serviços de saúde. Em uma época em que professores brasileiros relatam grandes níveis de estresse, ansiedade, solidão e afastamento de suas funções por questões relacionadas à saúde mental, cabe refletir sobre o impacto dessa nova era digital na profissão e as possibilidades que a tecnologia apresenta para os cuidados relacionados ao bem-estar.

Segundo Ronaldo Casagrande, autor do livro Inteligência artificial e a educação além da curva, a inteligência artificial pode ser definida como um sistema computacional que simula a capacidade humana em resolver problemas. Pesquisas nessa área já estão tão avançadas que hoje um dos algoritmos – ou a sequência finita de ações para solucionar uma questão – de maior prestígio é denominado Redes Neurais Artificiais, já que tem a capacidade de, parcialmente, simular o funcionamento do nosso cérebro. Sabe-se hoje que os neurônios biológicos são de cinco a seis ordens de grandeza mais lentos que os neurônios eletrônicos, já que as sinapses – ponto de contato entre neurônios, onde ocorre a transmissão de impulsos nervosos de uma célula para outra – do nosso cérebro se dão por reações químicas enquanto que na rede artificial ocorrem por corrente elétrica. O autor apresenta que embora hoje em dia seja muito mais simples e rápido para uma máquina resolver problemas lógicos e complexos que envolvam padrões, é mais fácil para seres humanos perceberem as diferentes emoções nas pessoas. Logo, segundo o Paradoxo de Moravec, tarefas mais simples de seres desempenhadas pela inteligência humana são mais complexas para a inteligência artificial, e vice-versa.

O alemão Klaus Schwab, fundador do Fórum Econômico Mundial, foi o responsável por popularizar o termo Quarta Revolução Industrial ao lançar um livro em 2015 que leva o mesmo título e que defende que essa nova revolução, marcada pela inteligência artificial, vem transformando a maneira como a sociedade se relaciona, vive o cotidiano e produz. Segundo o autor, essa revolução pode ser benéfica se aceitarmos a responsabilidade coletiva em desenhar um futuro no qual a tecnologia e a inovação estão a serviço das pessoas.

O impacto na Educação
No campo da Educação, Casagrande pontua que historicamente a escola não costuma caminhar na mesma velocidade dos avanços tecnológicos e que as mesmas costumam estar atrasadas quando o assunto é uso da tecnologia de informação e comunicação no cotidiano escolar. Para ele, a escola não tem como ignorar a tecnologia dos ambientes de aprendizagem, já que a geração atual de nativos digitais carece de mudança nos modelos tradicionais de ensino que já não vistos como tão atraentes. O autor destaca também a importância que alunos e professores serem parceiros no uso da tecnologia.

Conforme apresenta o autor, algumas soluções e tecnologias voltadas para inteligência artificial já estão disponíveis ou prestes a serem lançadas no meio educacional. Dentre elas, destacam-se:

  • O chatbot, forma de comunicação à distância realizada de forma escrita que funciona como um assistente pessoal capaz de responder perguntas de maneira automática;
  • A Análise Preditiva, solução capaz de prever cenários futuros tais como a evasão de um aluno da escola por meio de uma base de dados históricos;
  • Tradução simultânea de voz para qualquer idioma, rompendo com a barreira de acesso a outros conteúdos produzidos em diferentes línguas;
  • Tutoria inteligente para auxiliar cada aluno de maneira individual em seu processo de aprendizagem.

Cuidados com a saúde emocional
De acordo com dados disponibilizados pela Forbes, aproximadamente 15,5% da população mundial é afetada por questões de saúde mental e, mesmo assim, mais de 50% dos casos continuam sem receber tratamento algum.

Frente a esse cenário de menor cuidado em relação à saúde, estão em alta os serviços categorizados como ICBT – Terapia Behaviorista Cognitiva pela Internet (em inglês, Internet Cognitive Behavioral Therapy). Tais tipos de terapia, muitas vezes disponíveis 24h por dia e 7 dias por semana, têm como foco a resolução de problemas e como um recurso na lida com questões emocionais. Seja por falta de tempo, recursos financeiros, falta de profissionais para atender toda a demanda nos serviços públicos de saúde, ou pelo estigma em procurar ajuda, muitos professores e educadores não recebem o apoio psicológico que necessitam. Assim, os serviços de ICBT se apresentam como mais uma possibilidade de cuidados em saúde mental.

Já estão disponíveis também serviços de informação e acolhimento que fazem uso de inteligência artificial via chatbots. Esses sistemas encorajam a gravação de áudios para falar sobre sentimentos e são capazes de mapear palavras-chave que possam indicar perfis de risco. Também já podemos contar com tecnologias capazes de reconhecer o que uma pessoa está sentindo a partir de sua expressão facial, aplicativos para diferenciar os principais quadros de saúde mental via interação com o indivíduo, e serviços personalizados com orientações e técnicas para redução de estresse e ansiedade.

A despeito da velocidade com que a tecnologia avança ou exatamente por essa razão, precisamos refletir sobre as mudanças em nossos hábitos trazidas pela era digital e sobre as alternativas para o que fazemos em sala de aula e os cuidados com nossa saúde emocional. O futuro é incerto, mas se não fizermos uma revisão constante de nossas práticas didáticas na escola e se questões de saúde emocional permanecerem sem atenção – e, pior, sem os devidos cuidados – permaneceremos no passado.

Por Ana Carolina C D’Agostini – Psicóloga e pedagoga com formação pela PUC-SP e mestre em Psicologia da Educação pela Columbia University. Trabalha como consultora de projetos em competências socioemocionais e é consultora do projeto de Saúde Emocional da Nova Escola.

Fonte: Nova Escola
Data: 22/05/2019