Sistema de educação da Finlândia pode servir de exemplo para o Brasil

Publicado por Sinepe/PR em

Nos últimos meses, os anúncios de cortes de orçamento no setor de educação e os protestos realizados por estudantes e trabalhadores da área levantaram a discussão sobre a melhor maneira de implantar um sistema educativo sustentável e de qualidade. Se pensarmos em um benchmark de qualidade e resultados, a Finlândia pode ser um bom exemplo para o Brasil. Além de contar com um dos melhores sistemas educacionais do mundo, segundo o Centro de Benchmarking de Educação Internacional, está entre os 15 países mais bem avaliados no Programa Internacional de Avaliação de Estudantes (PISA). Mas o que faz o país se destacar entre os demais?

O aspecto mais importante do sistema finlandês é que, por lá, a educação é um direto constitucional do cidadão. Por isso, o ensino é gratuito desde o ensino básico até a universidade. Os estudantes só precisam pagar pelo material escolar e transporte. E, ainda assim, o governo disponibiliza ajuda financeira para alunos com dificuldades.

Desde os anos 80, a educação é usada como ferramenta para eliminar a desigualdade social. Não existem rankings de escolas e universidades. Cada instituição tem a liberdade de seguir um modelo próprio de avaliação e de currículo.

Provas e testes são raros por lá. Ao final do ensino médio, os alunos passam pelo Exame Nacional de Matrícula, algo como o Enem da Finlândia. Só que, no caso do país escandinavo, as perguntas são dissertativas e multidisciplinares. Segundo Pasi Sahlberg, ex-diretor geral do Ministério da Educação da Finlândia, uma pergunta típica seria: “Em que sentido felicidade e bem-estar são conceitos éticos?”.

“Os alunos são regularmente solicitados a mostrar sua capacidade de lidar com questões variadas, como política, violência, guerra, ética nos esportes, sexo, emprego, dieta e música popular. Muitas vezes, as tarefas exigem conhecimentos e habilidades multidisciplinares”, disse Sahlberg ao Washington Post.

O modelo multidisciplinar de ensino faz parte de toda a trajetória do aluno. Em uma única aula, o estudante aprende uma variedade de habilidades e conhecimentos, discutindo temas abrangentes como União Européia, mudanças climáticas e comunidade.

Optativo e personalizado
O sistema educacional da Finlândia foi organizado para que o aluno não se sinta “preso”, cansado ou obrigado a frequentar a escola. De acordo com a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OECD), os alunos finlandeses são os que menos têm trabalho e lições em casa.

Eles também passam pouco tempo dentro da sala de aula. Embora um período normal vá das 9h às 14h, há intervalos a cada 20 minutos, quando podem comer, sair da sala de aula ou simplesmente relaxar.

O modelo educativo finlandês não é dividido entre básico, fundamental e médio, como o brasileiro. Em vez disso, segue uma estrutura obrigatória e única de nove anos, 190 dias por ano – abaixo dos 200 dias do ano letivo do Brasil.

As crianças só precisam começar a frequentar a escola a partir dos sete anos. Para os pais que querem começar mais cedo, o governo oferece um programa de “aprendizado por meio de brincadeiras”. Mas é preciso pagar uma taxa, baseada na sua renda mensal da família e no número de filhos.

A partir dos 16 anos, um aluno finlandês pode escolher se quer ou não continuar estudando. Mesmo assim, 90% dos alunos avançam para o chamado Ensino Secundário. Os outros 10% podem voltar a estudar quando quiserem.

O Secundário dura três anos e prepara o aluno para o Exame Nacional de Matrícula, necessário para quem quiser fazer faculdade. Durante essa fase, o estudante tem liberdade de montar o seu currículo. Ao final desse percurso, pode fazer o exame.

Professores bem preparados
Não é nada fácil se tornar um professor na Finlândia. Apenas um em cada 10 estudantes que se inscrevem em programas de formação de professores é admitido, de acordo com o Centro de Avaliação da Educação Internacional (CIEB).

Todos os professores, sejam de educação básica ou superior, precisam ter mestrado. 80% dos profissionais que lecionam no nível básico complementam seus estudos continuamente. Isso só é possível graças a um salário médio anual de US$ 43 mil – no Brasil, a média é de US$ 13.971, de acordo com relatório da OCDE.

Embora tenha um dos sistemas educacionais mais avançados do mundo, a Finlândia realiza reformas constantes – a mais recente foi em 2016. Segundo Kirsti Lonka, professora de psicologia educacional da Universidade Helsinki, o ensino precisa acompanhar um mundo em constante transformação. “No futuro, o aprendizado será feito por meio de projetos multidisciplinares, que terão como tema fenômenos complexos e servirão para desenvolver habilidades de resolução de problemas”, disse ao site Master Studies. Ela também acredita que as salas de aula vão se transformar, com a integração de novas tecnologias.

Fonte: Época Negócios
Data: 16/05/2019